Perdidos no Arquivo: Nitzinger
Artigos 16 de Junho, 2020 João Braga
Um “Perdidos no Arquivo” diferente, iniciando uma senda de textos sobre bandas clássicas, umas mais conhecidas do que outras. A grande parte desconhecida – ou não tão conhecida – com uma ínfima parcela a ser conhecida pelo público em geral.

John Nitzinger, guitarrista nascido em 1948, obteve sucesso generalizado sobretudo nos anos 1960 e 1970 à custa dum estilo muito próprio, mas, ao mesmo tempo, altamente simbólico das décadas em que foi aclamado. Apesar da idade, mantém-se no activo, tendo lançado trabalhos e feito colaborações há menos de dez anos, conseguindo uma longevidade invejável. No entanto, não é sobre esses tempos que este artigo se foca, mas sobretudo nos tempos áureos dos anos 1960 e 1970, com especial enfoque no início da sua carreira até aos lançamentos tardios na década de 1970.
A verdade é que a carreira de Nitzinger começa marcada pela banda The Barons, com o lançamento de dois singles originais que surpreenderam o produtor T-Bone Burnett (Elton John, Elvis Costello, Alison Krauss & Robert Plant), que o chamou para trabalhar com uma banda muito mais conhecida e que obteve um sucesso moderado, pelo menos para os verdadeiros seguidores do rock – os Bloodrock. Nitzinger mostrou aqui uma veia de compositor realmente interessante, tendo ajudado a criar cinco dos seus seis álbuns de estúdio. Aliás, Nitzinger acabou por ser determinante na criação de sucessos como “Bloodrock” e “Bloodrock 2”. Apesar de tudo, foram álbuns de sucesso moderado, nunca tendo obtido grande seguimento nem levado à criação de um culto, como muitas vezes acontece. Bloodrock é uma banda de rock progressivo com tendências fortemente psicadélicas, muito graças a um Nitzinger que ajudou a proliferar esse som no grupo americano com faixas como “Wicked Truth”, “Lucky in the Morning” ou “Jessica”.
Por isso mesmo, o guitarrista pôde demonstrar o seu valor a solo com a criação de um trabalho homónimo, assinando pela Capitol Records. Em 1972, sai para as lojas o álbum “Nitzinger” e depois, em 1973, “One Foot in History”, que lapidam a carreira do guitarrista nos anais da indústria com álbuns ricos, cheios de heavy metal e um som realmente estridente. Apesar de não ser muito conhecido, o texano acaba por providenciar uma lufada de ar de fresco numa década que acaba por ignorar estes dois discos, fruto da qualidade que seria lançado nos anos posteriores. Não por ficar atrás de outras bandas ou produções, mas porque a capacidade comercial foi realmente diferente, pelo menos no que toca aos lançamentos de John Nitzinger, que conta com os temas “L.A Texas Boy”, “No Sun”, “Louisiana Cock Fight, “Boogie Queen”, “Motherlode”, “Earth Eater” e “Take A Picture” como grandes sucessos destes dois espantosos álbuns. Sobretudo, “One Foot in History” revela a veia mais criativa e pesada do guitarrista e “Nitzinger” mostra um lado mais ‘sulista’ e mais direccionado ao rock puro e duro. No entanto, o longa-duração de 1972 contém vários elementos que seguiriam para a sua obra-prima de 1973.
A realidade mostra que nem todos os que merecem o sucesso o recebem. John Nitzinger é o clássico exemplo disso mesmo, tendo uma carreira que fica aqui descrita até certo ponto, mas a verdade é que é altamente extensa. Tal acontece que, em 1976, o texano volta aos discos e concertos com outra malha, não tão apetecível musicalmente, mas arrasadora, para os tempos modernos, com fortes elementos dos lançamentos anteriores. A fama do guitarrista é tão incrível que colabora com diversas lendas, como Carl Palmer – com quem funda a banda PM, lançando “1:PM” em 1980 – e o enorme ícone do heavy metal Alice Cooper.
Verdade seja dita, a carreira de Nitzinger é longa, mas também demarcada por colaborações curtas, à excepção das presenças com Bloodrock, o que ajudou a moldar a sua carreira, sobretudo como compositor. É raro verificar a ascensão de um compositor a músico de palco e de estúdio, mas foi isso que John Nitzinger fez, criando músicas realmente criativas e que ficam no ouvido. Desde o rock com os The Barons, ao seu heavy/rock tóxico a solo, ao rock progressivo melódico dos PM e ao heavy metal com Alice Cooper, Nitzinger acabou por versar-se em vários mundos, no rock e no metal, sem valorizar em demasia determinados rótulos do rock psicadélico ou progressivo, nem a prender-se demasiado a esses géneros – tal verifica-se nas enormes diferenças entre faixas como “Dynamite” (com Carl Palmer) e “Take A Picture”, ou “Control” e “Dreamers”, ou ainda “No Sun” e “Jessica” (como compositor dos Bloodrock, em “Bloodrock 3”).
Nitzinger era e é um artista polivalente, cuja carreira se estende até aos dias de hoje, tendo participado no lançamento de um álbum com Dave Evans e Jim Rutledge, em “Revenge” e “Bloodrock 2013”, respectivamente.

Metal Hammer Portugal


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