Moonspell “Memorial”: um oceano em tons de sangue
Artigos 21 de Abril, 2021 Metal Hammer


No mesmo mês em que o primogénito “Wolfheart” (1995) celebra o seu aniversário, em Abril de 2006 os Moonspell davam à luz o seu sétimo filho, “Memorial”, que acabou por se revelar tão importante na sua carreira quanto o álbum debutante e até mesmo quanto “Irreligious” (1996).
Um exercício mental que seria interessante de se fazer, no mínimo, era o de tentar pensar em toda a discografia do grupo e – excluindo, precisamente, os dois primeiros discos – interrogar quais são os álbuns de Moonspell que merecem a atribuição do estatuto de clássico. Sem dúvida, “Memorial” seria um deles.
Passados os tempos conturbados entre “Sin/Pecado” (1998) e “Darkness & Hope” (2001), e depois do revitalizar de forças em “The Antidote” (2003), os lobos da Brandoa encontravam-se em boa forma para dar mais um passo bastante firme na carreira, em direcção a uma fase de mudança, o que acabou inerentemente por conduzir a um novo lançamento.
Com o contrato assinado com a Century Media a chegar ao fim, o colectivo acabou por optar pela mudança de editora. Sobre a tomada de tal decisão, Robert Kampf, director da editora, disse no livro “Lobos Que Foram Homens”, de Ricardo S. Amorim: «Queríamos renovar o contrato com Moonspell, mas aconteceu o que acontece quando uma banda está demasiado tempo com uma editora, um manager ou um agente. Acham que chega a altura de mudança, e a relva parece muito mais verde do outro lado da cerca.»
Posto isto, a escolha de uma nova editora acabou por cair na Steamhammer (SPV). Tendo representatividade em Portugal através da Universal, os Moonspell assinavam um novo acordo, então com Paula Homem, na altura directora de Artistas e Repertório – curiosamente uma fã assumida da banda, que confessou: «Era uma banda de que eu gostava e seguia, portanto foi fácil para mim, como diretora de A&R, dizer que vou assinar os Moonspell na Universal.» Em 2009, a SPV extinguia-se, entrando em insolvência.
Histórias de editoras à parte, relativamente ao registo em si, “Memorial” representou um certo regresso às origens, onde encontramos uns Moonspell mais extremos desde o EP “Under the Moonspell” (1994). Com uma maturidade maior enquanto músicos e compositores, as influências do black metal apresentavam-se mais fortes aqui do que outrora. De facto, “Memorial” é um disco de black metal, porém trata-se de um black metal com uma alma mediterrânica, fazendo com que este seja talvez um dos álbum mais lusitanos feitos por Fernando Ribeiro & Cia. – temas como a instrumental “Mare Nostrum” ou o bónus “Atlantic” dão-nos essa sensação. “Memorial” ofereceu-nos temas arrojados e marcantes, como “Finisterra”, “Blood Tells ou “Memento Mori”, não podendo deixar de fora outro que se distanciava da natureza mais aguerrida de todo disco – exacto, referimo-nos a “Luna”, de tom mais suave que não fora escrito com grande confiança, segundo disse o próprio vocalista a Ricardo S. Amorim: «É um pequeno satélite, que nem íamos incluir no álbum, pois não gostamos muito dele.» Por vontade do produtor, “Luna” acabou por ser incluído no pacote e tornou-se num dos temas mais comerciais de Moonspell, tendo sido o primeiro da banda a passar na rádio nacional.
E já que falamos em regressos às origens e a produtores, em “Memorial” temos Moonspell a voltar à casa (estúdio) de partida, os Woodhouse Studios, bem como às colaborações com Waldemar Sorychta, creditado como baixista, uma vez que Aires Pereira ainda não era integrante do grupo a título efectivo.
Renovados com uma editora nova, de volta ao estúdio que os viu crescer, se há facto pelo qual Moonspell não são conhecidos é o de fazerem o mesmo álbum duas vezes. Contudo, quando afirmamos que “Memorial” foi um verdadeiro marco na carreira, para além da música, temos também de pensar nas conquistas que dele se colheram, como a estreia na parede da fama do metal, o Wacken Open Air, a eleição de disco do mês na Metal Hammer alemã e, sobretudo, a chegada aos tops portugueses como disco de ouro.
Em poucas palavras, “Memorial” foi um grito de guerra ainda maior do que o gigante que o lançou e viu o seu eco a alastrar-se nos seus sucessores, ainda que à maneira de cada nova proposta, como só os Moonspell sabem fazer.
A reedição de “Memorial” está disponível aqui.
O livro “Lobos Que Foram Homens” está disponível aqui.


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