A história de “Toxicity”: como o grande sucesso dos System Of A Down ganhou vida
Artigos 4 de Setembro, 2020 Metal Hammer
“Toxicity” deveria ser o maior triunfo dos System Of A Down. No entanto, o seu lançamento também foi perseguido por tumultos, ofensivas dos media e uma associação imbecil aos ataques do 11 de Setembro que mudariam tudo.

É seguro dizer que toda a gente sabe onde estava a 11 de Setembro de 2001, o dia em que o mundo mudou para sempre. O baixista dos System Of A Down, Shavo Odadjian, estava em casa em Los Angeles, a preparar as suas coisas e a preparar-se mentalmente para a digressão Pledge of Allegiance com Slipknot.
O telefone de Shavo estava a tocar sem parar, mas ao princípio ignorou – estava demasiado ocupado para atender chamadas. Quando finalmente atendeu, era a sua mãe a dizer para ele ligar a TV. Ligou-a mesmo a tempo de ver a segunda torre do World Trade Center cair. Depois o seu outro telefone tocou. Desta vez, era o seu agente a dizer que o novo álbum dos System Of A Down, “Toxicity”, estreou no Número Um das tabelas da Billboard.
«Ouvi isso no mesmo minuto em que soube que o 11 de Setembro estava a acontecer!», diz. «Por isso foi um momento muito agridoce.»
Ambas as coisas foram um choque à sua maneira – uma enorme, outra menor, mas ainda assim significativa para Shavo e para os seus colegas de banda. Os EUA não são atacados no seu próprio solo. E estranhas bandas arménias de metal não chegam ao Número Um das tabelas. Embora, em retrospectiva, tudo estivesse a alinhar-se a favor deles.
Os System fizeram o trabalho de base com a sua brilhante e homónima estreia de 1998. Eram uma banda que causava burburinho, ganhando atenção rapidamente e mudando-se constantemente para salas maiores. O crescente exército de fãs estava ansioso para ouvir o que fariam a seguir.
«A pressão estava em altas», admite Shavo, «mas o Daron [Malakian, guitarrista] tinha muitas músicas escritas e eu tinha algumas, e estávamos prontos para ir em frente e fazer outro disco. Foi emocionante, porque com o primeiro disco, que não produzimos em excesso, fizemos uma gravação mais à punk rock, e podem ver isso na diferença da gravação. Mas fizemos isso, então teríamos onde ir com o segundo e o terceiro. Estávamos ansiosos para chegar lá e usar mais a board, fazer mais tracks de guitarra, estás a ver? E passámos mais tempo no estúdio com o “Toxicity” do que com o primeiro.»
Somente na pré-produção, a banda compôs 35 músicas que seriam espalhadas entre “Toxicity” e “Steal This Album” de 2002! Também trouxeram uma ampla variedade de instrumentos, incluindo cítara, banjo, piano, teclados e um oud arménio, um instrumento semelhante ao alaúde.
«Sim, o Daron estava lá como um maestro», sorri Shavo. «Quero dizer, uma banda é uma equipa e deixas as pessoas fazerem o que elas são boas a fazer, e assim complementa-las com o que és bom. Todos deram o que deram, mas ele fez tantas tracks de guitarra e instrumentos que era como uma criança numa loja de brinquedos! Com “Toxicity”, o Daron realmente apareceu e brilhou. O Serj [Tankian, vocalista] também teve muito a ver com as vozes e não foi como takes normais.»
Quando Shavo diz isto, não está a exagerar. O vocalista esforçou-se para levar seu estilo vocal já único a áreas completamente diferentes. A banda gravou parcialmente o álbum em casa do produtor Rick Rubin e, a certa altura, Serj montou uma tenda no estúdio de Rubin e cantou dentro dela. Outra vez, decidiu, literalmente, mudar as coisas.
«O Rick tinha uma daquelas coisas de exercícios», diz Shavo, «então penduraram o Serj de cabeça para baixo e fez algumas faixas.»
Essa abordagem aventureira foi a bússola pela qual toda a banda orientou o álbum. Prestaram pouca atenção ao que alguém poderia querer – um golpe de mestre em retrospectiva. «Não havia como dizer ‘vamos ser bons o suficiente?’», diz Shavo. «Estávamos apenas a fazer o que fazemos, e se pensássemos se as pessoas gostariam disso, nunca faríamos o que fazemos. Nunca pensamos se as pessoas gostariam do nosso estilo e nunca fizemos o nosso estilo para a rádio porque não estavam a passar isto de todo.»
As pistas de que “Toxicity” se tornaria num dos álbuns metal mais badalados do início do Séc. XXI estavam lá antes mesmo do lançamento do álbum. Após concluírem a gravação, os System organizaram um concerto promocional gratuito num estacionamento no Schrader Boulevard de Hollywood a 3 de Setembro de 2001, um dia antes do lançamento de “Toxicity”.
O local podia receber cerca de 5000 pessoas, mas era o Dia do Trabalhor, um feriado público, e havia mais de 15000 fãs a inundar as ruas. O chefe dos bombeiros encarregado encerrou o concerto. Previsivelmente, o público não ficou nada feliz e revoltou-se prontamente.
«Lembro-me de estar na parte de trás com a minha família», diz Shavo, «e fiquei preocupado porque meu irmão mais novo e os seus amigos estavam na multidão e ouvimos todo aquele tumulto a acontecer. Eu continuava a implorar ao chefe dos bombeiros, do tipo: ‘Vamos apresentar-nos e tocar três ou quatro músicas’, mas ele disse: ‘Não, não podem fazer isto.’»
Exatamente no mesmo momento, as autoridades decidiram retirar a tarja da banda do palco e tudo explodiu. «Os miúdos enlouqueceram – começaram a destruir os nossos equipamentos e tivemos que ter uma escolta policial», diz Shavo, que estima que o dano causado nos seus equipamentos totalizou 30000 dólares.
A banda teve uma escolta policial para o hotel mais próximo para sua própria segurança. Lá, tiveram a visão surreal de assistir pela TV ao tumulto que acontecia a poucos quarteirões de distância.
«Estávamos no noticiário de todos os canais», diz Shavo. «Tiraram fotos de onde deveríamos estar a tocar e havia pessoas a lutar com a nossa equipa. O meu técnico de baixo estava a mandar murros, tentando proteger o meu equipamento, e havia pessoas umas contra as outras. Um tubo atingiu um dos nossos na cara e partiu os dentes todos. Foi uma loucura.»
Mal sabia a banda – ou o chefe dos bombeiros –, mas tudo isto ajudou a elevar a imagem dos System. «A imprensa enlouqueceu com isto, então a nossa pequena banda ficou um pouco maior», ri Shavo. «Foi do tipo, ‘esta banda de arménios está a causar um tumulto em Los Angeles e lançarão um álbum amanhã’.»
Mas se os System Of A Down eram uma grande novidade quando lançaram o álbum, tornaram-se ainda maiores quando atingiram o Número Um, embora não necessariamente pelas razões certas. Num espaço de dias, começaram a ter airplay da faixa “Chop Suey!”, que foi abandonada pela estações de rádio que acharam que as suas referências líricas a ‘suicídio auto-justificado’ e anjos moribundos estavam muito próximas do 9/11. E depois as coisas começaram a ficar realmente estranhas.
«Disseram que o álbum inteiro estava relacionado ao 11 de Setembro», revela Shavo, «e havia perguntas sobre a música “Jet Pilot”, porque disseram que era uma premonição. Quero dizer, houve algumas notícias malucas! Toda a gente começou a reparar em nós e porque pensavam que a Arménia era no Oriente Médio, ficavam do tipo: ‘Oh meu deus! Eles são um deles!’ Havia muita estranheza.»
Essa histeria teve um impacto muito real em System Of A Down. Decidiram adiar a digressão de promoção a “Toxicity”. Quando finalmente foram para a estrada, ainda encontraram alguma resistência. Num concerto em Grand Rapids, Michigan, Shavo foi alegadamente atacado por um segurança após o espectáculo.
«Eu estava a tentar chegar aos bastidores», diz. «Tinha o meu passe, e eles a modos que me bateram e mandaram-me para fora da arena. Tinha acabado de sair do palco, mas esses filhos da puta simplesmente não gostavam de mim por qualquer motivo. Foi um momento stressante.»
Apesar do stress e da estranheza, Shavo relembra “Toxicity” como um ponto-chave na carreira dos System. O disco transformou-os de uma roupagem brilhantemente aventureira em genuínos melhores do mundo. O mesmo “Toxicity” vendeu 12 milhões de cópias mundialmente, enquanto as suas músicas – “Chop Suey!” entre elas – são ícones das estações de rádio de rock por todo o globo.
«Algumas das músicas são aquelas com as quais as pessoas cresceram, e isso é uma loucura para mim», diz Shavo sobre o legado “ Toxicity”. «Isso também fez com que muitas pessoas tentassem tocar música e experimentar mais. Isto tornou-as mais criativas e fez delas artistas, e isso é realmente importante para mim. Se inspiras alguém, então estás a fazer algo certo. Fez com que cantar e gritar e falar, tocar duro e suave, fosse aceitável, e tudo bem, porque é a vida. A vida é toda uma emoção.»
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Consultar artigo original em inglês.

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