«Falaram-nos de grandes seres que uma vez vaguearam pela Terra. Desaparecimento. Transcendência. Obliteração. Deixa-se para trás o legado, menos a vontade insaciável de abanar...
Foto: cortesia Petting Zoo Propaganda

«Falaram-nos de grandes seres que uma vez vaguearam pela Terra. Desaparecimento. Transcendência. Obliteração. Deixa-se para trás o legado, menos a vontade insaciável de abanar este hiato… E são estas as criaturas que tememos. Uma vez solidificadas, geralmente ficam mais fortes. Não é que tenham estagnado, mas sobreviveram forçosamente. Apenas para apodrecerem novamente.»

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Em tempos extraordinários exigem-se medidas extraordinárias. Depois das primeiras experiências em concertos via Internet, como o Isolation Fest da Century Media Records, a produções mais arrojadas, como os Behemoth em actuação numa igreja, a única forma de assistirmos a um vasto rol de concertos em plena pandemia é esta: aceder ao YouTube ou pagar um bilhete virtual e ver a performance da tua banda de eleição.

A interpretação completa de “Slowly We Rot”, primeiro álbum de Obituary lançado em 1989, foi o evento mais recente – e a Metal Hammer Portugal esteve lá a convite da produção.

Depois de uma longa introdução, que durou uns bons 20 minutos, com membros da equipa a chegar ao local (até de bicicleta sem pneu traseiro) e com Kenny Andrews a fugir do soundcheck para ir à casa-de-banho, regressando com papel higiénico preso às calças e aos chinelos, os veteranos do death metal deram finalmente início a um concerto que fica para a História.

Mas antes de mais, se no dicionário procurarmos pela definição de apodrecer, a explicação é: tornar podre, corromper, estragar. Porém, os Obituary têm outra, uma muito própria: «Um lento processo degenerativo encontrado em adolescentes durante meados e finais dos anos 1980 que largaram o seu bong num pântano da Florida e continuaram a inalar, resultando em danos cerebrais agudos e metal não muito fofo.»

Nos cerca de 40 minutos seguintes, o quinteto interpretou “Slowly We Rot” na perfeição, dando-lhe até um sabor contemporâneo devido à produção imaculada que se fez sentir em casa.

Com uns tremoços, umas pevides e umas cervejas, o headbanging, o bater na coxa e o pedal duplo imaginário foram solitários, mas o chat não parava de debitar comentários vindos de todo o mundo. Dos EUA ao México, passando pela Europa e Oceânia, leu-se de tudo: «vou abrir um pit com o meu cão», «o chão está a tremer no Texas», «dava o meu testículo direito para estar nessa sala».

Com todos os truques que podem ser possíveis de executar numa produção destas, que, sejamos sinceros, não é verdadeiramente um concerto ao vivo, o rugido de John Tardy foi deliciosamente decadente, o baixo de Terry Butler ouviu-se plenamente, o trabalho de bateria de Donald Tardy foi impressionante (via-se genuinamente a felicidade na cara do norte-americano), o groove ímpar da guitarra de Trevor Peres esteve pesadíssimo e os solos de Kenny Andrews, que consegue facilmente pôr uma guitarra a guinchar, foram insanos.

À falta de aplausos e grunhidos, que tanto se ouvem vindos do público num concerto de death metal, os elogios e os agradecimentos via chat choveram sem parar à medida que o death metal da velha-guarda dos Obituary chegava às nossas casas.

Se queremos que esta seja a normalidade? Claro que não! Mas se não tens açúcar suficiente, então faz um bolo um bocadinho mais amargo – vais comê-lo na mesma porque a fome é negra. Hoje, o bolo não foi assim tão amargo…

Para a semana há mais! No dia 24 de Outubro, a banda vai interpretar “Cause of Death” (1990) na íntegra e depois, a 7 de Novembro, será a vez de clássicos raros. Os bilhetes virtuais encontram-se disponíveis AQUI.

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