Prova de que apenas uma pessoa pode fazer toda a diferença, o projecto F-60 é o esforço individual de Lars Rometsch. O dark/death metal... F-60: tempos negros

Origem: Alemanha
Género: dark/melodic  death metal
Último lançamento: “Gefangen im Wahnsinn” (2019)
Editora: independente
Links: Facebook | Bandcamp
Entrevista e review: João Correia

Prova de que apenas uma pessoa pode fazer toda a diferença, o projecto F-60 é o esforço individual de F-60.3. O dark/death metal melódico é evidente, mas há mais do que apenas isso, incluindo letras em alemão e ainda uma característica muito particular.  

«Este álbum foi a minha tentativa de lidar com um momento difícil que estava a passar.»

O que esperar: «Não tive objectivos em particular. Estava a passar por momentos difíceis e minha mente parecia que me queria matar. Tentei lidar com os meus pensamentos banindo-os e transformando-os em música, algo que ajudou muito e acho que isso é visível nas letras. Se não entenderes a língua alemã, nunca capturarás a alma e o sentimento da minha música, lamentavelmente. Acima de tudo, exibe um ponto de vista; algumas pessoas nunca tiveram e nunca entenderão uma visão tão contranatura e hostil da sociedade, das suas relações morais e humanas. Penso que existem apenas duas reacções à minha música: ou se gosta, ou não, sem meios-termos. O título do álbum é “Gefangen im Wahnsinn” (Enclausurado na Loucura) e é isso que recebes: músicas e palavras cheias de ódio, inveja, loucura e assassinatos de uma alma despedaçada, frustrada e irada.»

Conceito: «O disco fala sobre loucura e a guerra interior contra ti mesmo e a tua mente. Possui também algumas abordagens paranóicas em algumas músicas. Sentimentos extremos como ódio, raiva, tristeza, inveja e desespero estão misturados nas músicas. O desespero e a inveja em particular influenciam as partes violentas das músicas. A música exibe os abismos de uma alma humana muito frustrada e confusa com as regras morais da sociedade, não tratam apenas de ideias homicidas, antes sobre o que leva a todos esses pensamentos. Descrevo os meus sentimentos e as causas em muitas músicas extremas e brutais. Mas também há variedade nelas; uma música do álbum conta a história de um homem que mata a sua namorada apenas porque pensa que as palavras e afectos dela são falsos, culminando num desfecho dramático. Este álbum foi a minha tentativa de lidar com um momento difícil que estava a passar. Já não sabia o que era real, certo e errado, normal e anormal. Isso criou muita frustração e desespero e resultou em raiva por tudo e por todos. Assim, acho que exibe muito sobre a minha guerra interior.»

Influências: «Gosto de tons harmónicos e melodias. Não sou grande fã de apenas riffs de guitarra. Gosto de sons diferentes e variedades de melodias que transfiram sentimentos e emoções. Logo, centro-me no piano e nas cordas. As vozes agressivas são contraditórias no contexto instrumental, mas gosto de como ambos se unem à sua maneira. Na minha opinião, é um som muito interessante. Os Eisregen foram uma grande inspiração musical e lírica, principalmente os primeiros discos.»

Review: F-60 é um projecto algo atípico, não se tratasse de uma one-man band de metal extremo. Curiosamente, a juntar a uma voz e guitarras agressivas, o piano e as cordas abundam, dando uma sensação de locus horrendus e locus amenus, respectivamente. No entanto, logo na inicial “Mein Verstand ist vergiftet” parece que F-60.3 declama poesia, quase a lembrar rimas de hip-hop, e sem dúvida que esta característica marca pela diferença; pode parecer pouco natural ou até ir contra os padrões, mas repete-se ao longo de todo o registo e começa a entrar, faixa após faixa, até que a determinada altura passa a fazer sentido. Embora a percussão provenha claramente de uma caixa de ritmos, algo que pode ser melhorado, as ideias fundamentais estão presentes e demonstram alguma novidade e frescura num género geralmente saturado de mais. Com a instrumentação certa (ou, melhor ainda, com mais membros que partilhem as mesmas ideias), o projecto F-60 terá propulsão suficiente para vôos maiores.