Passaram quase 10 anos sobre as últimas notícias dos gregos Nightfall, uma das bandas de culto inimitáveis dos anos 1990. Habituados que estamos a...
Foto: cortesia da banda

«Temos um novo álbum quase pronto.»

Efthimis Karadimas

Passaram quase 10 anos sobre as últimas notícias dos gregos Nightfall, uma das bandas de culto inimitáveis dos anos 1990. Habituados que estamos a períodos de dormência por parte de algumas bandas clássicas, esperámos atentamente pelo regresso de uma das fénixes mais negras da história do death metal progressivo com nuances de black metal.

Fomos todos apanhados de surpresa pela resposta da natureza na forma de um vírus. Enquanto muitos se empenham em culpar o próximo pela catástrofe, poucos raciocinam que isto não é mais do que o resultado de tudo o que temos feito ao planeta nos últimos 250 anos. Os deuses não existem e a fé não mais é do que esperança por tempos melhores. Assim, é curioso verificar que é nas piores alturas que os mais fortes se revelam. Efthimis Karadimas, capitão da embarcação Nightfall, empreende mais uma expedição em busca de Adamastores por águas cada vez mais hostis. Mais uma, pois há sempre Adamastores. A Metal Hammer Portugal trocou impressões com Efthimis em Junho passado, preparando caminho para o que se segue na carreira dos Nightfall. Algumas coisas mudaram desde então – a banda trocou o quartel da Metal Blade pelo da Season of Mist, por exemplo. Os votos eternos com o underground, porém, mantiveram-se. Efthimis explica a que esteve sujeito durante cinco penosos meses e o porquê de regressar durante a maior crise da humanidade.

«Esta coisa da pandemia foi difícil, sem dúvida. No entanto, se não não podes evitar algo, podes pelo menos aproveitá-lo de alguma forma. Com aproveitar, não quero dizer divertir-me com isso ou com qualquer coisa, mas utilizar o tempo para tornar as coisas dentro de mim e ao meu redor melhores. Foi o que fiz. Investi o meu tempo em livros, música e em religar-me com as pessoas que amo, embora não tivesse tempo para falar com tanta frequência. Os problemas típicos de uma cidade grande desapareceram de um dia para o outro e senti vontade de viver numa vila tranquila, sem velocidades frenéticas, prazos e exigências loucas. De voltar à simplicidade e a frases boas como ‘como estás?’ ou ‘tudo bem lá por casa?’. Coisas como estas recuperaram os seus significados úteis. Outra coisa que chamou a minha atenção foi o quanto algumas pessoas amam e respeitam os mais idosos, os que não conseguiam lidar com esta situação e precisavam de ajuda, enquanto outros países e sociedades que pensávamos serem avançados e civilizados exibiam desrespeito aos seus pais e avós de uma maneira que um ateniense antigo chamaria de arrogância. Os tempos históricos exigem coragem e, porque vivemos em tempos realmente históricos, o tipo de geração que as futuras gerações recordarão nos seus manuais escolares, devemos abraçar e aceitar tudo.»

Sempre existiram cenas específicas um pouco por todo mundo: black metal na Noruega, death metal na Suécia, thrash nos Estados Unidos, heavy metal em Inglaterra. A Grécia é bastante conhecida pelas suas estirpes de death metal cavernoso e black metal, apresentando sempre ideias fora da caixa que, de tão inimitáveis, se tornou uma coisa local que é exportada para o mundo. Com “Parade Into Centuries”, “Macabre Sunsets” e “Athenian Echoes”, os Nightfall inscreveram o seu nome na eternidade. Ainda que relativamente esquecida actualmente, a Grécia foi berço de algumas das melhores bandas dos estilos acima referidos: Necromantia, Septicflesh, Varathron, Rotting Christ, Vorphalack, Zephyrous e umas poucas mais lançaram grandes trabalhos ao longo dos anos. O que se teria passado na Grécia e que, similarmente a todas as glórias e contributos passados oferecidos à Humanidade, levaram a cena da música extrema a cair no esquecimento? «Sabes, começámos como fãs e mantivemo-nos fãs», avança o vocalista. «Quero dizer, nunca tivemos orientação para nos tornarmos músicos profissionais ou para manter uma marca. Fizemos o que fizemos por amor à música e pelo ódio que sentíamos nas nossas sociedades como bons adolescentes que éramos. Além disso, depressa percebemos, de forma simples ou não tanto, que ser uma banda de metal grega era cem vezes mais difícil de ser aceite no mundo como uma banda profissional do que se fôssemos suecos ou americanos, por melhor que a nossa música fosse. Pensámos: ‘Será que vale a pena?’ Não é uma pergunta com resposta fácil. Embora hoje em dia se saiba tudo e ninguém possa dizer que não sabe como funciona a indústria discográfica, continuo a ver as bandas mais antigas na ribalta rodeadas por bandas menores que tentam deixar as suas marcas sem nunca conseguirem o que merecem baseado nas suas competências musicais e de composição. Acho que há tantos lançamentos e tantas bandas que os fãs perdem noção da quantidade e não conseguem apoiar ou seguir toda a gente. Consequentemente, mantêm-se fiéis às bandas antigas que já conhecem e em que confiam. Vi isso recentemente com a minha outra banda, os The Slayerking – lançámos um álbum chamado “Tetragrammaton”, produzido pelo Marcus Jidell, produtor dos Candlemass. Investimos imensos esforços e capital na produção e em tudo o mais, e não atingimos as grandes audiências porque todos os canais de comunicação estavam ocupados com milhares de outros lançamentos de outras bandas, incluindo reedições.»

«Fizemos o que fizemos por amor à música e pelo ódio que sentíamos nas nossas sociedades como bons adolescentes que éramos.»

Efthimis Karadimas

Nem sempre foi assim. Os Nightfall tiveram uma parceria longa com a Holy Records, gerida por Phillipe De L’Argilière, membro dos não menos impressionantes Misanthrope. Entretanto, os Nightfall mudaram-se para a Black Lotus e, posteriormente, para a Metal Blade, estando actualmente sediados na Season Of Mist. Entre tantas mudanças, uma coisa permaneceu inalterada – um som fresco e único, o que nos leva a crer que até os Rotting Christ, tão na berra neste momento, tanto devem aos Nightfall em termos de influências. Com este regresso e com o vídeo colocado online tão recentemente, claro que o queremos saber é se existem planos para um novo disco. «Sim, temos um novo álbum quase pronto. A Metal Blade foi uma experiência maravilhosa, principalmente por causa do seu estatuto de ninho de bandas como Slayer ou Metallica no passado, e ser fã dessas bandas quando era adolescente e depois entrar na mesma lista delas é óptimo. No entanto, as pessoas precisam de química para criarem coisas incríveis juntas e acho que a nossa química se encaixa melhor com os franceses. Os sulistas têm mais em comum a todos os níveis e acho que uma editora francesa seria melhor. Daremos mais informações sobre isso em breve.»

Fossem essas as únicas preocupações dos Nightfall. Regressando à questão inicial, é um tempo deveras estranho para programar um regresso de uma ausência de dez anos. Promotores, festivais, publicações impressas e bandas têm sofrido imenso com o lado financeiro da coisa, mas os Nightfall parecem ter um visão mais optimista do que a maioria.

«É bom poder falar com alguém que percebe por dentro aquilo que todos estamos a passar. Sabê-lo também te influencia a amestrares os ouvidos e a mente para poderes avaliar os novos lançamentos. Com toda a franqueza, as coisas até estão melhores agora do que há alguns anos. No início da década de 2000, as famílias obtiveram todo o tipo de créditos a custo aceitável e o underground foi injectado com uma quantidade absurda de dinheiro como nunca antes. Isso atraiu muitos ‘estranhos’ que aproveitaram a onda, autodenominaram-se promotores e agentes e ajudaram os músicos a serem mais reconhecidos e a lucrarem com isso. Alguns foram excelentes e outros estavam destinados à excelência por conhecerem tão bem o negócio, para não dizer que também eram fãs ou que, pelo menos, respeitavam os factos e percebiam os pequenos detalhes do movimento. No entanto, a grande maioria era má. Geralmente, a grande maioria é que altera a História. Esse novo método de fazer as coisas estava muito distante das origens da cena e dos dias de ‘por favor, envia os meus selos de volta” [N.d.R.: costume antigo no underground entre bandas, fanzines e editoras de reutilizar os selos de correio várias vezes, poupando assim dinheiro]. Na verdade, eles apresentaram regras e éticas anteriormente aplicadas ao mainstream onde o único objectivo é o sucesso comercial. Agora, com todos estes maus eventos a afectarem toda a gente, vês muitas dessas pessoas – que nem estavam a fazer mal algum, apenas a agarrar uma oportunidade de ganhar algum dinheiro – a abandonar o barco porque a festa acabou. É o que acontece agora. Vai demorar algum tempo até chegarmos ao nível em que toda a cena será liderada por pessoas que amam a música e a atitude e não apenas o dinheiro. É por isso que sinto que, agora, as coisas estão melhor.»

A um ano de comemorarem três décadas de actividade, ficou a pergunta final – podemos contar com alguma comemoração especial? O que poderão os fãs esperar dos Nightfall no futuro próximo? «Isso é apenas uma coincidência que vamos ter de considerar. Nunca pensei nisso. Trinta anos… O que quero é ter oportunidade de sair e tocar ao vivo e conhecer pessoas que se identificam com a minha visão. É o que quero e é nisso que estou a trabalhar actualmente.»