Attick Demons: «A nossa experiência ajuda a ultrapassar desafios»
Entrevistas 24 de Setembro, 2020 Diogo Ferreira
Fundados em meados dos anos 1990, é seguro dizer-se que os Attick Demons têm duas vidas. Enquanto os primeiros dez anos foram compostos apenas por demos e um EP, a partir de 2012 tudo mudou com o lançamento do primeiro álbum “Atlantis”. Depois veio o bem-recebido “Let’s Raise Hell” (2016) e a banda portuguesa continua para as curvas sem pensar no passado. O presente e o futuro próximo espelha-se em “Daytime Stories… Nightmare Tales”, um disco de puro heavy metal inspirado na NWOBHM mas com um toque muito pessoal de quem faz o estilo-mãe do metal em solo português. Para ficarmos a conhecer a actualidade dos Attick Demons, chegámos à conversa com Artur Almeida (voz), João Clemente (baixo) e Nuno Martins (guitarra).
«Nesta banda todos compõem, ficando assim o cunho de cada um nos diferentes temas.»
Para alguns fãs, a perda de um bom guitarrista como o Luís Figueira pode ter sido sinónimo de perigo para o desenrolar da banda, mas quer-nos parecer que este “Daytime Stories… Nightmare Tales” demonstrou precisamente o contrário de tais hipóteses mais negativas. De que forma é que a dupla Nuno / Dário abriu novas portas ao heavy metal dos Attick Demons?
A saída do Luis foi uma decisão dele, que temos de respeitar, e a sua importância nos Attick Demons nunca poderá ser menosprezada. No entanto, a banda tinha mais quatro elementos cujo desejo de continuar era imenso. A entrada do Dário foi bastante natural, até porque já era amigo da banda. O Dário ajudou a trazer um som mais actual aos Attick Demons com o uso de guitarras de sete cordas e outros, aparentes, pequenos detalhes nos arranjos, mas que fazem toda a diferença quando se ouve o álbum. Mas as guitarras não primam apenas pelo peso referido que a dupla conseguiu, mas também pelas partes harmónicas e melódicas alcançadas. Foi um trabalho muito interessante cujo resultado é algo com que estamos muito satisfeitos.
Conceptualmente, o álbum pode ser dividido em várias temáticas: do ocultismo (“The Contract”) à luta entre bem e mal (“Make Your Choice”), passando pela História (“The Revenge of the Sailor King” e “O Condestável”) e pelo poder do heavy metal (“Headbanger”). Pensaram nos conceitos previamente, de modo a compor-se um quadro sónico desta forma, ou foi tudo muito livre e espontâneo desde que resultasse?
Foi espontâneo e natural. Não queríamos um álbum conceptual – foi baseado em História de Portugal, no quotidiano e no oculto, até porque em nenhuma parte as histórias se cruzam. Normalmente, as composições nos Attick Demons são feitas da seguinte forma: o instrumental nasce primeiro, quase de seguida o Artur começa a encaixar trechos de letras nos refrãos, começando cada tema a ganhar forma, e com isso cada história vai nascendo aos poucos. O que é engraçado nesta banda é que todos compõem, ficando assim o cunho de cada um nos diferentes temas. E eis que o resultado está em “Daytime Stories… Nightmare Tales”.
De conversas anteriores que já tivemos, ficámos a saber que o Artur não gosta nada de ser comparado a Bruce Dickinson, e esta parecença vocal é uma questão fisionómica e não passa por uma tentativa de cópia. Posto isto, continuamos a achar que a comparação a Dickinson é um elogio, ainda que o Artur também tenha uma assinatura vocal própria. Queremos com isto dizer que, em “Daytime Stories… Nightmare Tales”, o vocalista tem uma performance espectacular. É este o seu melhor momento enquanto frontman?
O modo do Artur cantar é 100% uma questão fisionómica. Conseguimos facilmente dar concertos de duas horas sem que a voz do Artur tenha qualquer degradação. Ele é exigente com as vozes, e quando está mal volta ao início e repete tudo até ficar bem. Mas todas as suas linhas vocais foram feitas naturalmente sem pensar no que ficou feito nos álbuns transatos. Basicamente, este é um álbum diferente, com uma temática diferente, cantado e tocado também de maneira diferente, sem nunca se esquecerem as nossas raízes NWOBHM. Podemos dizer que se deixássemos o Artur sozinho num estúdio, saía de lá uma música de gospel. [risos]
Os Attick Demons formaram-se em meados dos anos 90, portanto há mais de 20 anos. Julgo que podemos dividir a carreira da banda em duas fases distintas, sendo que a segunda nos deu três álbuns de enorme calibre. Olham para vocês como um daqueles casos que foram paridos a ferros e que só encontraram estabilidade e reconhecimento em idade adulta? É agridoce ou encaram o percurso da banda como ‘é o que tem de ser’?
Pensamos que existem os Attick Demons antes do “Atlantis” e depois do “Atlantis”, sem dúvida. A experiência da gravação do primeiro álbum fez com que fosse dado um salto muito grande na maturidade da banda. Sobre a estabilidade, é sempre necessário ter em conta que nunca nenhum elemento dos Attick Demons vive ou viveu da música, por isso é normal que haja algumas alterações ao longo do tempo, quer por motivos pessoais ou profissionais. Claro que a nossa experiência, que vamos ganhando ao longo do tempo, nos dá mais estabilidade emocional, o que ajuda a ultrapassar os desafios, bem como a não nos exaltarmos em demasia com as vitórias que vamos tendo ao longo do tempo.
Sem grandes hipóteses de apresentarem o novo disco ao vivo pelo menos em 2020, o que acham que 2021 vos reserva? Concertos são sempre necessários, mas quão importante seria apresentarem este fortíssimo “Daytime Stories… Nightmare Tales” ao vivo o mais rápido possível?
Uma banda como Attick Demons gosta de dar concertos e estar com o público. Transmitir energia, receber energia… Enfim, é disto que a banda vive. Estar unicamente no sofá a vender música pela Internet é algo que não nos agrada minimamente. Temos agendado para o próximo dia 9 de Outubro um concerto de apresentação no Cine-Incrível, que esperaremos que as normas das autoridades o permitam.
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“Daytime Stories… Nightmare Tales” tem data de lançamento a 25 de Setembro de 2020. Lê a review AQUI.
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