Pantera “Vulgar Display of Power”: por dentro do álbum que salvou o metal dos 90s
Artigos 25 de Fevereiro, 2021 Metal Hammer
Como um bando de ex-glam metallers do Texas fez um dos álbuns mais importantes da década de 1990.
1992. Machine Head e Stone Sour formavam-se. Metallica e o Guns N’ Roses encabeçavam os estádios dos EUA quando James Hetfield sofreu queimaduras de terceiro grau num acidente de pirotecnia e quando Axl Rose incitou uma rebelião em Montreal. Rage Against The Machine lançavam o álbum de estreia homónimo. Nirvana vendiam cerca de 300.000 cópias do “Nevermind” por semana. E Pantera apresentavam o ultra-pesado “Vulgar Display of Power”.
De Dallas, Texas, os Pantera iniciaram-se como uma banda de glam, começando em 1981 a fazer covers de músicas de Kiss e Van Halen. Os três primeiros álbuns – “Metal Magic” de 1983, “Projects in the Jungle” um ano depois e, finalmente, “I Am the Night” (1985) – estavam muito enraizados no género big hair. Mas haveria uma mudança radical.
Em 1987, o vocalista Phil Anselmo juntou-se aos membros-fundadores (e irmãos) Diamond Darrell (guitarra) e Vinnie Paul (bateria), bem como Rex Rocker (baixo). Um ano depois, o álbum “Power Metal” empurrou a banda mais para a cena thrash. E tal foi levado a outro nível quando, depois de assinarem o primeiro contracto com a major Atco, os Pantera se reinventaram com o álbum “Cowboys from Hell” de 1990.
Por essa altura, Rex Rocker tinha-se tornado Rex Brown e Diamond Darrell era agora Dimebag Darrell. Para além disso, o álbum estabeleceu a reputação dos Pantera como uma nova força na cena metal.
«No “Cowboys from Hell” tivemos a oportunidade de andar em digressão com algumas bandas realmente incríveis, incluindo Judas Priest, Exodus, Sepultura, Suicidal Tendencies e Prong», disse Vinnie à Metal Hammer anos depois. «E isso levou-nos a outro nível. Vimos a nossa música a rebentar e acho que isso nos catapultou para o que fizemos com “Vulgar Display of Power”.»
O que os Pantera agora tinham de fazer com o sucessor de “Cowboys…” era construir sobre o ímpeto que levou aquele álbum a captar a imaginação das hordas do metal. Como disse o produtor Terry Date, «os Pantera queriam fazer o disco mais pesado de todos os tempos».
A banda escolheu gravar no Pantego Sound Studios, que pertencia a Jerry Abbott – músico/produtor de country e pai de Vinnie Paul e Dimebag. «Quando começámos a trabalhar no “Vulgar…”, o Phil e eu encontrámos apartamentos muito baratos que ficavam mesmo à frente do estúdio», recorda Rex. «Fizemos um pequeno buraco na cerca, para que pudéssemos ir direitos dos nossos apartamentos ao estúdio. A Rita [Haney, namorada de Darrell] também tinha um desses apartamentos, e o Darrell e o Vinnie ainda estavam na casa da mãe, mas tinham veículos para se mexerem. O Phil e eu continuávamos falidos, portanto comprei uma bicicleta. Costumava ir a um sítio, que era tipo um 7-Eleven, e conhecíamos um gajo que trabalhava lá e ele deixava-nos cerveja e sanduíches para comermos quando terminávamos o trabalho.»
A banda estava tão ansiosa por fazer isto em condições que o trabalho começou sem o produtor. «Tínhamos as músicas “A New Level”, “Regular People (Conceit)” e “No Good (Attack the Radical)” em maquete antes do Terry chegar», disse Vinnie. «Queríamos ter um avanço. Tínhamos até começado a trabalhar para se obterem os tons, e eram muito bons, mas, quando o Terry apareceu, ajustámo-los. Para nós, heavy metal tinha de soar como uma máquina. Portanto, trabalhámos muito para ser apenas aquela serra abrasiva. A guitarra tinha de ter um som de motosserra, a bateria tinha de ser a melhor, e só me lembro do Dime e do Terry Date a passarem muitas, muitas horas ali a serem muito meticulosos para deixarem as guitarras firmes, como fizeram. Depois de termos os tons, nós os três escrevíamos a música durante o dia, e depois o Phil vinha do seu apartamento e ouvia algumas coisa. Ele dizia: ‘Uau, pá, isto é do caraças!’ E depois finalmente fazíamos uma pausa e íamos para o bar, e depois voltávamos para ouvir o que o Phil fez por cima daquilo. Trabalhámos juntos como uma equipa, e tínhamos realmente aquela mentalidade de um por todos, todos por um.»
Isto era Pantera – trabalhavam com foco e energia, mas também curtiam com igual compromisso. «Costumávamos jogar um jogo chamado Chicken Brake», recordou Vinnie, «em que tinhas de, do nada, puxar a merda do travão de mão e o carro pára numa chiadeira. Numa noite, pegámos no carro alugado do Terry e estávamos a acelerar auto-estrada fora debaixo duma chuva torrencial, e de repente o Rex achou que seria engraçado puxar o Chicken Brake. Ia a uns 100 km/h, e, quando ele puxou [o travão], o carro girou 360º – girou, girou e girou – e depois parou no meio da estrada. Apenas olhámos um para o outro, pálidos, e dissemos: ‘OK, isto não aconteceu…’ E continuámos. Mais tarde nessa noite, saímos para beber uns copos e estávamos mesmo mamados quando voltámos. Passámos por um bairro e derrubámos todas as caixas de correio. Não sei como não fomos presos ou como não rebentámos o radiador! Mas parámos à frente do estúdio. E o Terry sai a correr e vê os faróis do carro partidos, a frente estava toda metida para dentro. Havia vapor a sair do motor. E nunca gritou connosco como naquela noite. Ele dizia: ‘Pá, vou ter de pagar isto e a merda da editora vai despedir-me!’ E nós estávamos do tipo: ‘Pá, relaxa. Nós tratamos disto. Com este disco vamos ganhar dinheiro suficiente para pagar.’»
«Uma das nossas coisas favoritas de se fazer em estúdio era um jogo chamado Twist and Hurl», disse Vinnie. «Bebias uma daquelas garrafinhas de cerveja e era de penálti, e depois tinhas de andar à volta e mandá-la a um sinal de trânsito – se acertares, ganhas. E fazíamos isso quase todas as noites. Bebíamos carradas dessas cervejas, portanto tínhamos munição. Certa noite fizemos isso, e umas lanternas surgiram por entre as árvores e havia uns cinco polícias prontos a prenderem-nos. Não sei como nos safámos dessa!»
Decorrendo dois meses da gravação do álbum, a banda recebeu uma oferta que não podia recusar – a oportunidade de abrir para AC/DC e Metallica na Rússia. Agarraram a oportunidade, e tal provou ser um triunfo. «Tocámos às duas da tarde e foi definitivamente o palco mais incrível e enorme em que já tinha estado», exclama Phil Anselmo. «Olhar para a multidão era ofuscante. Não era uma multidão – era o c*ralho de um oceano. Mas não havia nervosismo e quando entrámos em palco, pá, simplesmente clicámos. Éramos uma máquina do c*ralho. Estávamos prontos para a guerra e trazíamo-la para vocês. Voámos para casa e voltámos ao estúdio com um pouco mais de arrogância, e a música simplesmente era expelida de nós. Eu estava mais positivo do que nunca. Quando escrevi letras como “a new level of confidence and power”, era verdade, pá!»
A ideia para o título do álbum veio do Phil, embora tenha demorado um bocado para perceber que na realidade sacou-o de uma linha do filme “The Exorcist”. «A frase ‘vulgar display of power’ deu de caras comigo, e só mais tarde se fez luz donde veio. E depois pensei: ‘Oh, é do “The Exorcist”!’ Bela frase, William Peter Blatty [que escreveu o livro e o guião]. Dissemos à nossa editora que queríamos uma foto de algo vulgar [para a capa do álbum], como um gajo a levar um soco na cara. A editora trouxe-nos a primeira versão, que era um pugilista com uma luva, e ficámos do tipo: ‘Está errado, pá. Tem de ser à moda da rua.’ Safaram-se com a segunda versão. Alguém da editora disse-nos que aquele gajo recebeu 10 dólares por soco e precisou de 30 a sério para se conseguir a imagem perfeita.»
O álbum foi lançado a 25 de Fevereiro de 1992 e foi o primeiro dos Pantera nas tabelas, alcançando o número 44 na América, onde já vendeu mais de dois milhões de cópias. No Reino Unido chegou ao número 64 e vendeu mais de 100.000 cópias. Os Pantera apareciam finalmente como uma força metálica significativa à escala mais ampla possível.
Vinnie disse: «Tudo o que posso dizer é que foi um daqueles momentos únicos em que a banda ainda estava com muita vontade. Fazíamos 150 dólares por semana. Não tínhamos um salário. Estávamos simplesmente a fazer isto, porque adorávamos música e era divertido tocarmos juntos. Éramos uma equipa. Éramos irmãos.»
Phil diz: «Estar em palco e tocar músicas como “Walk”, “Mouth for War” e a filha da p*ta da “Fucking Hostile”… Do caraças, pá. Foi uma declaração poderosa. A agressão, a intensidade, a emoção crua e sangrenta daquelas canções ligavam-se ao público de forma perigosa. Foi do caraças tocá-las porque eram verdadeiras para nós, e acho que – não, eu sei que – as pessoas que nos viam sabiam que éramos verdadeiros.»
Em retrospectiva, tornou-se um dos álbuns metal mais icónicos e inspiradores de todos os tempos. Um totem para tantas coisas que aconteceram desde então. Ninguém está mais ciente do seu significado do que Phil Anselmo, que olha para trás com uma reverência quase maravilhada pelo que ajudou a realizar. «Quando fizemos o “Vulgar Display of Power”, eu nunca disse: ‘OK, vou fazer isto para a história.’ Claro que queríamos definir objectivos pessoais e sermos uma banda feliz, mas acho que ainda estou a descobrir que tipo de impacto aquele álbum teve. Passaram duas gerações inteiras desde então, e muitas variações de música apareceram e desapareceram. E ainda vejo miúdos dos 14 aos 20 anos a serem fãs fanáticos de Pantera porque os pais deles eram fãs fanáticos, e cresceram a ouvir isto em casa. E isso impressiona-me. E consigo ouvir riffs de Pantera em muitas bandas de hoje e também de ontem. Acho que foi quando percebi o impacto que tínhamos causado que isso começou a acontecer.»
E é um impacto que continua no Séc. XXI.
Se “Vulgar Display of Power” foi um pico impressionante, o que se seguiu em 1994 foi um sucesso ainda maior. O álbum seguinte, “Far Beyond Driven”, estreou em número 1 nos EUA. Os Pantera até foram nomeados para os Grammys pela música “I’m Broken”.
Mas as coisas começaram a correr mal. O quarteto tocou no Monsters of Rock Festival, em Castle Donington, em Junho de 1994, e semanas depois Phil foi acusado de agressão após bater num segurança que tentou impedir fãs de subirem ao palco. Em 1995, o uso de heroína e álcool por Phil tinha-se tornado tão excessivo que criou uma barreira irreversível entre ele e o resto dos Pantera.
Um ano depois, “The Great Southern Trendkill” enfatizou o crescente abismo entre o vocalista e a banda. Enquanto os músicos gravavam em Dallas, Phil fazia as vozes no estúdio de Trent Reznor, em New Orleans. Ainda assim, alcançou a quarta posição nas tabelas dos EUA e igualou as vendas de “Far Beyond Driven”.
No entanto, a overdose de heroína que o vocalista teve em Junho de 1996 chocou o resto dos Pantera. O seu comportamento continuamente errático tornou o relacionamento ainda pior. O álbum ao vivo “Official Live: 101 Proof” manteve as coisas a funcionar, chegando a um respeitável número 15 nos EUA, mas após o lançamento de “Reinventing the Steel”, em 2000, a banda parecia estar a dar as últimas.
Embora tenha alcançado a quarta posição nos EUA, as vendas caíram para pouco mais de 500.000 – e no espaço de um ano estavam efectivamente paradas. Uma digressão europeia foi interrompida pelos acontecimentos de 11 de Setembro e os planos para mais um álbum de estúdio foram cancelados. Os Pantera separaram-se oficialmente em 2003 com acusações amargas.
O chocante assassínio de Dimebag Darrell em Dezembro de 2004 e a morte do seu irmão Vinnie Paul em 2018 significa que nunca veremos a banda de volta ao palco em toda a sua glória.
Consultar artigo original em inglês.

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