No pico da popularidade do nu-metal, saía a 29 de Junho de 1999 o primeiro longa-duração dos Slipknot, uma banda do Iowa que, em...

No pico da popularidade do nu-metal, saía a 29 de Junho de 1999 o primeiro longa-duração dos Slipknot, uma banda do Iowa que, em primeiro, caracterizava-se claramente pela estética com os fatos-de-macaco e as máscaras horripilantes de monstros noctívagos, serial killers e palhaços, e em segundo pela inovação sonora que misturava metal, DJing e algumas influências no rap. Décadas depois percebemos que uma não se sobrepunha à outra e vice-versa – as duas facetas complementavam-se, como provam os concertos esgotados e os milhões de discos vendidos. Ainda hoje dividem opiniões pelo simples facto de terem sabido operar na indústria, transportando-se a si mesmos para além das fronteiras (cada vez menos) restritas do metal, como só uns Metallica ou uns Iron Maiden conseguiram fazer.

Quem também sabia o que fazer era a MTV. Entre 1998 e 2003 – uns meros cinco anos –, a indústria percebeu que a música só tinha dois caminhos: hip-hop ou nu-metal. Assim, quem ligasse a televisão e sintonizasse na MTV ou na SIC Radical (surgida em 2001), percebia que tinha de escolher entre Eminem, Snoop Dogg e Nelly ou Slipknot, Korn, Limp Bizkit, Papa Roach e Linkin Park. De um lado da contenda reinava Eminem, do outro liderava Slipknot.

A controvérsia de “Purity”
O disco seria relançado em Dezembro do mesmo ano devido a violação de direitos de autor, sendo que, consequentemente, “Frail Limb Nursery” e “Purity” seriam faixas a desaparecer do alinhamento do álbum. A razão: no website Crime Scene, Corey Taylor tinha descoberto Purity Knight, uma rapariga que tinha sido raptada e enterrada viva; assim, e julgando que se tratava de uma história verídica, o vocalista pôs a caneta a funcionar. Todavia, e sem nenhum disclaimer apresentado nessa plataforma digital, os artigos ali publicados eram ficcionais. «Ainda acho que a história é real», diz Taylor no livro “Slipknot: Inside the sickness, behind the masks”, de Jason Arnopp. Em 2011, numa sessão Q&A, Corey Taylor dizia que a música tinha sido composta cinco anos antes do seu lançamento e que apenas o título fora inspirado na história de Purity Knight, uma vez que o grosso das letras era influenciado por filmes como “Boxing Helena” e “The Collector”. “Me Inside” é a substituta de ambas as faixas retiradas.

Slipknot versus Limp Bizkit
O auge do sucesso reflecte-se muitas vezes no auge da picardia, e quem melhor para assumir um papel neste tipo de fait-divers? Fred Durst, claro! Naquela altura, os Limp Bizkit eram como os cães que detestavam que outros canídeos invadissem a sua área; portanto, o caos, com auxílio dos media, estava instalado. «Alguém em Limp Bizkit teve a audácia de dizer a um bom amigo nosso, uma fonte muito fiável, que os fãs de Slipknot não passam de uns miúdos gordos e feios», disse Taylor na televisão. «Sabem o que disse a isso?», continuou, «primeiro, sou um miúdo gordo e feio; em segundo, uma parte dos fãs de Slipknot gosta de todo o tipo de música – como Limp Bizkit, talvez –; portanto, basicamente estás a dizer que os teus fãs também são miúdos gordos e feios?» «Nós matamos-te!», gritou Taylor em direcção à câmara. Boy, that escalated quickly…!

Legado
Passadas duas décadas, “Wait and Bleed”, com aquela falsa doçura inicial, é uma das canções mais esperadas num concerto da banda norte-americana e “Spit It Out” é o orgasmo de adrenalina com o mítico jump da fuck-up em que milhares são incitados a agacharem-se até ser entoada a expressão que fará explodir todo o recinto num só salto e consequente mosh. Mais uma vez, quer se goste ou não, poucas bandas, seja de que estilo musical forem, conseguem tal proeza: a de ter um público inteiro na mão.