"Access All Worlds" é ousado e corajoso.

Editora: Metal Blade Records
Data de lançamento: 26.02.2021
Género: prog metal
Nota: 4/5

“Access All Worlds” é ousado e corajoso.

Para falarmos de Iotunn em 2021 temos de andar para trás até 2009, quando o guitarrista Jesper Gräs quis formar uma banda de space rock à 70s. A espinha dorsal da sonoridade foi-se transformando e foi ganhando um corpo bem mais metal do que o pensado anos antes, mas só em 2015 é que o músico encontrou um nome para o seu projecto. Depois, aos poucos, foi recrutando novos membros para o acompanharem nesta jornada actualmente apoiada pela Metal Blade Records.

Iotunn foi então o nome encontrado. Gigante é o seu significado, e ao ouvirmos este “Access All Worlds” percebemos que é nitidamente bem adequado. Mas como esta explicação não chega por si só, temos de partir à descoberta desta estreia – e que descoberta!

Difícil de catalogar com um só género, muitas vezes decide-se dizer que é prog só porque une num só várias influências, estruturas e ritmos. Bem, se calhar não estamos muito longe disso e talvez tenhamos que classificar Iotunn e “Access All Worlds” como prog metal. Vamos a isso!

Ao longo de cerca de 61 minutos, o grupo dinamarquês exibe um poder criativo curioso e honesto com sete composições épicas que contemplam o cosmos e a energia (geralmente espiritual) que daí podemos retirar. Não se trata de meditação e busca por algo superior – não vamos ser tão pretensiosos –, trata-se antes de, digamos, ficção-científica que reflecte a existência humana numa narrativa protagonizada por viajantes do tempo. E se há vários cosmonautas, então nada melhor do que se falar já do vocalista Jón Aldará (Barren Earth, Hamferð) que, do berro medonho e profundo a uma extensão ampla e aberta, fornece todas as personagens possíveis e imagináveis.

Contudo, uma história, seja ela qual for, não é nada sem um cenário. Simplesmente não pomos uma personagem num espaço oco e falamos dela e do que faz nesse vazio branco e infinito. Quem quer que componha um conto precisa de envolvências, ambientes e preenchimentos. Ora, tudo isso é organizado pelas guitarras de Jesper Gräs e Jens Nicolai Gräs (sim, irmãos) que dão cor aos mundos que imaginamos enquanto ouvimos este álbum ousado e corajoso. Da bela energia do power/heavy metal à ferocidade do death metal melódico e progressivo (sem esquecer os fundos/arranjos sonoros espaciais), a dupla de guitarras vai pintando a tela, tornando-a cada vez mais colorida e consolidada com riffs cativantes que se desdobram em solos e leads de alto gabarito que vão do melodioso e harmonioso à técnica alucinante do shredding. Em suma, fãs de Nevermore poderão encontrar aqui algo que lhes agrade…

Tudo junto forma “Access All Worlds”, um álbum que, lançado tão no início de 2021, esperamos que não seja esquecido quando os tops anuais forem elaborados daqui a uns meses. A estreia dos Iotunn é um rugido, é um atestado de que temos de abrir horizontes para que não nos permitamos a ouvir apenas o que já conhecemos e que nos deixa confortáveis, é uma novidade bem-vinda, mas é também um aviso à própria banda: quanto maior é a altura, maior é a queda, e quando um gigante tomba destrói mais do que a si próprio. Porém, não vamos traçar um destino que não sabemos que vai acontecer – e que esperamos que não aconteça. Esperançosamente, os Iotunn vieram para ficar, com tempo e paciência vamos certamente ouvir falar do seu crescimento global.