Ivan Landgraf (Venomous): «A criação de “The Black Embrace” foi um processo muito intenso e turbulento»
Entrevistas 14 de Outubro, 2019 Jéssica Mar


A banda brasileira Venomous lançou oficialmente o novo álbum “The Black Embrace” no passado dia 9 de Outubro. O disco foi gravado no estúdio Dual Noise, em São Paulo (Brasil), com produção de Rogério Wecko e dos próprios Venomous, a arte e ilustrações foram produzidas por Ricardo Bancalero. Este é o segundo álbum da banda formada por Tigas Pereira (voz), Gui Calegari e Ivan Landgraf (guitarras), Renato Castro (baixo) e Lucas Prado (bateria). Os Venomous irão realizar a segunda digressão pela Europa, que terá início no dia 23 de outubro, passando por algumas cidades portuguesas.
A entrevista que se segue foi concedida por Ivan Landgraf.
«Se não estivéssemos muito focados e nos apoiássemos enquanto amigos, provavelmente o resultado não seria tão satisfatório como foi.»
Como foi o processo de criação do álbum?
A criação de “The Black Embrace” foi um processo muito intenso e turbulento. Partimos de certas expectativas e metas ambiciosas, saindo um pouco da nossa zona de conforto, passámos por mudança de baixista durante esse período. Se não estivéssemos muito focados e nos apoiássemos enquanto amigos, provavelmente o resultado não seria tão satisfatório como foi. Além disso, não teríamos terminado dentro do prazo. Estamos muito gratos a todos os que estiveram ao nosso lado e, principalmente, ao Rogério Wecko, que foi responsável pela captação, mistura e masterização do álbum.
“The Black Embrace” mostra uma evolução musical dos Venomous. Em que sentido achas que a banda amadureceu neste novo trabalho?
Não é algo simples reflectir sobre a própria evolução, mas é um exercício que realizamos individualmente e em conjunto, muitas vezes recebendo feedback de pessoas externas à banda. A experiência que adquirimos com a repercussão e a digressão do “Defiant” tornou-se muito presente na composição, arranjo e produção do “The Black Embrace”. Diria que, principalmente, o período que passamos longe de casa e os concertos ao lado de grandes nomes do metal mundial, como Max e Iggor Cavalera, Korzus, Jinjer, Vader e Tim ‘Ripper’ Owens, trouxeram muita inspiração e uma nova perspectiva em termos de interacção com a música e de grooves arrastados, cadenciados. Outro aspecto que, para nós, funcionou bem foi ter-se arriscado ainda mais nos arranjos, como, por exemplo, ao adicionar percussão, teclados e coros em algumas músicas, e buscar influências brasileiras de outros estilos, como o chorinho em “Heirs of a Dream”.
Em relação às letras do novo álbum, quais as principais inspirações?
As letras das músicas do novo álbum mantêm a identidade do que foi apresentado no primeiro disco, “Defiant” (2018), porém mostrando mais maturidade e profundidade nos assuntos abordados. Assim como em “A New Beginning”, por exemplo, a faixa “Event Horizon” exprime a ideia de que a humanidade se aproxima de um momento de colapso, cenário esse que muitas vezes relutamos a conceber, embora a chama da esperança se mantenha acesa nos nossos sentimentos e aspirações. Um assunto que permeia o álbum, como em “Black Embrace”, “Rise” e “Redemption”, é a luta e convivência com um dos grandes maus do Séc. XXI: a depressão. O conceito de ‘abraço negro’ partiu desse sentimento, envolvendo questões pessoais e perdas irreparáveis pelas quais passamos antes e ao longo do processo de criação do álbum. Este aspecto contrasta com a ideia aventureira de “Defiant”. Vale mencionar também duas músicas que se relacionam directamente com outras específicas do primeiro álbum: “Duality”, sucessora de “Trinity”, e “Heirs of a Dream”, sucessora de “Green Hell”, que mostram diferentes visões da nossa história.
Venomous está a tornar-se um grande nome do metal. Quais as expectativas da banda quanto a isso?
Tivemos a sorte de juntar cinco integrantes apaixonados por metal que, ao mesmo tempo, são os melhores amigos de longa data, todos com experiência de palco e composição de mais de 10 anos. Isto facilitou a simbiose de diferentes influências e estilos pessoais de cada um dentro do grupo. O foco e o trabalho árduo, assim como o planeamento, também são estruturas fundamentais do projecto diante de um meio musical tão desafiador quanto o metal, ainda mais tratando-se do Brasil, que envolve outras questões e outras barreiras. A nossa expectativa é alcançar o máximo possível de pessoas, que se identifiquem com a nossa proposta e a nossa filosofia. Esperamos que, acima de tudo, as pessoas entendam a mensagem que queremos transmitir.
Antes de lançarem o álbum, lançaram uma versão da música “Nothing to Say”, do clássico disco “Holy Land” (1996) dos Angra, para uma releitura ao lado das vocalistas May Puertas (Torture Squad) e Fernanda Lira (Nervosa) e do guitarrista Guilherme Mateus (Bruno Sutter). Qual foi o critério para terem escolhido essa música? E como aconteceu o convite para a participação desses grandes nomes do metal?
Uma das maiores inspirações para nós, no Brasil, sempre foi Angra e esse, talvez, tenha sido o principal motivo para escolhermos uma música deles para gravar. A ideia de fazer uma versão surgiu de forma espontânea para acompanhar o lançamento do nosso single “Black Embrace”. Queríamos uma música que fosse marcante para nós, e, ao mesmo tempo, uma influência no nosso som. “Nothing to Say” parecia a escolha perfeita. Depois da conclusão da parte instrumental, deparámo-nos com o desafio de interpretar as linhas de voz magníficas do, agora, saudoso André Matos, e queríamos chamar vocalistas dispostos a encarar de frente, com identidade e que trouxessem a característica do death metal (gutural) sem perder a essência melódica das linhas vocais. Ter a Fernanda Lira e a May Puertas nessa faixa parecia um sonho, que foi alcançado com a ajuda imprescindível do Ricardo Batalha (ASE Music), que também foi roadie dos Angra na digressão do “Holy Land” em 1996/97.
A banda já anunciou algumas datas da digressão europeia do novo álbum, e irão passar por Portugal. Podem deixar um recado para os fãs de Portugal?
Gostaríamos de dizer a todos em Portugal que estamos muito felizes e ansiosos por levar o nosso novo espectáculo para terras lusitanas. Esperamos que apreciem o novo álbum e que curtam os concertos connosco, tomando um bom Vinho do Porto com uns bons Pasteizinhos de Belém!
Qual é a expectativa para os concertos na Europa?
As expectativas são as melhores possíveis, desbravando cidades e países pelos quais não passámos em 2018, além de voltar a lugares em que já tocámos. Vamos percorrer um trajecto mais longo e com mais apresentações, sendo 17 concertos em 23 dias. Esse período de preparação está a ser crucial para chegarmos lá com ‘dois pé no peito’.
Quais os próximos passos da banda?
Voltando da digressão europeia, vamos preparar um giro por terras brasileiras e pela América do Sul. Também temos programado lançamento de material ao vivo, clipes, merchandising novo e grandes concertos a serem anunciados muito em breve.

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