Editora: Candlelight Records
Data de lançamento: 19.06.2020
Género: death/doom metal
Nota: 4.5/5
O terceiro capítulo na história dos Atavist trata duma viagem emocional, numa visão ciclópica e espiritual, angustiante e obstinada, apontada aos lugares mais recônditos da alma, onde escondemos os nossos sentimentos mais aterrorizadores.
“III: Absolution” é o terceiro álbum dos Atavist, uma banda de death/doom metal liderada por Chris Naughton, também guitarrista e vocalista em Winterfylleth. Arredados das edições desde 2007, ano em que lançaram “II: Ruined” pela Profound Lore Records, a banda destes doomsters oriundos de Manchester voltou a reunir-se em 2017 para assinar pela Candlelight Records. O baixista Shane Ryan (Pine Barrens), o baterista Callum Cox (Satanic Dystopia) e o vocalista Toby Bradshaw (Cowards) completam a formação original aqui presente. Para além dos elementos acima referidos, há a destacar as participações no violoncelo de Jo Quail (Mono, My Dying Bride), da violinista Bianca Blezard (Winterfylleth, Gatecrasher) e de Mark Deeks (Winterfylleth, ARD) nos teclados e sintetizadores. Importa referir ainda que a gravação e produção ficaram a cargo de Chris Fielding (Primordial, Napalm Death, Winterfylleth, Electric Wizard), enquanto James Plotkin (Khanate, Jodis, Old Lady Drivers) foi o responsável pela masterização.
O terceiro capítulo na história dos Atavist trata duma viagem emocional, com a duração de cerca de uma hora, numa visão ciclópica e espiritual, angustiante e obstinada, apontada aos lugares mais recônditos da alma, onde escondemos os nossos sentimentos mais aterrorizadores. Estas quatro composições fazem-nos navegar e submergir numa experiência sensorial induzida por atmosferas densas e austeras, resultantes da paleta sonora de tons negros e monocromáticos de que os Atavist se servem para nos impressionar, capazes de transmitir e espelhar esse lado tão obscuro da nossa condição. Desenganem-se os que aqui vêm em busca de qualquer tipo de absolvição ou indulgência, pois nenhuma graça vos será concedida. “III: Absolution” é uma longa e tortuosa expiação cuja vivência resiste para além do fim do álbum e continua a ressoar numa estranha vibração.
“Loss”, “Struggle”, “Self Realisation” e “Absolution” são quatro temas com mais ou menos 15 minutos cada um, e só a terceira faixa não ultrapassa os dez minutos. Quatro temas que acabam por transmitir, pela forma como são estruturados a partir do seu interior e entre si, considerando uma análise extensível ao conjunto do alinhamento, a estranha e inebriante sensação de que nos cerca um labirinto monolítico. Fica-nos a impressão de que assistimos a uma única peça que se desenrola exclusiva e continuamente a partir de um só trecho musical e que se vai metamorfoseando ao longo de todo o álbum, desmultiplicando-se em sucessivas variações. A voz rosnada com agressividade e imperceptível não acrescenta qualquer valor lírico, funciona antes como um adorno adicional reforçando o tom melodramático de certos instantes. O difícil equilíbrio entre os pesados fragmentos sonoros, rodeados de constantes explosões de energia num contexto fatalista, alimenta a tensão constante na origem dos vibrantes teclados atmosféricos que melhor definem “III: Absolution” a par das paisagens desoladoras e inóspitas.
Dada a natureza do álbum, cuja carga emotiva e sensorial assenta na arquitectura megalítica e minimalista das composições e na forma resumida por que explora os recursos dos diferentes instrumentos, os Atavist colocam a tónica na tapeçaria de texturas sonoras desoladoras, mas envolventes, num registo muito influenciado pela música ambient. O resultado é esta sonoridade elaborada e efervescente, capaz de se expandir ruidosamente e de, seguidamente, se silenciar abruptamente, de criar espaços melancólicos e harmoniosos onde solta a poesia ou, sobretudo, de recriar estados de espírito em que a dor alastra e o medo se instala, de desespero profundo. O terceiro álbum dos Atavist é um álbum de doom atmosférico muito consistente e pesadão, temperado com algumas referências do gothic e black metal, que reflecte influências de My Dying Bride, Paradise Lost ou Type O Negative, e se destaca entre as melhores edições do primeiro semestre de 2020.

Metal Hammer Portugal

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