Já falta menos de um mês para o Natal… E como é tradição, somos bombardeados com decorações exuberantes, jingles irritantes e promoções arrebatadoras –... Espírito Metalício

Já falta menos de um mês para o Natal… E como é tradição, somos bombardeados com decorações exuberantes, jingles irritantes e promoções arrebatadoras – tudo para deslizar sorrateiramente para os nossos bolsos, saqueando sem escrúpulos, numa altura do ano onde todos os fabricantes e vendedores competem furiosamente pelos nossos eurinhos.

O mundo da música não é excepção! Desde edições especiais de álbuns existentes a colaborações inesperadas, e muitas vezes entre artistas de estilos diametralmente opostos, vale tudo! Para artistas como Dee Snider, este novo disfarce não causa grande surpresa (reaproveitamento de músicas próprias atropeladas com líricas natalícias). Contudo, para os metaleiros que se transfiguram e rendem às seduções da quadra, produzindo orquestrações forçadas com melodias pacóvias, distorção e pedaleira dupla à mistura, há um lugar muito especial no inferno! Nem o metal god Rob Halford tem licença para estas pepinadas… E apesar de já terem passados 10 anos desde o seu “Winter Songs”, carregado de azeite, continua a ser um excelente quebra-gelo quando se tem que ter aquela conversa com os amigos/familiares que acham que o metal não passa de uma turba de arruaceiros desprovidos de talento e técnica.

Outro álbum (um pouco mais condensado, mas mesmo assim) muito útil para este efeito é, sem dúvida, “Glorious Christmas Songs That Will Make Your Black Label Heart Feel Good”, cunhado por Zakk Wylde em 2011, com uma série de músicas centradas na guitarra, mas sempre com aquela atitude musculada a que o barbudo virtuoso já nos habituou. Os Dream Theater também não conseguiram resistir à tentação e sucumbiram com a sua vergonhosa e tecnicamente irrepreensível rendição de “Oh Holy Night”. Uma nota de destaque e reconhecimento para August Burns Red e a sua metalização inspirada de “Carol of the Bell”, que inúmeras outras bandas esquartejaram ao longo dos anos.

Como se pode ver (ou ouvir), nem sempre as metamorfoses metálicas resultam em lixo sonoro. Quem não se lembra da colaboração entre Ronnie James Dio e Tony Iommi e a sua versão de “God Rest Ye Merry Gentlemen”? Ou de “Mistress for Christmas”, que podia perfeitamente figurar em qualquer álbum dos AC/DC, assim como “Red Water (Christmas Mourning)”, que figura no clássico “October Rust” dos Type O Negative. E se estamos a falar de clássicos, por que não incluir The Who e o soberbo “Tommy”, onde podemos encontrar “Christmas”, também centrado na mesma temática. Ou o avacalhanço de Lemmy no velhinho “Run Run Rudolph” de Chuck Berry, em que se fez acompanhar de Billy Gibbons na guitarra e Dave Grohl nas peles. Axl Rose e a sua pandilha juntaram-se também ao clube do avacalho com a sua raivosa performance de “White Christmas”.

As bandas do espectro mais punk carregam sempre no acelerador, como os Fear ou os Tankard, ambos a lançarem um “Fuck Christmas” à sua maneira e bem mais divertida, e os Gwar não ficaram atrás com o seu “Stripper Christmas Summer Weekend” e a sua letra hilariante. Nesta secção não podia faltar “Things I Want” dos Tenacious D e Sum 41 ou o eterno “Christmas with the Devil” com que os Spinal Tap mais uma vez se imortalizaram nos anais da história do heavy metal, o que mostra bem que é possível fazer música temática, interessante e com os elementos característicos do estilo sem se derreter numa poça de queijo da serra.

Ninguém imaginaria que até mesmo os maléficos Venom se deixariam embarcar nesta vaga de músicas de natal com o seu “Black Christmas” viçoso e cheio de pedalada, assim como o imperial tesourinho decadente “Destroying the Manger”, que já nos havia sido deixado há muitos anos pelos incontornáveis Nocturnus.

Alguns filmes, como “The Nightmare Before Christmas”, servem por si só de inspiração para uma metalização natalícia… No segundo disco da banda-sonora podemos encontrar “Kidnap the Sandy Claws” em que os Korn pegam no tema criado por Danny Elfman e sacam um belo desvaneio como só Jonathan Davis sabe fazer.

Conseguimos ainda encontrar bandas, como os Amon Amarth, que aproveitam a oportunidade para reflectir na dualidade contraditória da vida de um viking e como este também se emociona quando chega esta altura depois de um ano a pilhar – “Viking Christmas” e toda a problemática escandinava associada a esta quadra.

As minhas preferidas continuam a ser “Heavy Christmas” dos 220 Volt com o seu classic thrashcheio de galopadas e riffs electrizantes; e claro, o incontornável King Diamond, que já há muitos anos usurpou o título de rei do natal com o seu “No Presents for Christmas”, que é uma daquelas malhas que podia ser sobre qualquer tema – ia sempre ser um sucesso!

Com todas estas sugestões já não há desculpa para passar um mês a sofrer a lavagem cerebral habitual. Toca a atirar a Mariah Carey para o ecoponto amarelo (curioso como o plástico e o metal vão para o mesmo sítio…) e aproveitar todas estas pérolas que os nossos artistas nos foram deixando.