“Burning in Heaven, Melting on Earth” é um longa-duração cheio de texturas com muitos pormenores inteligentes.

Editora: independente
Data de lançamento: 26.02.2021
Género: doom/sludge/stoner metal
Nota: 4.5/5

“Burning in Heaven, Melting on Earth” é um longa-duração cheio de texturas com muitos pormenores inteligentes.

O quarteto polaco de Varsóvia surge neste ano de 2021 com impacto, com um stoner metal refinado e alterado fortemente inspirado num doom metal portentoso. “Burning in Heaven, Melting on Earth” apresenta-se como o quarto álbum de originais, numa simbiose perfeita entre sofrimento e grito de alerta, quase que transportando para esta produção toda a história polaca de tristeza e drama que faz parte do seu compêndio histórico de luta e perseverança.

Narrativamente, o grupo sempre se destacou pela sua espiritualidade, discutindo muitos temas que dizem respeito aos recantos do ser humano. “Burning in Heaven, Melting on Earth” poderá ser o mais realizado dos álbuns em termos narrativos, alargando o escopo a temas como o sacrifício humano e a ideia da individualidade humana com faixas cruas e que rasgam os conceitos básicos da sonoridade do sludge/stoner, bastando atentar a “Crows”, o tema de abertura, e a fantástica e quase hipnotizante “God Emperor of Dune”, que nos transporta para oito minutos de música épica, lenta e potente. Em termos sonoros, é um álbum polivalente, conseguindo dinamizar entre o mais pausado e o mais acelerado, com “A Million Lives” a levar uma dianteira significativa neste aspecto, com a entrada da guitarra que é assoberbada por uma bateria premente e constante.

Este lançamento acaba por se impor como um belo candidato a destaque do ano, com um conceito bem definido e um álbum repleto de épicas, sem nunca chegar a ser aborrecido ou demasiado longo. Os seis temas que o compõem são suficientes, apresentando-nos uma personalidade mais evoluída de um quarteto que, desde 2013, mostra ao mundo sonoridades e conceitos realmente interessantes. O álbum propriamente dito é conceptualmente pessimista, relatando uma crença cega em líderes mentirosos e promíscuos que nos sacam a vida muito antes da chegada da nossa hora. O sumo de tudo isto é rico e imenso, e os Sunnata conseguem interpretá-lo primordialmente sem tocar em lugares-comuns, sendo “Black Serpent” e “Way Out” dois grandes exemplos da potência sonora que os polacos transportam numa miscelânea entre o rápido e o pausado. “Völva (The Seeress)” é um velho caso last but not least, sendo que poderá ser a melhor faixa, exibindo todo o dramatismo pausado que os Sunnata tão bem executam, ao mesmo tempo que consegue ser a mais poderosa do conjunto dos seis temas – é uma bela composição doom e heavy sludge com a crueldade necessária e a potência requerida para preparar o caminho para o tema de encerramento.

“Burning in Heaven, Melting on Earth” é um longa-duração cheio de texturas com muitos pormenores inteligentes e que se apresenta como um álbum conceptual, apesar de poder não ser confesso em relação a esse aspecto. É doom/sludge/stoner metal no seu esplendor, magnificando a ideia de inteligência do género, sem ser aborrecido ou exibicionista. Poderá ser o melhor álbum do quarteto até à data.

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