Se a história nos ensinou alguma coisa, é nunca menosprezar Ozzy.

Editora: Epic Records
Data de lançamento: 21.02.2020
Género: heavy metal / hard rock
Nota: 4/5

O sitiado Prince Of Darkness, Ozzy Osbourne, regressa contra o mundo.

Dá-se o caso de Ozzy Osbourne operar melhor de costas contra a parede. Em 1980, o vocalista transformou a sua expulsão dos Black Sabbath numa carreira a solo redentora. Três anos depois, resistiu à morte do guitarrista talismã Randy Rhoads para fazer “Bark At The Moon”.

Agora, depois do Outono do ano passado – concertos adiados, uma cirurgia ao pescoço e o diagnóstico de Parkinson –, Ozzy tem uma opinião séria sobre o seu engenho e um décimo segundo álbum surge indomado.

Ao lerem-se os escassos soundbites promocionais de Ozzy, é esperado que “Ordinary Man” soe exausto, como um cão infernal açoitado até à morte («Eu dizia, ‘não tenho força.’ Mas o Andrew [Watt, produtor] sacou isto de mim.»).

Nunca se adivinharia. As suas vozes são alegres e felinas, e estas 11 músicas estão repletas de propósito, começando com a crunchy, proggy “Straight To Hell”. «I’ll make you scream», promete. Depois, mais preocupantemente: «I’ll make you defecate.» Bem, felizmente não, mas outras funções corporais podem ser afectadas por este álbum visceral e emocionalmente nu.

“Eat Me” possui o riff mais duro do álbum e uma letra agradável e literal («My meat is nice and tender»). “Today Is The End” começa como um primo desajustado de “Enter Sandman” antes que os instintos melódicos de Ozzy adociquem o álbum. O intervalo instrumental de “Holy For Tonight” é puro Beatles, assim como a balada-título, com Elton John a tocar piano e a tomar conta do segundo verso.

Alternando entre versos tempestuosos e uma chicoteante secção em double-time, os cinco minutos de “Goodbye” parecem o fulcro do álbum, um dos vários momentos abertamente prejudiciais («It’s over, so over, too late to turn back now»). Mesmo assim, o humor de Ozzy permanece intacto – a música termina com um feedback como uma chaleira a assobiar e ele a perguntar: «Is it tea-time yet? Do they serve tea in heaven?»

Ozzy admite perguntar-se «Who the fuck is Post Malone?» quando incentivado a trabalhar com o rapper de Nova Iorque. Mas “It’s A Raid” é inesperada, brilhante e garage-punky, um furioso Ozzy intemporal e a blasfemar como se tivesse acabado de sair do matadouro por volta de 1968.

Uma pena é a segunda colaboração com Post Malone, “Take What You Want”, com o colega rapper Travis Scott a dominar as vozes e as batidas electrónicas geladas a soar horrivelmente. Se este é o cantar do cisne de Ozzy – e as suas letras, o avanço da idade e o fluxo de trabalho pós-milénio sugerem que isso não é inconcebível –, então, como “13” dos Sabbath, é um fim credível para uma carreira extraordinária. Mas se a história nos ensinou alguma coisa, é nunca menosprezá-lo.

Consultar artigo original em inglês.
Autoria: Henry Yates
Tradução: Diogo Ferreira