Terra Brasilis: Gangrena Gasosa e a genialidade do saravá metal
Entrevistas 25 de Fevereiro, 2021 Jéssica Mar
Gangrena Gasosa surgiu como uma brincadeira e hoje é uma banda única ao incorporar elementos da cultura e religião afro-brasileiras com heavy metal e hardcore. Formada no início dos anos 1990, mexeu com o underground brasileiro pela mistura de metal com umbanda, dando origem ao saravá metal. Fez muito sucesso nos anos 1990 e segue actualmente com nova formação e novos lançamentos.
A brincadeira começou nos locais de rock e skate, com os membros a misturarem com gozo símbolos de macumba e elementos da cultura alternativa do início daquela década. «A primeira e principal influência da banda no início foi Ratos de Porão. Inclusivamente, a banda foi formada com o objectivo de abrir um concerto de RxDxPx.»
O grupo vai além da parte musical, incorporando elementos das religiões afro-brasileiras nas letras e no visual, em que cada integrante encarna uma entidade ou santo, tornando o concerto um verdadeiro espectáculo que vai além da música. Devido à temática dos Gangrena Gasosa, a banda sofre de muito preconceito e intolerância de várias partes, sendo comum verem-se notícias sobre terreiros de candomblé e umbanda a serem depredados, e é claro que já enfrentaram casos de intolerância religiosa. «Quando o nosso DVD “Desagradável” foi lançado, virámos conteúdo no site evangélico Gospel Prime, que foi compartilhado pelo Silas Malafaia (pastor famoso no Brasil). Nessa ocasião, as nossas redes sociais e e-mails foram soterrados de ameaças espirituais e físicas. Os mais moderados diziam que queriam ver-nos esquartejados, a arder no fogo do inferno. Alguns disseram que fariam isso fisicamente.»
As letras completam o estilo da banda, fazendo fortes críticas à religião com muito humor – motivo para a banda ser mais perseguida do que nunca. Algumas dessas músicas são “Fiscal de Cu”, “Engodo We Trust” ou “Se Deus é 10, Satanás é 666”. «É o procedimento do Exu, que a brincar fala muito a sério. Humor é a forma mais eficiente de confrontar qualquer coisa e é a essência da banda. E está cada vez mais difícil o humor competir com as merdas que acontecem por aqui. O roteirista do ‘Brasil’ está muito doido.»
«Quando lançámos o nosso DVD, sofremos ameaças espirituais e físicas por parte de alguns evangélicos.»
Angelo “Zé Pelintra” Arede
O grupo sofreu várias mudanças na formação, mas a actual é a melhor e mais produtiva, e conta com Angelo “Zé Pelintra” Arede e Eder “Omulu” Santana (vozes), Minoru “Exu Caveira” Murakami (guitarra), Diego “Tranca-Rua” Padilha (baixo), Gê “Pomba Gira” (percussão) e Alex “Exu Tiriri” Porto (bateria). «Esta formação é aquela que dá gosto sair de casa para ensaiar. Além de serem meus amigos, são artistas incríveis, dá prazer tocar e estar com eles», conta o líder e vocalista Angelo Arede.
Nestes 30 anos de carreira, com boa aceitação no underground brasileiro, os Gangena Gasosa já tocaram na Europa, levando consigo um pouco mais da cultura brasileira. O último lançamento foi “Gente Ruim Só Manda Lembrança Pra Quem Não Presta” de 2018, e, devido à pandemia, a banda fez uma pausa nos concertos e na promoção do disco. Contudo, já há planos para quando o mundo voltar ao normal. «Primeiro estamos a preocupa-nos em ficar vivos!», e entretanto estão a compor um novo disco, pretendendo levar o saravá metal para fora do país mais uma vez. E nas palavras de Angelo “Zé Pelintra” Arede: «Não importa se és headbanger, macumbanger ou as duas coisas – se curtes som porrada, tens de participar de verdade na cena do teu bairro, da tua cidade. A música pesada nunca vai ter destaque na imprensa mainstream – somos nós por nós mesmos. Apoiem a cena local.»

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