"Too Mean to Die" é o disco que os Accept necessitavam para espicaçar a curiosidade dos velhos e novos fãs.

Editora: Nuclear Blast
Data de lançamento: 29.01.2021
Género: heavy metal
Nota: 4/5

“Too Mean to Die” é o disco que os Accept necessitavam para espicaçar a curiosidade dos velhos e novos fãs.

Há pelo menos uma coisa especial no heavy metal alemão, que é o som de marca: thrash metal, death metal, black metal e demais subgéneros que coabitam debaixo da enorme copa da árvore genealógica do metal. Cada um no seu galho, detêm uma marca identitária endógena que se traduz por um som mais abrasivo, pessimista e negro. Claro que também há bandas alemãs que são o exacto oposto, caso dos Helloween e, claro está, dos Accept, talvez a banda alemã de heavy metal mais influente do planeta.

“Too Mean to Die” vê os chanceleres do metal alemão regressarem ao pico da sua forma, algo a que já não estávamos habituados e cujo antecessor, “The Rise of Chaos”, foi mais uma confirmação da estagnação da fórmula dos Accept. Felizmente, o novo registo, o 16º da extensa carreira do (agora) sexteto, eleva a banda num degrau e tranquiliza os fãs que, no meio de uma tempestade pandémica, têm nele uma tábua de salvação para se agarrarem. A saída de Peter Baltes (baixo), talvez o único membro indispensável a seguir a Wolf Hoffmann (guitarra), o mentor dos Accept, poderia ter abanado a já relativamente frágil situação dos alemães, mas quase não se deu pela sua saída devido a um disco seguro e sólido que pode rivalizar facilmente com qualquer clássico dos germânicos.

“Too Mean to Die” começa de forma magistral com “Zombie Apocalypse” e o seu riff sacado a ferros dos anos 80. Tudo é clássico logo na primeira faixa: a voz, o tema social (que fala sobre a alienação e zombificação pela tecnologia), o andamento relativamente rápido para o género… Tudo nela dá vontade de ouvir a seguinte, o que significa trabalho bem feito. O tema-título também não desilude e é por músicas como esta que percebemos por que é que os Accept influenciaram bandas como Metallica, Slayer, Megadeth, Anthrax (só aqui já está o Big 4), Pantera, Guns N’ Roses e até bandas alheias ao metal, como é o caso de Soundgarden e Alice in Chains. A seguinte “Overnight Sensation”, que volta à carga contra as novas tecnologias, os likes e os influencers, tem seguramente a bridge e o refrão mais viciante de 2021 (estou a cantá-lo enquanto escrevo estas linhas): «Give me instant gratification, I’m an overnight sensation». Claro que as similaridades com os AC/DC e os W.A.S.P. no seu período áureo nesta música só ajudam.

“No One’s Master” volta a acelerar o conta-rotações e a entrar no campo do heavy metal tradicional, com mais um riff principal viciante e um refrão que fica no ouvido. “The Undertaker” abranda o passo e “Sucks to be You” repete a fórmula de “No One’s Master”, e é curioso verificar que, quando os Accept abrandam a velocidade, exceptuando nas baladas, o peso mantém-se. Entretanto, já passaram seis temas e todos os refrãos ou riffs entraram e ficaram. Poucos entendem a dificuldade que é fazer algo assim na actualidade. “The Best Is yet to Come” demonstra os baladeiros que os Accept conseguem ser e a final instrumental “Samson and Delilah” adentra pelo campo do metal épico, com direito a música erudita, recordando-nos que os Accept nunca saíram da primeira liga do heavy metal.

A produção do disco faz jus a essa primeira liga, tendo sido deixada a cargo de Andy Sneap num vai-vem remoto entre Nashville e o Reino Unido. O resultado é só perfeito, mesmo nas partes mais caóticas, em que se ouve tudo com uma clareza digna dessa liga. A parte menos positiva é mesmo essa perfeição, pois faz todas as suas produções soarem idênticas, mas já ouviram falar de uma equipa vencedora em constante mudança? Exacto. “Too Mean to Die” é o disco que os Accept necessitavam para espicaçar a curiosidade dos velhos e novos fãs e para os levar a marcar nas suas agendas uma das imensas datas da digressão mundial que este disco merece. Assim 2021 nos dê uma pequena ajuda.

Lê a entrevista aos Accept aqui.