The Unguided: «Há excelentes histórias em “Father Shadow”»
Entrevistas 30 de Setembro, 2020 Diogo Ferreira
Renascidos das cinzas de Sonic Syndicate, os The Unguided já contam com uma carreira de 10 anos recheada de uma combinação entre riffs/berros death metal, refrãos melódicos e camadas electrónicas, e chegam ao quinto álbum com “Father Shadow”. Em conversa com o vocalista Richard Sjunnesson, o sueco fala-nos da evolução da sua banda e da satisfação que se sente ao criar música, mas sempre com a postura humilde de ter os pés assentes na Terra, mesmo que The Unguided seja sinónimo de sucesso.
«Estou muito satisfeito com o que os The Unguided alcançaram na última década.»
Richard Sjunnesson
Após anos de ortodoxia e algumas desvantagens comerciais durante os anos 90, o metal reviveu no início do novo século, principalmente depois de 2010. Por exemplo, o black metal evoluiu para conceitos mais atmosféricos e existencialistas, o death metal está melhor do que nunca com novas bandas a fazerem um som old-school com um perfume contemporâneo, mas achamos que o foco principal está virado para a forma como as bandas de metal têm vindo a incluir elementos electrónicos. Os In Flames abriram novos caminhos para bandas como Sonic Syndicate (agora The Unguided) e Amaranthe, e estas duas bandas abriram caminhos ainda mais novos para bandas recentes que as pessoas começaram a rotular como pop metal. Concordas que estamos no meio de uma revolução metal desde 2010? Quão satisfeito estás com o que os The Unguided conseguiram?
Consigo concordar até certo ponto. Acho que fomos mais influenciados por bandas como Dark Tranquillity, Soilwork e Children of Bodom, que, no início de 2000, já eram bandas muito electrónicas. Acho que In Flames, sendo nossos pares, tornaram tudo um pouco mais comercial, e com Sonic Syndicate pegámos em todas as influências e tentámos fazer as nossas próprias coisas com isso. Com a formação de The Unguided em 2010, ainda tínhamos essa fórmula e também incorporámos o Pontus Hjelm (Dead By April) para co-produzir os nossos sintetizadores em todos os álbuns desde o estreante, e isso está a ganhar muito espaço nas nossas músicas. Consigo ver o que queres dizer com as coisas a ficarem cada vez mais electrónicas e digitais na indústria metal, mas acho que para “Father Shadow” nós queríamos peso, garra, que fosse mais afiado e que fosse mais in-your-face do que o nosso trabalho anterior. Portanto, eu diria que vai numa direcção um pouco diferente, enquanto o álbum anterior “And the Battle Royale” se inclinou mais nessa tendência electrónica. Estou muito satisfeito com o que os The Unguided alcançaram na última década e também por termos conseguido lançar cinco álbuns. Nada mal para uma banda com um passatempo profissional. [risos]
Sempre achámos que The Unguided é uma banda muito preocupada com os acontecimentos actuais e com os sentimentos das pessoas. No novo álbum, quais são os aspectos mais importantes quanto às letras?
Diria que temos um pouco de ambos. Todos os nossos álbuns são semi-conceptuais, o que significa que há uma história subjacente na qual 50% das letras e músicas são baseadas. A história é completamente fictícia, mas nas canções o drama ou o conflito humano são abordados à medida que os personagens se desenvolvem na história. Gosto de escrever coisas fictícias e contar histórias, mas também escrevo letras que são mais situações da vida quotidiana, o que é um diário para mim, ao tentar colocar a minha própria alma e coração nas letras com as minhas próprias visões. Às vezes, são globais e, noutras vezes, são apenas pedaços da minha própria vida numa roupagem metafórica. Há excelentes histórias em “Father Shadow”, sejam elas fictícias ou reais. Acho que são todas importantes e com as quais as pessoas se identificam – como sempre, com música e letras. Se apanhares o sentimento de uma música ou de um texto e isso significar algo para ti, isso é que importa. O significado real é secundário. Os sentimentos de quem ouve são mais importantes.
Além de estarem no palco, dirias que uma das coisas mais divertidas em The Unguided é misturar riffs de death metal com refrãos melódicos e cativantes? É um marco infalível em The Unguided!
Acho que, na banda, todos concordamos que adoramos peso, mas também gostamos de refrãos hooky, portanto é-nos muito natural. Para nós, nunca é sobre o que é considerado comercial, é sempre sobre o que é melhor para a música e o que nós queremos ouvir verdadeiramente. É sempre assim que trabalhamos. Criamos a música que gostaríamos de ouvir, e como adoramos os aspectos pesados e grandes refrãos melódicos, isso acaba geralmente por entrar nas nossas músicas.
Concordas que os The Unguided surgiram com as melhores e mais selvagens hooklines da carreira com este “Father Shadow”?
[risos] Diria que é um pouco cedo para dizermos isso, já que vivemos e respiramos o álbum há alguns meses. É difícil objectivar. Acho que tem de chegar ao mercado, e precisamos de nos distanciarmos até que possamos ter a certeza. Mas, logo no início, recebemos indicações muito boas vindas dos nossos amigos de que tínhamos algo bom aqui – estamos muito orgulhosos do álbum e pode muito bem ser o melhor que lançámos até agora. Mas é um pouco cedo para se dizer isso. Veremos se alguma das músicas vai destronar a nossa favorita, a “Phoenix Down” (2011), e qual é o poder de permanência que as músicas obtêm a longo prazo – acho que isso é que é realmente importante.
Sendo os elementos electrónicos / orquestrais o lado épico e mais brilhante de “Father Shadow” e os berros / guitarras death metal o lado mais áspero, quão arduamente trabalharam à volta disso para soarem como um só e não como uma coisa separada entre preto de um lado e branco do outro? Ou por outras palavras: já está tão embutido na banda que nem batalham mais com isso?
Acho que nos três primeiros álbuns entendemos isso muito bem, já que eram as mesmas pessoas e dinâmicas com que trabalhámos em Sonic Syndicate. Em “And the Battle Royale”, quando o Jonathan [Thorpenberg, voz limpa, guitarra] entrou, tivemos que nos reinventar um pouco e descobrir uma nova fórmula. Esse álbum em particular pode ter sido um pouco segregado quando se trata de toda a dinâmica pesada / suave. Portanto, foi um bocado tentativa-erro, enquanto em “Father Shadow” acertámos em cheio. É muito natural e é sempre sobre o que achamos melhor para a música. Não pensamos muito nisso. Quando ouvimos os instrumentais, sentimos as diferentes partes e apenas consideramos que vozes funcionam melhor nos diferentes segmentos.
O novo álbum tem algumas covers de Sonic Syndicate no fim. O que vos fez recuperar o passado e dar-lhe um novo visual musical?
Temos sido muito cuidadosos com o material de Sonic Syndicate em The Unguided, já que queríamos ser nós próprios e ter as nossas próprias músicas estabelecidas. Percebemos que, em oito anos de banda e quatro álbuns, já não nos importávamos muito mais com isso. Em 2018 começámos a tocar a “Denied” ao vivo e para a digressão de 2018 também adicionámos a “Jack of Diamonds”. Quanto à gravação do álbum, dissemos que íamos apenas gravar [as covers] como uma pequena surpresa, pois sabemos que ainda há interesse nas músicas clássicas. Adicionámos a “Jailbreak” para completar os singles dos três primeiros álbuns de Sonic Syndicate, e fizemo-las à nossa maneira.

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