Vreid “Wild North West”
Reviews 28 de Abril, 2021 Metal Hammer


Editora: Season of Mist
Data de lançamento: 30.04.2021
Género: black n’ roll
Nota: 4/5
Um bom disco igual a nada do que ande por aí.
2021 vai ser um dos anos mais infelizes das nossas vidas – não só se está a revelar ser um período prolífico em termos de excelentes lançamentos como não os poderemos ver ao vivo devido a vocês sabem o quê. Esqueçam Trump e Pence, esqueçam os piores vídeos e músicas que viram no YouTube, esqueçam até a covid-19 e políticos negacionistas – o par mais infeliz de 2021 é grandes discos e zero concertos. Sim, antes um bom disco do que nada, mas tipo… já andamos há dois anos a receber discos destes e a não podermos apreciá-los ao vivo, onde tudo ganha outra aura. Infelizmente, “Wild North West”, a coroação definitiva dos Vreid, é um desses casos – um disco excelente que não poderemos apreciar ao vivo em 2021.
Criados após o falecimento prematuro dos influentes Windir (eterna saudade), os noruegueses Vreid começaram por seguir moderadamente o som praticado pelos primeiros, passando gradualmente a refinar a marca de água da lenda nórdica até à actualidade. Ainda hoje os Vreid mantêm traços impossíveis de dissociar dos Windir, mas é seguro dizer que, ao contrário de tantas bandas norueguesas que começaram por gravar o seu nome na eternidade com discos ímpares de black metal (e que subsequentemente evoluíram para algo completamente afastado dos seus primórdios), os Vreid evoluíram como poucas outras bandas dentro do estilo sem nunca deixarem de lado esse black metal cáustico que sempre os caracterizou. Nos dias que correm já têm um som proprietário distinto de qualquer outra banda do género.
“Wild North West” é uma proeza a dois tempos: não só a banda lança um disco que, lentamente, se ergue em direcção à última fronteira como criam um filme segmentado em oito partes e que, música após música, revela um pouco mais da história por detrás de cada tema, cada um deles sempre acompanhado de uma citação mais ou menos famosa e fortemente inspirados no trabalho de Kittelsen. Citando o início da visualização de todo o filme, “Wild North West” é uma espécie de “Twin Peaks” à moda norueguesa, em que guerra, solidão, morte, magia e muito mais começam numa pequena aldeia junto a um fiorde norueguês e terminam em Jötunheimr, misturando realidade e ficção. Um bom disco será sempre um bom disco, mas um bom disco com um filme a acompanhá-lo só está ao alcance de uns poucos.
A saga multimédia dos Vreid começa com o tema-título e um lenhador típico norueguês que, findado o seu dia de trabalho, veste a sua farda black metal e aventura-se pelos bosques vizinhos, sempre acompanhado por uma entidade misteriosa. Não vos queremos revelar mais spoilers do que isto para não arruinar a experiência que estará disponível integralmente. “Wild North West” é um tema que consegue capturar moderadamente a mística e a solenidade de Bathory da época “Hammerheart” e, a meio, passa para o black metal primevo e relativamente neolítico destas paragens. Estrutura forte, épica e com um solo de encher o olho, e uma letra que invoca o patriotismo e legado ancestral norueguês – em resumo, um excelente início.
A passada muda com “Wolves at Sea”, que aborda claramente a invasão nazi da Noruega. Ao contrário do primeiro tema, este vai mais directo ao assunto, ou, citando a letra do refrão, tem uma cadência mais “blitzkrieg attack”. Pelo meio, ouvimos (finalmente!) os teclados de Hváll (que também partilha funções no baixo) e do convidado Espen Bakketeig. Por si só, estes teclados dão vontade de ouvir Vreid, de tão originais e climáticos que são. Marcam o compasso para a atmosférica “The Morning Red”, que se segue de forma lenta e sorumbática com um riff de puro black metal a recordar Burzum nos seus momentos mais melancólicos.
Com “Shadows of Aurora” a coisa toma outra proporção e vem-nos novamente à mente Bathory do período thrash metal mais tardio, que não deixa de ser bom. Mais teclados, desta vez sinfónicos, conferem ao tema imponência e um freio para o andamento black metal mais veloz dos Vreid. No entanto, ninguém nos poderia preparar para o tema seguinte: “The Spikes of God”, a melhor composição do disco por diversos motivos. O início de bateria a prenunciar o fim do mundo, a dissonância e velocidade das guitarras, o black metal abrasivo e, claro, as constantes imagens do Nobel português Egas Moniz a passarem no fundo do vídeo. Sejamos honestos – que disco de black metal respeitável é que esqueceria a referência ao Professor Egas Moniz, não é?
“Dazed and Reduced” é um tema rock/metal moderno que poderia passar em qualquer rádio e “Into the Mountains” continua essa tendência, ainda que com um andamento mais rápido. Uma vez mais, seguem-se uns teclados que nem sabemos bem o que lhes chamar, mas que assentam perfeitamente na música. Dizemos convictamente que, sem teclados, os Vreid perderiam pelo menos 30% do interesse. A final “Shadowland” começa com eles, desta vez com som de igreja, pastorais, e que dão lugar a uma faixa de black metal a meio-tempo – robusto mas melódico. Por vezes, durante as mais de dez audições e visualizações que fizemos ao trabalho, somos facilmente distraídos da música pelas paisagens naturais norueguesas, que são de fazer perder o fôlego.
“Wild North West” é um conjunto de excelentes ideias que, no seu todo, justificam a nota que lhe atribuímos. Musicalmente, porém (e se nos lembrarmos de todos os discos que os Vreid lançaram), é provavelmente o menos energético, mas, tendo em conta que se trata do primeiro grande passo em direcção a vôos maiores, não é de estranhar que a banda ainda esteja a tentar refinar a sua nova fórmula. Talvez os velhos fãs não lhe achem assim tanta piada, mas “Wild North West” está destinado a angariar muitos mais fãs do que os que eventualmente perderá. Porque, feitas as contas, trata-se de um bom disco igual a nada do que ande por aí pelos já referidos motivos.


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