Por esta altura já pouco será necessário contextualizar a situação do heavy metal na década de 1990 – por um lado, a popularidade deste...

Por esta altura já pouco será necessário contextualizar a situação do heavy metal na década de 1990 – por um lado, a popularidade deste género musical perdia terreno para o grunge; por outro, no underground, a cena extremava-se a todos os níveis na Noruega com black metal e revolucionava-se na Suécia e nos EUA com death metal. Enquanto isto, Nirvana reinava com Cobain vivo ou morto e bandas como Metallica e Iron Maiden lançavam os discos menos bem-recebidos da sua história.

Em 1993, Bruce Dickinson deixava os Iron Maiden para continuar uma carreira a solo que já tinha sido iniciada em 1990 com o álbum “Tattooed Millionaire”. Um vazio na banda britânica que se acentuava cada vez mais, já depois de Adrian Smith ter saído em 1989, dando lugar a Janick Gers que já era conhecido de Dickinson, pois tinha estado ao seu lado no álbum debutante de 1990.

A carreira a solo de Bruce Dickinson não é perfeita – longe disso –, mas a sua fase final nos anos 1990 revelou-se estonteante com o fabuloso “Chemical Wedding” a sair em 1998 e o live “Scream For Me Brazil” a ser lançado em 1999.

A América do Sul sempre foi, e crê-se que sempre será, um bastião do heavy e do power metal, e Dickinson sabia o peso que os Iron Maiden tinham – e ainda têm – no Brasil, assim como o seu próprio nome. Era óbvio que esse país sul-americano tinha de ser incluído na digressão de promoção a “Chemical Wedding” – por isso, a formação de estúdio composta por Bruce Dickinson, Adrian Smith, Roy Z, Eddie Casillas e Dave Ingraham actuou em São Paulo a 25 de Abril de 1999 e captou-se um concerto que, passados tantos anos, continua na memória colectiva de qualquer fã de heavy metal – e, sim, tem das capas mais feias de sempre.

Claramente a incidir em “Chemical Wedding”, metade de “Scream For Me Brazil” relaciona-se ao longa-duração de 1998 com interpretações de “Trumpets of Jericho”, “King in Crimson”, “Chemical Wedding”, “Gates of Urizen”, “Killing Floor”, “Book of Thel” e a sing-along “The Tower, para depois se abrir o livro e entoarem-se hinos do catálogo anterior, como a emocionante “Tears of the Dragon”, “Laughing in the Hiding Bush”, “Accident of Birth”, “Darkside of Aquarius” e a cativante “Road to Hell”. De fora do alinhamento final ficaram seis temas tocados e ouvidos nessa noite em São Paulo – três de Iron Maiden (“Powerslave”, “2 Minutes to Midnight” e “Flight of Icarus”) e três pertencentes à carreira a solo do vocalista (“Jerusalem”, “Taking the Queen” e “Tattooed Millionaire”).

Suportado por um line-up de luxo (quem não quer Adrian Smith na sua banda?), na altura com 40 anos, o vocalista inglês mostrava passar por uma forma inesquecível (ouvi-lo em “Scream For Me Brazil” continua a ser arrepiante) que se transportaria novamente para os Iron Maiden, quando, ainda em 1999, regressava à Dama de Ferro com o colega e amigo Adrian – uma exigência de Bruce.

Desta forma honrosa, “Scream For Me Brazil” fechava brilhantemente um ciclo de seis anos e reabria outro, com Iron Maiden, que, em ressurreição, continua a somar anos de vida.

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