Queen “Innuendo”: o espectáculo tem de continuar!
Artigos 4 de Fevereiro, 2021 Diogo Ferreira
Em 1990, a imprensa estava esfomeada pela confirmação de um segredo que o era cada vez menos. Dia e noite, repórteres cercavam a casa de Freddie Mercury em West London. O intento comum dos soldados do microfone e das objectivas? Confirmar que o vocalista dos Queen tinha SIDA e que estava a morrer.
A banda afirmava que o seu frontman não estava doente, mas a verdade é que “The Miracle”, álbum de 1989, não fora devidamente promovido em digressão, algo imensamente anormal quando se trata de uma das bandas mais explosivas da história do rock. Para se dar ainda mais razão à especulação, a última aparição pública de Freddie Mercury aconteceu nos BRIT Awards em Fevereiro de 1990, com Brian May a falar pela banda, enquanto o vocalista já se mostrava debilitado. Na verdade, Mercury testou positivo para VIH em 1987, mas numa época sem redes sociais, ainda que com tablóides desenfreados, os Queen conseguiram manter silêncio absoluto.
Gravado entre inícios de 1989 e finais de 1990 em Londres e Montreux, “Innuendo”, lançado em Fevereiro de 1991, mostrou-se estar longe de ser um disco enfermo, como se pode ouvir com o épico tema-título em modo flamenco meets heavy metal, a roqueira “Headlong”, a efervescente “I Can’t Love with You”, a gospel “All God’s People”, a exótica “Delilah” ou a derradeira “The Show Must Go On”.
Com o single principal e o próprio álbum a chegarem à primeira posição das tabelas britânicas, o guitarrista Brian May disse: «Acho que é o melhor em bastante tempo. Não há nada com que fique embaraçado. Geralmente lanças um álbum e pensas: ‘Mas quem me dera termos feito isto…’ Com este sinto-me bastante contente, e consigo ouvi-lo sem qualquer problema. Gosto muito. Acho que é agradavelmente complexo e agradavelmente pesado, e há muita invenção nele.»
«A última coisa que ele queria era chamar a atenção para qualquer fraqueza ou fragilidade. Ele não queria pena.»
Roger Taylor sobre Freddie Mercury
Sobre Mercury, o baterista Roger Taylor comentou: «A última coisa que ele queria era chamar a atenção para qualquer fraqueza ou fragilidade. Ele não queria pena.» Noutra declaração, Roger disse: «Quanto mais doente ficava, mais parecia que precisava de gravar, para dar a si mesmo algo que fazer, algum motivo para se levantar, para aparecer sempre que pudesse. Portanto foi realmente um período de trabalho intenso.»
May tem uma perspectiva semelhante. «O Freddie apenas disse: ‘Quero continuar a trabalhar, como sempre, até cair. É isso que quero. Gostaria que me apoiassem, e não quero discussão sobre isto.’» «Na altura», continua May, «desenvolvemos estranhamente uma proximidade tão grande como banda que [as últimas sessões] foram momentos bastante alegres. Havia uma nuvem a pairar, mas essa nuvem estava fora do estúdio, não estava lá dentro. Tenho grandes lembranças daqueles tempos».
Com um álbum na rua e a banda calada, em Novembro de 1991, Freedie Mercury quebrou o silêncio. «Após a enorme conjectura na imprensa durante as últimas duas semanas, gostaria de confirmar: fiz o teste de VIH e tenho SIDA. Achei correcto manter essas informações em privado até ao momento, a fim de proteger a privacidade das pessoas à minha volta. No entanto, chegou a hora para os meus amigos e fãs em todo o mundo saberem a verdade. Espero que se juntem a mim, aos meus médicos e a toda a gente por todo o mundo na minha luta contra esta terrível doença.»
Dois dias depois, a 24 de Novembro de 1991, enquanto o circo da imprensa fervilhava ao redor da moradia em West London, Mercury faleceu aos 45 anos, vítima de uma broncopneumonia derivada da SIDA. Seguiu-se uma pequena cerimónia com o caixão do cantor a desaparecer ao som de Aretha Franklin. O vazio deixado era impossível de preencher, com Brian May a concluir: «Além da dor de perder alguém tão próximo, de repente todo o teu modo de vida está destruído. Tudo o que tentaste construir nos últimos vinte anos foi-se.»

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