Década de 2010: 20 pérolas do extremo underground
Artigos 23 de Dezembro, 2019 Diogo Ferreira
Numa altura em que a década de 2010 está a terminar, tem sido comum várias publicações fazerem os seus tops. Num processo diferente daquele em que se exalta o melhor, a Metal Hammer Portugal olhou para trás e recuperou lançamentos do extremo undeground com especial foco na cena portuguesa.
-/-
Banda: Irae
Título: “The Maniac Perversion Of My Soul”
Lançamento: 2019
Editora: Signal Rex
Género: black metal
Prolífico projecto, ao longo da década de 2010, entre demos, splits, compilações, EPs e LPs, Irae teve 21 lançamentos com o cunho de Vulturius. Claro que não podemos deixar de mencionar splits como “Deceiver’s Light” com Velório (2012), a caixa de madeira cravada a fogo “Orgias de Maldade” (2014) ou o LP “Crimes Against Humanity” (2017), mas a demo “The Maniac Perversion Of My Soul” destaca-se não só por estar na memória colectiva recente mas também porque inclui das melhores composições de Irae, não só da década mas de toda uma carreira com quase 20 anos. Nota mais também para a cassete prateada.
-/-
Banda: Nefastu
Título: “Obscura Transcendência”
Lançamento: 2018
Editora: Purodium Rekords
Género: black metal
Sediados na laboriosa cena black metal portuense, os Nefastu até começaram bem com duas demos lançadas em 2011 e 2012, e deram alguns concertos, incluindo um em 2011 em abertura aos, até ver, caídos em desgraça Inquisition. Passados seis anos desde o último lançamento, foi com surpresa positiva que surgiram com um 7” composto por três faixas de black metal doentio envolvido por uma crueza sonora típica que, apesar disso, permite-nos absorver tudo o que neste “Obscura Transcendência” acontece. Todavia, e por mais desdenhosos e desprezíveis que possam querer ser, acabam por adicionar algum sentido melódico que tão bem contrasta com o conceito nebuloso e nocturno que pretendem transmitir neste lançamento limitado a 150 cópias.
-/-
Banda: Draugsól
Título: “Volaða Land”
Lançamento: 2017
Editora: Signal Rex
Género: black metal
Com o black metal islandês ainda no radar, este trio começa por oferecer uns exercícios musicais muito colados a Mayhem por altura do “De Mysteriis Dom Sathanas”, mas, e à medida que as faixas avançam, começam a mostrar o que realmente são com estiradas melódicas que vêm de nenhures para cair lindamente nestas composições espessas, frias e agressivas. Enquanto bandas do género tendem a seguir por caminhos atmosféricos, os Draugsól, que não descuram essa parte, preferem talhar por um preenchimento nitidamente mais cru e orgânico. “Volaða Land” cheira a terra massajada por neblinas baixas que criam miragens em forma de silhueta.
Em 2018 mudaram de nome para Kaleikr e adicionaram componentes de death metal progressivo, como se pode ouvir no álbum debutante “Heart of Lead” (2019).
-/-
Banda: Sunken
Título: “Departure”
Lançamento: 2017
Editora: Nordavind Records
Género: atmospheric black metal
Estes dinamarqueses têm em “Departure” o seu único álbum, e ao longo de pouco mais de 50 minutos envolvem-nos numa atmosfera sedutora e cativante através de um black metal denso e gelado que se rege por melancolia em doses muitíssimo generosas que nos prende do princípio ao fim sem qualquer dificuldade. É um must-have em qualquer colecção composta por itens do underground.
-/-
Banda: Panphage
Título: “Drengskapr”
Lançamento: 2016
Editora: Nordvis Produktion
Género: black metal
O segundo álbum de Panphage conta a história do fora-da-lei Grette Asmundsson – que pertence às sagas islandesas – e fá-lo com o maior dos requintes no que ao black metal pagão diz respeito. Cativante e cru q.b. do princípio ao fim, “Drengskapr” une fúria e melodia – tudo sempre muito glorioso e épico. Cada guitarrada, cada estrondo nos tambores e cada palavra são um bocadinho importante de um conto milenar que se vê agora recriado na expressão mais extrema da música. Por entre os berros guerreiros de Fjällbrandt vamos também absorver bonitos refrãos em que as vozes limpas, mas sempre emproadas, ganham maior espaço. “Drengskapr” é indubitavelmente um dos álbuns mais fantásticos que a Nordvis lançou desde que se fundou em 2005.
Com “Jord” (2018), o músico sueco pôs termo ao projecto.
-/-
Banda: Forteresse
Título: “Thèmes pour la Rébellion”
Lançamento: 2016
Editora: Sepulchral Productions
Género: melodic black metal
Como pró-independentistas do Québec, os Forteresse assentam muito do seu conceito nessa luta em plena nação canadiana e isso ficou por demais evidente com o lançamento do seu quinto álbum. De modo a entoarem-se temas para a rebelião, nada do melhor do que se praticar black metal melódico e guerreiro, e é mesmo isso que os Forteresse fazem ao construírem composições velozes e agressivas dirigidas por omnipresentes leads de guitarra e vozes furiosas.
-/-
Banda: Black Cilice
Título: “Nocturnal Mysticism”
Lançamento: 2016
Editora: Iron Bonehead Productions
Género: black metal
Quando se fala no projecto português Black Cilice, são imediatamente referidos LPs como “Mysteries” (2015), “Banished from Time” (2017) e “Transfixion of Spirits” (2019), mas este enigmático empreendimento também tem demos, splits e EPs na sua já longa discografia – neste caso destacamos um EP de 2016.
Conhecemos o mundo a cores e cheio de movimentos desprendidos, mas quando ouvimos Black Cilice somos engolidos para uma dimensão escurecida, claustrofóbica, trémula e distorcida. Nestes 15 minutos divididos em duas faixas, o artista português dá-nos a entender que no seu mundo há lugar para alguma melodia, mas depressa somos atirados para dissonâncias black metal que transbordam misticismo obscuro, bruto e desconcertante. “Nocturnal Mysticism” oferece beleza desintegrada que dilacera a carne e faz com que a alma fique pesada.
-/-
Banda: Downfall Of Nur
Título: “Umbras De Barbagia”
Lançamento: 2015
Editora: Avantgarde Music
Género: atmospheric/folk/black metal
Como um dos lançamento mais bem-sucedidos da italiana Avantgarde Music, o até agora único longa-duração de Downfall Of Nur une a densa atmosfera do black metal e um sentido folclórico que é tanto conceptual como sonoro. “Umbras De Barbagia” representa mestria melancólica a uma escala de superior criatividade, acabando também por ser épico à sua maneira fatalista e nostálgica.
-/-
Banda: Cepheide
Título: “Respire”
Lançamento: 2015 / 2016
Editora: independente (cassete) / Sick Man Getting Sick Records (CD, vinil)
Género: atmospheric black metal
EP composto por duas faixas que se alargam num total de 35 minutos, a primeira “Le Souffle Brûlant de l’Immaculé” é conduzida por riffs rápidos e repetitivos ao lado duma bateria igualmente veloz, e os berros sufocantes dão o mote de angústia. A guitarra lead muito perceptível acaba por encontrar o seu auge ao apertar-nos o peito devido à sua beldade sónica. Depois da enorme onda negra e atmosférica da faixa inaugural, a segunda “La Chute d’une Ombre” abre num crescendo longo que nos torna herméticos e perdidos no éter, a levitar como poeiras celestiais. E assim, os ecos, os efeitos sonoros e o baixo marcado acabam por dar lugar a mais uma toada de post-black metal robusto que segue os trejeitos corrosivos da primeira faixa.
-/-
Banda: Grimoire
Título: “L’Aorasie Des Spectres Rêveurs”
Lançamento: 2015
Editora: Eisenwald
Género: atmospheric black metal
Indicado para fãs de Woods Of Desolation e Alcest, esta banda de um homem só exprime sentimentos de tristeza, perda e nostalgia suportados por um black metal atmosférico melancólico tão bem apresentado neste EP de 2015. Elevatórios leads de guitarra, coros esperançosos, berros de perdição e piano são os quatro condimentos mais importantes para o sucesso dos quase 25 minutos que compõem este projecto canadiano.
-/-
Banda: Carma
Título: “Carma”
Lançamento: 2015
Editora: Labyrinth Productions
Género: funeral doom metal
À falta de Inverno Eterno e Desire – ainda que tenhamos Bosque e Ars Diavoli –, surgiram os Carma, uma surpresa conimbricense. O disco de estreia tem como base um funeral doom metal arrastado e melancolicamente perturbante, mas – e aqui aparece o grande ‘mas’ positivo do álbum – vamos encontrar deliciosas melodias oferecidas essencialmente pelas guitarras. Sempre num registo lento, a melodia quente e sedutora contrasta com os riffs pesados e frios que compõem as restantes estrofes musicais. Não esquecem as dissonâncias, salientando ainda mais o processo de condenação que levam a cabo com este trabalho.
-/-
Banda: Sentimen Beltza
Título: “Atatxa”
Lançamento: 2015
Editora: Altare Productions
Género: black metal
Nome importante do black metal basco ao lado de bandas como Nakkiga e Ostots, os agora extintos Sentimen Beltza lançaram álbuns de extrema graciosidade negra, mas aqui destacamos uma tape de apenas 100 exemplares que mostra muito bem o poder obscuro, mas sempre melódico, de um projecto que, com certeza, deixa saudades entre os conhecedores do black metal mais underground.
-/-
Banda: Aurvandil
Título: “Thrones”
Lançamento: 2013 / 2014
Editora: Psychic Violence Records (cassete) / Eisenwald (CD)
Género: atmospheric black metal
Projecto terminado após o lançamento do magnum opus “Thrones”, Aurvandil é uma jornada ritualista imaculada que nos transporta a cenários constituídos por rios glaciais e montanhas nebulosas através de um black metal atmosférico e hipnótico suportado por suaves segmentos preenchidos por guitarras acústicas que oferecem ao disco um lado folclórico. É, sem dúvidas, uma das jóias da década.
-/-
Banda: Bast
Título: “Spectres”
Lançamento: 2014
Editora: Burning World Records
Género: sludge/doom/black metal
De Londres, os Bast lançaram em 2014 o seu álbum debutante – e que estreia! Uma das jóias mais bem-guardadas que merece ser exposta, “Spectres” representa um dos melhores discos de sludge/doom metal contemporâneo da década que está a acabar, existindo ainda incursões a um black metal atmosférico pesaroso, obsessivo e algo progressivo aqui e ali. Excelente!
-/-
Banda: Inthyflesh
Título: “Do Sangue que Verte Veneno”
Lançamento: 2014
Editora: Altare Productions
Género: black metal
Banda histórica do black metal portuense, os Inthyflesh são conhecidos pela sua sonoridade austera e melódica tão bem demonstrada em álbuns como “Claustrophobia” (2011). Pelo meio também há splits com Irae, Sentimen Beltza e Insalubre, mas aqui damos destaque ao EP em vinil single-sided limitado a 111 cópias. “Do Sangue que Verte Veneno” é um tema de cerca de 18 minutos composto por riffs repetitivos que se tornam hipnóticos e letras de grande qualidade ensandecida.
-/-
Bandas: Psychonaut 4 / Happy Days / Dødsferd
Título: “The Great Depression I”
Lançamento: 2013
Editora: Funeral Industries
Género: depressive black metal
Split com três projectos incontornáveis da cena depressiva, “The Great Depression I” é um item laudatório da negritude mais isolada do black metal. Composto por seis faixas (duas de cada banda), este lançamento é uma excelente visão da conduta urbano-depressiva que este trio vive dia após dia em países como Geórgia, EUA e Grécia, nações de onde são oriundos respectivamente.
-/-
Banda: Paysage d’Hiver
Título: “Das Tor”
Lançamento: 2013
Editora: Kunsthall Produktionen
Género: atmospheric black metal
Projecto pessoal do suíço Tobias Möckl (também conhecido pelos seus préstimos em Darkspace), Paysage d’Hiver é tido como um nome de culto que só tem demos e splits no seu currículo. No departamento de splits encontram-se lançamentos com Lunar Aurora e Drudkh, mas é a longa demo “Das Tor” (com quase 80 minutos) que se evidencia numa carreira de mais de 20 anos. Cru e altamente atmosférico, “Das Tor” representa o auge do black metal lo-fi pejado de riffs repetitivos e de ambiências naturais.
-/-
Bandas: Nakkiga / Omendark
Título: “Nakkiga / Omendark”
Lançamento: 2012
Editora: La Humanidad es la Plaga
Género: black metal
De Nakkiga podia escolher-se, por exemplo, o primeiro LP “Belebeltzeta” (2010), mas este split em vinil de 7″ com Omendark vence pela sua raridade (210 cópias) e pela beleza melódica, mas também um pouco depressiva e muito folclórica, que ambas as bandas do País Basco eternizaram neste lançamento. Excelente!
-/-
Banda: Acceptus Noctifer
Título: “Eterno Retorno”
Lançamento: 2012
Editora: Skull Productions
Género: depressive black metal
Posto em infinito descanso após um concerto na cidade do Porto em 2019, Acceptus Noctifer era um dos projectos pessoais de Tarannis (Inthyflesh). Para gáudio de ávidos coleccionadores, o músico nortenho juntou temas que ficaram de fora do álbum “Amores de Ofício” (2009) numa cassete limitada a 100 unidade com o título “Eterno Retorno”. Um must-have para quem deseja possuir um pedaço da história do black metal português.
-/-
Banda: Jazigo
Título: “Doutrinas Negras”
Lançamento: 2010
Editora: Frenteuropa Records
Género: black metal
Tesouro do black metal portuense, esta tape limitada a 200 cópias é viciante pela musicalidade melódica e cerimonial que ostenta, mas também pelas letras repletas de retórica opressiva que deixam os mais fanáticos com ganas de passar à prática. Ao fim dos seus quase 25 minutos de duração vais querer ouvir tudo outra vez. Precioso!

Metal Hammer Portugal
Ingested “Where Only Gods May Tread”
Reviews Ago 13, 2020
Blues Pills “Holy Moly!”
Reviews Ago 13, 2020
Rope Sect “The Great Flood”
Reviews Ago 12, 2020
SVNTH “Spring in Blue”
Reviews Ago 11, 2020
Silverstage: à moda antiga
Subsolo Ago 12, 2020
Rambomesser: música de acção
Subsolo Ago 12, 2020
Athanasia: na ponta do obelisco
Subsolo Ago 12, 2020
Till Die: sem tempo para tretas
Subsolo Ago 10, 2020