Na história do metal, 13 é um daqueles números inescapáveis… Anunciado para o último trimestre deste ano, “In Cauda Venenum” será o décimo terceiro...

Na história do metal, 13 é um daqueles números inescapáveis… Anunciado para o último trimestre deste ano, “In Cauda Venenum” será o décimo terceiro álbum de originais dos suecos Opeth.

Temido por muitos, perseguido por outros tantos, não será certamente uma ideia que tira o sono a Mikael Åkerfeldt – o arquitecto por detrás das composições da banda –, nada estranho a guinadas no que toca a carreira e opções musicais. Um começo mais directo e chegado ao black metal, que a pouco e pouco se foi tornando mais diverso e complexo; notoriedade e sucesso comercial trouxeram compromissos e exigências que forçaram ajustes nos elementos. Ajustes estes que permitiram a Mikael realizar alguns dos seus planos de transformar o som e as composições, quebrando os estereótipos associados ao metal progressivo, dos quais se havia tornado uma das mais importantes referências.

Esta evolução manifestou-se em sons de guitarra menos saturados e desprovidos da precisão cirúrgica dos álbuns anteriores; factores suficientes para alienar muitos fãs e para pôr a latejar os nervos mais sensíveis de qualquer agente ou responsável de companhia discográfica… Porém, Mikael estava exausto e a vontade de sair da zona de conforto, expandindo o âmbito do seu trabalho artístico, revelou-se irredutível e inabalável. Tal como Chuck Schuldiner havia decidido perto do final da sua carreira e vida (com o malogrado projecto Control Denied), as vocalizações guturais não tinham mais lugar no universo musical dos Opeth…

Em Setembro de 2011 é lançado “Heritage”, que fracturou profundamente a legião de fãs e simultaneamente capturou uma nova facção de ouvintes, que anteriormente se havia refugiado da agressividade vocal, aconchegando-se apenas nos momentos mais amenos, como “Damnation” em 2003, que ainda hoje figura no topo das listas de inúmeros metaleiros de todos os subgéneros. A construção musical e as linhas melódicas eram agora completamente não convencionais, e tematicamente, Mikael abraçou as suas origens e toda a bagagem cultural sueca.

Para uma parte substancial do universo metal, este foi o momento em que os sinos dobraram pelos Opeth e houve bastantes metalheads que desde então viraram por completo as costas à banda. Estes divórcios entre artista e ouvintes são bastante comuns e, no contexto do metal, normalmente acontecem quando as bandas abraçam musicalidades mais populares, que lhes trazem mais exposição mediática e vantagem financeira, que aos olhos do público são qualidades incompatíveis com verdadeiros metaleiros, que tem que fazer música obscura, apenas consumida no underground, por fãs a sério! Mas, como em praticamente todas as outras alturas em que este acontecimento se verificou (toda a gente se lembra de quando os poderosos Metallica lançaram o incrivelmente bem-sucedido “Black Album” de 1991), também aqui a banda estava mais interessada em seguir o seu caminho e desenvolvimento enquanto artistas, ignorando por completo os protestos e boicotes.

A onda de choque criada pelas vozes de descontentamento foi de tal ordem que o futuro da banda esteve em risco; contudo, este já assim se encontrava mesmo antes de “Heritage”, quando Mikael, sem rodeios, vocalizava o seu desagrado em dar continuidade ao processo criativo da banda. Nesta altura, os seus planos de fazer uma pausa, de criar projectos com outros artistas, tornaram-se públicos. Storm Corrosion e o álbum com o mesmo nome são o mais exuberante produto deste período; no entanto, um projecto acústico baseado em instrumentos tradicionais e alicerçado em temas e linguagem suecos foi também bastante falado, até com menção dos nomes de alguns dos possíveis artistas intervenientes.

Os sinais desta paixão pelas suas raízes tornavam-se cada vez mais fortes e evidentes… Se em 2008, da edição especial de “Watershed” já fazia parte uma versão de uma canção de uma das mais famosas vocalistas pop suecas (Marie Fredriksson, a cara dos popularuchos Roxette), em 2014, Åkerfeldt voltou a afirmar a sua paixão por cantar em sueco, com “Var Kommer Barnen In” (original de Hansson De Wolfe United), novamente presente numa edição especial, desta feita, do álbum “Pale Communion”.

Desde essa altura, a questão de para quando o álbum acústico de material original em sueco tem sido recorrente, com Mikael peremptório e inabalável ao afirmar que esse álbum não está nos seus planos, e que, com a actual incarnação de Opeth, sente que tem liberdade total para exprimir todas as suas emoções, ideias e vontades.

Em fins de Maio, sem qualquer aviso ou pista, surgiu a notícia bombástica de que o novo álbum da banda já se encontrava gravado, e que seria editado em duas versões: com linguagem inglesa e sueca. Eis-nos então perante a materialização deste desejo antigo de Åkerfeldt em exprimir-se na sua língua materna. A grande incógnita de se este será o tão falado material acústico (ou uma versão mais cuidadosa do mesmo) ou se é apenas um manguito às ideias pré-concebidas do que é suposto os Opeth criarem… Apenas saberemos lá mais para a segunda metade do Verão, quando for lançado um teaser ou single.

Foi também durante este período que a banda nos anunciou um pequeno lote de concertos pela Europa, com o objectivo de promover o novo álbum. Bilhetes para alguns destes concertos foram disponibilizados através da loja oficial da banda, sob a forma de pack bilhete + álbum preorder, em que a gravação seria enviada no fim de Setembro – o que nos permite inferir que será esta a altura do seu lançamento oficial.

Até lá, podemos saborear os títulos das várias canções e também do próprio álbum, bem como a sua capa, novamente a cargo do fiel Travis Smith:

In Cauda Venenum – “Poison in the Tail”:
1. Livet’s Trädgård / Garden Of Earthly Delights (Intro)
2. Svekets Prins / Dignity
3. Hjärtat Vet Vad Handen Gör / Heart In Hand
4. De Närmast Sörjande / Next Of Kin
5. Minnets Yta / Lovelorn Crime
6. Charlatan
7. Ingen Sanning Är Allas / Universal Truth
8. Banemannen / The Garroter
9. Kontinuerlig Drift / Continuum
10. Allting Tar Slut / All Things Will Pass

Segundo fontes próximas da banda, o primeiro single será “Universal Truth”, que Steven Wilson (produtor de alguns dos álbuns mais marcantes da banda, como “Blackwater Park”) fez questão de comentar via Instagram, exprimindo o seu deleite, rotulando de genial, a canção de sete minutos e meio. Travis Smith, o artista gráfico em qua banda novamente depositou a sua confiança no que toca à capa e estética do álbum, não resistiu e veio também a público concordar com Wilson.

Em Abril, o guitarrista Fredrik Åkesson havia já deixado escapar que o processo de concepção deste conjunto de canções havia sido bastante diferente dos anteriores, uma vez que originou de experiências com sons e riffs, num ambiente tranquilo e sem pressão, no apartamento de Åkerfeldt. Este processo, que apenas havia sido experimentado em “Strange Brew” (que se revelou uma das músicas favoritas do público, do recente “Sorceress”), foi desta vez usado mais extensivamente, resultando num álbum que, segundo Åkesson, apresenta a maior complexidade musical de todo o catálogo da banda, salientando que o sentimento condutor, visível nos três álbuns anteriores, deu agora lugar a um novo fulgor exploratório de intensidade extrema, que levou a banda a ter de se superar num processo de gravação, bastante penoso, onde Åkerfeldt terá cantado as notas mais agudas da sua carreira, e que deu origem a uma obra singular, que Fredrik considera um marco na carreira dos Opeth.

Desta forma, “In Cauda Venenum” não será ainda a materialização do tal álbum introspectivo em sueco, mas um ambicioso salto em fúria, de criatividade, com intenções mais obscuras do que se poderia esperar, a julgar pelo título…

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