Para aquele que já é o concerto obrigatório de Halloween dos Moonspell, desta vez os Lobos da Brandoa decidiram levar o...
Foto: Rui Vasco

Para aquele que já é o concerto obrigatório de Halloween dos Moonspell, desta vez os Lobos da Brandoa decidiram levar o seu espectáculo a Beja. Num esforço hercúleo que não prestará contas a ninguém, nem mesmo à pandemia, os Moonspell, a Radar dos Sons e o Município de Beja não baixaram os braços e não desanimaram quando viram o evento ser compreensivelmente atropelado pela proibição de circulação entre concelhos no fim-de-semana em que este Halloween 2.0 teria lugar. Adiado para 6 de Novembro, o concerto aconteceu mesmo – não só para quem se deslocou ao Teatro Pax Julia mas também para os espectadores virtuais de todo o mundo que quebraram records no que a streaming pago diz respeito no nosso país.

Ao longo de quase duas horas, os Moonspell deram-nos aquilo a que já estamos acostumados: o melhor de si e mais além, sejam quais forem as circunstâncias.

Numa sala preparada em tons de azul, a luz desvaneceu até à escuridão total para que uma entidade vestida de negro vagueasse com uma lanterna – a da Noite das Bruxas num 6 de Novembro, a dos afogados, a dos soterrados…

De repente ecoa o sotaque da Transilvânia – chegava “Vampiria” em modo musical e visual, com lasers a rodearem um Fernando Ribeiro coberto por uma capa. Lá nos mantivemos por “Wolfheart” e 1995 com “Wolfshade (A Werewolf Masquerade)”, percebendo-se logo nestes minutos iniciais que íamos estar perante um espantoso espectáculo de luzes quando Pedro Paixão, nos teclados, é focado singularmente durante o seu momento.

Ao som do baixo de Aires Pereira vê-se alguém vestido de plástico branco a rastejar como um verme ao encontro do enegrecido Fernando Ribeiro – Rui Sidónio (Bizarra Locomotiva) surgia assim para se interpretar a versão original de “Em Nome do Medo”. Cada vez mais próximos da actualidade discográfica dos Moonspell, soaria seguidamente “In Tremor Dei” sem Paulo Bragança mas com Ricardo Amorim a interpretar, à sua maneira, a parte fado de um dos temas mais icónicos de “1755”.

Num vaivém de fases e datas, regressamos a 1996 e a “Irreligious” para ouvirmos o riff inconfundível de “Opium”, que deu depois lugar à expectável “Awake” com a voz de Aleister Crowley a ouvir-se imediatamente antes das cintilantes notas de Ricardo Amorim e da bateria marcada de Hugo Ribeiro, este que foi aqui formalmente apresentado ao vivo e ao público.

Após “Night Eternal” e “Breathe (Until We Are No More)”, foi a vez de, como Fernando Ribeiro disse, uma triple-threat de “The Butterfly Effect” (1999) com “Soulsick”, “Butterfly FX” e “Can’t Bee”.

Recordando-se “The Antidote” (2003), os Moonspell invadiram o nosso âmago com “Everything Invaded”, uma das músicas que mais antecipação causa à medida que avança por sabermos que vai desaguar num clímax proporcionado pelo solo rico de Ricardo Amorim.

Acto contínuo, antes da invocação a “Alma Mater” já se viam as cores vermelha e verde no background, sinalética que deu lugar ao hino nacional e a um espantoso jogo de luzes e lasers a dividir o palco a meio precisamente com as cores da nossa bandeira. Os riffs, os versos, as entoações, o fervor, o orgulho… Tudo em dose generosa e arrepiante que só seria ainda melhor se aquele público fosse composto por 5000 wolves & witches.

Para o encore, uivos de lobos anteciparam “Todos os Santos”, “Mephisto” transformou o Pax Julia num ambiente negro e encarnado (o enxofre e as chamas do inferno em Beja), e “Full Moon Madness” deu o mote para Fernando Ribeiro soar lupino, prevendo-se o momento mais épico e emocionante dos concertos de Moonspell, com Ricardo Amorim, à semelhança de outras actuações, a ocupar o centro do palco para executar um dos mais significativos solos de guitarra de Moonspell.

A sempre demorada despedida com muitos sorrisos e trocas de aplausos previa o recolher dos Moonspell – só que não! Para terminar definitivamente, a Alcateia interpretou ainda “The Future Is Dark” num possível toque de humor negro quanto aos tempos em que vivemos.

Numa noite simbólica e repleta de intenção (parece que a banda está a querer levar a sua música a vários pontos do país para mitigar as forçadas distâncias sociais e para, acreditamos, se manterem mentalmente sãos), surgiu então a já conhecida longa despedida com feições de satisfação por se ter feito história e de esperança para que possamos realmente voltar a partilhar em pleno o mesmo espaço, o mesmo contacto e as mesmas sensações.

Foto: Joana Marçal Carriço (cortesia All Noir PR)
Foto: Paulo Mendes (cortesia All Noir PR)