Metallica e Jason Newsted: cordeiro sacrificado
Artigos 17 de Janeiro, 2021 Diogo Ferreira

Quando recordamos que certo membro saiu de uma banda, geralmente os holofotes apontam a vocalistas icónicos ou guitarristas com uma forte componente compositora – Ozzy Osbourne quando é despedido de Black Sabbath em 1979, Rob Halford quando abandona Judas Priest em 1992, Bruce Dickinson quando prefere a carreira a solo em vez de Iron Maiden em 1993 ou, recentemente, quando Yossi Sassi sai de Orphaned Land em 2014 e quando Jonathan Hultén se desvincula de Tribulation no final de 2020. De resto, pouca história se faz à volta de outros músicos, exceptuando um: o baixista Jason Newsted.
Entrando nos Metallica em 1987 para substituir o malogrado e miúdo maravilha Cliff Burton – falecido em 1986, vítima de um acidente de viação na Suécia –, Jason, vindo dos Flotsam and Jetsam, é recordado como o sacrificado no álbum sem baixo “…And Justice for All”, o homem posto de lado em “Black Album” quando algumas das suas ideias foram rejeitadas, mas também, dito por muitos, o único que ainda carregava a atitude e chama metal nos anos 1990 quando os Metallica se comercializavam em massa e baniam as raízes thrash com discos hard rock como “Load” e “ReLoad”.
Tristemente, o fim da linha para o baixista estava mais do que traçado pelos colegas em Metallica, com Lars Ulrich a dizer à Classic Rock em 2003: «O Jason é um bom rapaz e deu muito à banda durante vários anos, e, em retrospectiva, ele nunca foi totalmente aceite na banda. Depois, quando ele tentou outros caminhos para satisfazer as suas necessidades criativas, dissemos-lhe – bem, berrámos-lhe – que não podia.» James Hetfield acrescentou mais tarde: «A nossa raiva, mágoa e dor foi direccionada a ele. Ele era um alvo fácil.»
Frustrado e com a banda em cacos – não se demoraria muito até James entrar em reabilitação –, as necessidades de Jason passavam por Echobrain. Os Metallica estavam em tão mau estado, tão exasperados, que Lars Ulrich, no documentário “Some Kind of Monster” – que mostrou os podres do grupo – afirma melancolicamente que Metallica é o passado e Echobrain é o futuro.
Marginalizado, Jason Newsted anunciou a sua saída de Metallica a 17 de Janeiro de 2001 – surpreendente, mas expectável.
«O Jason foi apanhado em terra de ninguém. Portanto, de certa forma sacrificou-se – ou teve de ser sacrificado – para que pudéssemos chegar onde estamos agora.» O ‘agora’ de Lars era 2003, ano do famigerado “St. Anger” – portanto, como todos sabemos, aquela fase dos Metallica estava longe de ser a melhor… «Para mim, é incrível que tenha durado 14 anos, que o Jason tenha ficado tanto tempo», conclui o baterista.
Por outro lado, James foi quem mais se ressentiu da saída do antigo colega. «Quando começámos a tocar música após a saída do Jason, a música não era tudo aquilo que poderia ter sido. Começámos a compor, e à medida que nos aprofundávamos mais em nós próprios e explorávamos por que é que o Jason tinha ido embora – o que significava para nós e tudo o mais –, isso começou a despertar muitas emoções e muitas coisas sobre como podemos melhorar enquanto indivíduos. Então tomei a decisão de ir para a reabilitação.»
«Não foi fácil afastar-me deles», confessou Jason à Loudwire. «Os primeiros meses foram mesmo f*didos, e depois saí lentamente da minha depressão e voltei a montar o cavalo com a minha nova banda Echobrain.»
Ambas as partes seguiam em frente, com cada lado a escolher o seu caminho. Jason ainda iria fazer parte da banda de culto Voivod e os Metallica recrutariam Robert Trujillo, vindo de Suicidal Tendencies e Ozzy Osbourne, para lançarem o tão aguardado, mas comicamente destruído por fãs e imprensa, novo álbum “St.Anger”, seis anos depois de “ReLoad”.
Em última análise, os Metallica estavam esmigalhados emocionalmente, sem saberem muito bem para onde se virarem, com Lars a rematar friamente: «Ele foi o cordeiro sacrificado para o nosso crescimento espiritual e mental, assim como para o nosso crescimento criativo, e é uma porcaria. É medieval.» É mesmo.

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