Desde tomar o leme de Slipknot a tirar a máscara em Stone Sour, Corey Taylor já foi ao inferno e voltou. Mas como conta... Corey Taylor (Slipknot): «Estava numa banheira, nu, a ser filmado, com duas miúdas a mijar em mim»

Desde tomar o leme de Slipknot a tirar a máscara em Stone Sour, Corey Taylor já foi ao inferno e voltou. Mas como conta à Metal Hammer, já sentia o calor há anos.

Nesta entrevista, temos Corey Taylor ao microscópio, e analisamos tudo: a sua vida em jovem, como descobriu a música e como se tornou numa das maiores estrelas do metal no mundo a liderar Slipknot e Stone Sour.

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Onde e quando nasceste?
Nasci a 8 de Dezembro de 1973 no Broadlawn Hospital em Des Moines, Iowa [EUA].

Como foi a escola secundária?
Basicamente, fui expulso no meu primeiro ano. Comecei um tumulto na cantina por causa da comida atroz. Pediram-me gentilmente para ir embora e atirei uma cadeira ao vice-director.

Quando é que começaste com a música?
O primeiro concerto que dei foi, na verdade, com Stone Sour. Foi em 1992, tinha 19 anos e estava tão nervoso. Fazíamos originais e covers, e dávamos três concertos de uma hora por noite. Fazíamos isso quatro ou cinco dias por semana. Basicamente, isso ensinou-nos uma ética de trabalho, estás a ver?

Já eras bastante ambicioso?
Absolutamente. Financiámos uma cassete que correu muito bem; cerca de 1000 cópias, penso eu. Mas basicamente era dinheiro da renda, da comida, da bebida… Costumava ir a um sítio chamado Billie Joe’s Picture Show todos os fins-de-semana para assistir ao The Rocky Horror Picture Show. Era aí que os desajustados iam. Eu e meu melhor amigo Danny éramos, basicamente, os reis dos ineptos. Se estivesses um bocado fora da norma em Des Moines, irias ao Billie Joe todos os fins-de-semana. Então eu ia até lá com um monte de cassetes, vendia-as por quase nada e bebíamos a noite toda. E era assim a vida! Foi divertido, havia muita liberdade. Eu não tinha um apartamento, por isso dormia no chão e nos sofás das pessoas, onde quer que desse. Era muito boémio, mas foi um óptimo momento para estar onde eu estava.

Por quanto tempo foste sem-abrigo?
Era e deixava de ser durante uns anos. Fui um sem-abrigo incondicional entre os 17 e 18 anos. Fui morar com a minha avó para fugir das drogas, fugir de tudo e endireitar-me. Tornei-me na porra de um pesadelo de miúdo. Então ela expulsou-me! E passei seis meses nas ruas. Foi aí que conheci o meu melhor amigo Danny. Eu até morava debaixo das pontes. Ao início, foi tudo muito romântico. Pesava cerca de 45kg, estava magricela. No Inverno andava com um saco de lixo ao ombro com as minhas merdas. E eu estava tipo: ‘Não posso mais fazer isto.’

Isso mudou-te?
Sim, completamente. Definitivamente, ensinou-me a não tomar nada por garantido, sabes? Vivi a minha vida inteira sem arrependimentos. Se passas a vida toda a lamentar-te das coisas que fizeste, então não progrediste.

Como te sentiste quando te ofereceram o lugar em Slipknot?
Eu estava no primeiro concerto de Slipknot. No dia seguinte, os Slipknot e os Stone Sour deram um concerto juntos, o que foi uma loucura, estás a ver? Mas lembro-me sempre de pensar para comigo próprio: ‘Quero cantar nesta banda.’ Assim, dois anos depois, eles pediram-me. Os Slipknot queriam as melhores pessoas da cena e, na altura, eu era o melhor vocalista de Des Moines. Eu estava tipo: ‘Isto é grande como o c*ralho.’ Porque, na época, ainda se era muito experimental e muito ecléctico, e eu adorava isso.

Deve ter sido estranho, de repente, tornares-te o maior frontman do metal e ninguém sabia como eras. Deve ter sido festança o tempo todo.
Lembro-me que estávamos na Inglaterra ou assim, era a digressão do “Iowa”. Quando rebentou mesmo. Quando estávamos todos fora de controlo. Lembro-me apenas de me ter deitado na banheira, nu, a ser filmado, com duas miúdas a mijar em mim. Foi uma tolice, mas foi muito divertido na altura. Ainda não tinha passado a linha para a escuridão. Ainda não estava tão mau assim. E lembro-me de olhar para a câmara: ‘Que merda estou eu a fazer?’ Era muito deboche, mas também era o momento da minha vida. E era viver para o momento. Ainda foi mais depois do 11 de Setembro. Quando isso aconteceu, fez-nos perceber onde estávamos. Mas, ao mesmo tempo, levou-nos a percorrer muitos caminhos que realmente não queríamos percorrer, caminhos pelos quais nos orgulháramos de não seguir.

Consegues identificar onde cruzaste a linha, quando as coisas começaram a escurecer?
Fui contra uma parede quando gravava o álbum “Vol. 3”. Estavam outras coisas a acontecer na minha vida que me deixavam abismal enquanto pessoa. Tinha sempre uma garrafa de Jack ao lado. Eu era o gajo que, à última, pedia quatro bebidas para poder beber até sair. Acordava em lugares diferentes e não sabia como tinha lá chegado. Com pessoas diferentes. Foi, realmente, ficando mau. Toda a minha aparência estava f*dida, estás a ver? Eu estava inchado. Cheirava a uísque quando suava.

Atingiste o auge a 14 de Novembro de 2003, quando tentaste saltar da varanda de um hotel.
Estive muito próximo de saltar. O meu amigo Tommy é que me agarrou antes de eu saltar. Acordei muito, muito confuso. Foi do pior que já senti. A última lembrança real que tinha daquela noite era a de estar encostado ao Viper Room, a vomitar no local onde o River Phoenix morreu. E a cuspir [o vómito] para as pessoas. Eu era o gajo com quem não querias sair quando estava bêbado. Era altura de parar de beber durante um tempo. E quando fiz isso, senti-me muito bem, mesmo. Clarificou-me muita merda.

Quão fácil foi evitar o álcool na estrada?
As duas primeiras digressões sem beber foram muito difíceis. Mas encontrei o equilíbrio e descobri como ser eu mesmo sem a porra do Jack & Coke na mão. E acho que foi a coisa mais importante para mim – ‘Quem diabos sou eu sem bebida?’ Do tipo, ‘quem diabos sou eu sem ser aquele tipo da festa?’ Na altura não sabia.

Encontraste-te com o teu pai pela primeira vez recentemente. Parece que isso ajudou-te a resolveres-te.
Ajudou definitivamente. Encontrar o meu pai foi um dos pontos mais monumentais da minha vida. Agora tenho um grande relacionamento com ele. É um relacionamento que eu nunca pensei que teria. O meu pai é um dos tipos mais porreiros do planeta – ele é um ser humano quente e doce como o caraças. Isto ajudou-me bastante. Ajudou-me com o meu próprio filho, que cuido mais do que tudo neste planeta. Eu sabia mais ou menos quem eu era, mas conhecer o meu pai e perceber que há tanto dele em mim, ajudou-me mesmo a ficar mais direito. Isso ajudou a fortalecer as minhas convicções.

O teu pai sabia alguma coisa sobre Slipknot?
Ele não sabia, mas assim que eu lhe disse, começou a ver t-shirts de Slipknot e de Stone Sour em toda a parte! Ele ficava do tipo: ‘Jesus! Meu Deus!’ Está muito orgulhoso. Ele foi a um concerto dos Stone Sour em Sacramente, eu dediquei-lhe a “Bother” e conseguia vê-lo no público. E começou a chorar. Eu comecei a berrar, meu! É uma daquelas coisas em que ainda tento perceber como descrever, sabes?

Como te sentes agora?
Estou realmente num bom momento da vida. Tenho conseguido muito com a minha vida e isso faz-me querer fazer ainda mais. Quero muito ir mais além e fazer tudo. Todos esses novos sonhos estão a acontecer. Quero escrever um livro. Quero trabalhar num guião e numa banda-desenha. Quero fazer uma cena spoken-word. Quero fazer um álbum acústico. Quero um álbum country! Provavelmente vou acabar por abrir um bar em Des Moines. Ainda lanço discos da Great Big Mouth. Quero ser um idiota e usar a minha notoriedade para entrar num filme! Quero escrever música para outras pessoas que estão tão fora do meu género que as que sabem alguma coisa sobre mim vão ficar tipo ‘o quê… ?!’. Escrevi uma música para o Robbie Williams. Adoro o Robbie Williams. Ele é incrível. Parto-me a rir com ele, é um óptimo entertainer, é um cantor incrível. Adoro a energia que ele tem. Sei que, provavelmente, vou perder pontos com algumas pessoas por isto, mas simplesmente adoro-o, acho-o excelente.

Há uns anos surgiu uma notícia que dava conta da tua morte.
Sim, isso aconteceu oito vezes, meu! A última vez foi mesmo a sério: um locutor numa rádio de Chicago começa a dizer às pessoas que estou morto. Os meus amigos começam a telefonar-lhe: ‘Ele não está morto, c*ralho!’ A minha avó ouviu isso, começou a chorar descontroladamente, então tive de ligar para a porra da minha família toda e avisar! Foi tão mau que na festa de aniversário do meu filho, o jornal local apareceu a pensar que estavam numa vigília pelo meu funeral. E eu a cortar o bolo dele! Então, vim a correr pelo jardim a gritar: ‘Não estou morto!’

Portanto, não foi uma piada muito boa.
Não. Nunca darei uma entrevista àquele locutor [que começou o boato]! Até pode beijar-me o rabo. Podes dizer a merda que quiseres sobre mim, mas fazer a minha avó chorar? Estás morto para mim. A sério. F*de-te. Come um saco de merda, seu c*nas sem alma.

Mas se morresses amanhã, qual seria o teu epitáfio?
‘Que raio aconteceu a este gajo?’

Consultar o artigo original em inglês.

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