Kerry King, shredder dos Slayer, estava no caminho para ser um estudante de matemática. Graças a Satanás, depois descobriu a bebida, as miúdas e...

Kerry King, shredder dos Slayer, estava no caminho para ser um estudante de matemática. Graças a Satanás, depois descobriu a bebida, as miúdas e o heavy metal…

Foto: Martin Häussler

Kerry King não toca apenas heavy metal, ele vive-o – o guitarrista dos Slayer passou 35 anos a criar algum do mais cruel e inovador thrash vindo da cena da Califórnia na década de 1980. Aqui, ele leva-nos de volta aos primeiros dias dos Slayer, explica porque somos todos hipócritas e carrega nos Limp Bizkit…

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Quando e onde nasceste?
Califórnia. Na área de Los Angeles. Junho de 1964.

É onde passaste a tua infância?
Sim, os meus pais moravam a dois blocos do mesmo sítio durante toda a minha infância. Em certo sentido, isso foi uma coisa boa, mas mexer-nos um pouco e fazer novos amigos teria sido mais útil para o que eu acabei a fazer! Quando estava na escola secundária, acabei por ir para três escolas diferentes, e isso preparou-me um pouco mais para o que eu acabei a fazer para ganhar a vida.

Tens irmãos ou irmãs?
Tenho duas irmãs, ambas mais velhas. Eu era o filho mais novo e o único rapaz, então eu era muito mimado. Foi muito mais difícil para mim ter problemas porque era a criança de ouro. Comecei a ter aulas de viola aos 13 anos porque o meu pai estava a tentar tirar-me dos círculos errados e a dar-me um hobby.

Eras bom aluno?
Eu era muito bom na escola até descobrir as miúdas – depois acabou tudo. É uma coisa boa não ter planeado a faculdade ou qualquer coisa assim, porque provavelmente teria falhado miseravelmente. Eu era um miúdo esperto, mas quando o ensino secundário chegou e as miúdas estavam no cenário, as notas desceram. Lembro-me de ter recebido o prémio escolar de matemática, por isso as notas não eram um problema, mas quando pões tits e p*ssy na equação, a escola sai porta fora.

Tinhas alguma coisa significativa pela qual te rebelares quando eras adolescente?
Na verdade não sabia o que era rebelar. É engraçado, porque estava a fazer o exame de matemática no 12º ano, e no primeiro semestre tive um A, no segundo semestre tive um E. Pensei: ‘Bem, já chega!’

Portanto, tendo descoberto o sexo, quando é que descobriste o rock n’ roll?
Nunca dei na droga em toda a minha vida, mas sou um bebedor bastante experiente. Mas nem comecei antes dos 21 anos; não por ser a idade legal na América, mas porque era apenas a minha hora, estás a ver?

E o rock n’ roll?
Quando comecei a tocar guitarra, envolvi-me com a música pesada, porque eu tinha irmãs mais velhas, então sabia o que era música pesada. Descobri Judas Priest na rádio, várias músicas do disco “British Steel”, então tive que fazer trabalho de casa porque as músicas que ouvias na rádio eram sempre a “Breaking The Law” e a “Living After Midnight”, e elas não são exactamente as canções mais pesadas de Priest. Antes disso, gostava muito de Van Halen. Provavelmente vi-os seis vezes nos três primeiros álbuns, e essa é uma óptima posição para começar como guitarrista! Foi um desafio ser como Eddie Van Halen naquela altura, e ainda é um desafio agora.

Como começaram os Slayer?
Eu estava numa banda com o meu professor de viola, e ele estava numa banda com o Tom [Araya, frontman dos Slayer]. Essa banda acabou, o Tom estava disponível e morava a um quarteirão da casa dos meus pais, então tentei formar uma nova banda, e uma vez que eu tinha reunido alguns tipos que valeriam a pena, peguei no Tom e começámos a tocar. Tudo começou a partir desse ponto.

Slayer estava lá no amanhecer do thrash. Sabias que fazias parte de um novo movimento importante?
Na verdade não. Nós estávamos apenas a fazer a nossa própria cena. Sabíamos dos Metallica. Obviamente não sabíamos dos Anthrax  naquela altura e os Megadeth ainda não existiam. Acho que tocámos com os Metallica uma vez antes de se tornarem uma banda da Bay Area. Mas essencialmente era apenas metal naquela altura. ‘Thrash’ foi uma palavra que foi usada mais tarde, muito depois de todos termos aparecido.

O teu som evoluiu organicamente ou foi algo que deliberadamente cultivaste?
Acho que acabámos por fazer o que gostamos. Eu era um grande fã de Venom, dos dois primeiros álbuns em particular; então, acho que eles tiveram uma grande influência em mim. Tocámos com eles na sua primeira grande digressão pelos Estados Unidos, e eu estava nas nuvens, estás a ver? A ver o Cronos todas as noites. Isso foi grande para mim. Lembro-me de ter visto o vídeo da “Witching Hour” e pensar: ‘Estes gajos são do c*ralho!’ Era do c*ralho. Sempre quis a cena mais sombria e maligna. Era tudo em vinil naquela altura, então ias à loja de discos e compravas o álbum com chamas, demónios ou caveiras. Acabaste de lançar os dados. Tenho um monte de discos óptimos assim. E também alguns que são uma merda.

Como foram as críticas nos primeiros tempos de Slayer?
Oh, as pessoas odiavam-nos! Agora chegamos aos sítios e toda a gente quer ouvir “Evil Has No Boundaries” e “The Antichrist” e todas as músicas daquela época, mas quando aparecemos, pela primeira vez, a maioria das pessoas odiava o que estávamos a fazer. Mas eu gostei. Não importa o que os críticos dizem. Nunca importou.

Houve algum momento em particular em que percebeste que ser um membro dos Slayer seria a tua carreira a tempo inteiro?
Além de no início? [risos] Provavelmente quando fizemos “Haunting The Chapel” e “Hell Awaits”. Mesmo que ainda estivéssemos a receber críticas de merda, as pessoas começaram a vir aos concertos.

“Reign In Blood” foi um momento decisivo. Percebeste que seria um álbum de referência quando o estavas a compor?
Eram só as próximas 10 músicas. Tão simples quanto isso, era apenas o próximo monte de músicas que compusemos. Acabávamos de fazer uma carrada de riffs rápidos naquele momento. O Dave [Lombardo, ex-baterista dos Slayer] sempre foi um grande fã de punk-rock, e acho que é daí que vem muita da velocidade. Os riffs vieram do lado metal das coisas. Acho que uma descrição mais apropriada para o que fazemos metal-punk, e penso que é o que thrash é. Nos primeiros tempos, os punks iam para concertos de punk e os miúdos do metal iam ao concertos de metal, e acho que somos uma das bandas, se não a banda, que mudou isso.

A música “Angel Of Death” causou muita controvérsia. Foi algo que abraçaste ou atrapalhou?
Isso deu-me combustível suficiente para escrever músicas o resto da minha vida. Ao ver algo assim ter um grande impacto e ver as pessoas a ofenderem-se, fez-me perceber o quão hipócrita toda a gente é. Somos todos hipócritas. Devemos ter liberdade de expressão, mas vais ficar ofendido connosco porque tocamos uma música sobre isso? Está mal. Acho que, no geral, a humanidade está cheia de idiotas. Em suma, as nossas letras apenas dizem ‘pensa’. É isso.

Surpreendeu-te que uma banda tão pesada como Slayer acabasse a tocar em arenas?
Acho que sempre que partes em digressão tens de te esforçar para ser melhor, e sendo melhor, consegues sítios e PAs maiores. É uma progressão natural. Tipo, é porreiro tocar em salas, mas também é porreiro tocar no Download.

Sobreviveste aos anos 1990 com mais dignidade do que a maioria. Qual foi o seu segredo?
Não sei, meu. Era a porra da era dos Limp Bizkit. Lembro-me que foi a única vez que deixei algo influenciar o que eu estava a compor. Quando fizemos o álbum “Diabolus In Musica” [em 1998], eu não gostava de compor música porque estava bastante ofendido com essa merda. Não conseguia entender por que é que alguém faria música assim, muito menos gostar. Esse foi definitivamente o meu pior momento enquanto músico, e isso apareceu no “Diabolus…” através da minha falta de envolvimento.

Porque é que as pessoas ficaram do teu lado nisso?
Nós nunca tentámos ser algo que não éramos. Os fãs vêem isso. Lembro-me de estar em bandas e odiar quando faziam mudanças drásticas; portanto, estar numa banda e ser capaz de fazer essas escolhas, isso era algo que eu nunca quis fazer. Nós ainda éramos os Slayer, só não era o nosso melhor momento.

Quando é que percebeste que o metal estava a voltar?
Acredita ou não, previ-o quando os Godsmack e os Disturbed começaram a ficar grandes. Os miúdos estavam numa de música mais pesada, cansar-se-iam disso e iriam para o próximo nível, e então vinham dar a nós. Eu disse isso há anos, e é essencialmente o que aconteceu. Os Slipknot eram uma coisa definitivamente nova, e o primeiro álbum deles era óptimo.

Já passaram mais de 30 anos desde o primeiro álbum. Qual é a chave da tua longevidade?
Primeiro, começar cedo. Nos dois primeiros discos ainda morávamos em casa; portanto, em vez de sairmos com as nossas famílias, ficávamos a tocar guitarra e éramos muito mais produtivos. Não tínhamos muitas digressões e continuávamos a fazer a nossa música. Agora temos de encaixar as digressões e todo tipo de merdas. Nunca tive problema em estar nos Slayer. Sou mais reconhecido agora. Dificilmente me perdem de vista!

Consultar artigo original em inglês.