Gaerea, um ano de “Unsettling Whispers”: «Não somos seres presos ao estilo que tocamos»
Artigos 22 de Junho, 2019 Diogo Ferreira
Se em 2016, com o EP homónimo, se podia achar que os Gaerea estavam muito colados a Mgła e Behemoth – «é impossível não nos deixarmos influenciar por dois dos grupos mais interessantes que o mundo do black metal tem para oferecer nos dias de hoje», diz a banda –, em 2018 teve-se que afirmar que estavam a encontrar o seu caminho pessoal. “Unsettling Whispers”, o primeiro LP, foi lançado há um ano e algo mudou no panorama. Os Gaerea tornaram-se na banda mais refrescante do nosso país, e isso levou-os a vários países europeus e à China. «Toda esta experiência fez-nos crescer, não só como grupo mas como indivíduos. Todos tivemos bastante tempo para reflectir, absorver e aprender a cultura que nos rodeou por mais de vinte dias. Não somos certamente a mesma banda que embarcou em direcção ao outro lado do mundo, o que faz com que já tenha valido a pena. Não te adianta fazeres muitos concertos por todo o mundo se não conseguires parar para respirar e olhar à volta. Se no final de tudo, quando regressares a casa, não te sentires preenchido emocionalmente, não valeu a pena estares tão longe de toda a tua vida pessoal.»
Tratando-se de black metal contemporâneo, a ala melódica de “Unsettling Whispers” exibe um certo perfume de melancolia, «todo um desespero que visualmente está mudo e apático na componente escrita e visual deste trabalho», elabora o membro anonimado dos Gaerea. Nas suas palavras «decidiu-se dividir e escolher a maneira como se queria abordar e sentir cada peça do puzzle que compõe tudo isto», possibilitando que «por um lado se tenha uma narrativa totalmente interligada com o caos organizado de uma sociedade moldada sob os cânones de perfeccionismo do presente e por outro se tenham todas as consequências éticas, morais que advém disso mesmo».
Da ortodoxia à exploração hardcore versus black metal que os ouvidos mais atentos podem decifrar, “Unsettling Whispers” provou que o colectivo encapuzado não se enclausura em regras dogmáticas. «Deixamo-nos envolver por muito daquilo que ouvimos e vivenciamos no dia-a-dia», até porque «todo este novo trabalho, do ponto-de-vista de composição musical, prova isso mesmo, que não somos seres demasiado presos ao estilo que tocamos. A beleza da arte está nisso mesmo: o conseguires ir beber a outras fontes que à partida não estão ‘categorizadas’ ou rotuladas da mesma forma que a tua».
Ainda na ressaca do sucesso interno e externo alcançado com “Unsettling Whispers”, os Gaerea não têm qualquer tipo de previsão ou música composta para o seu sucessor, admitindo porém que «não é que não possa vir a acontecer». Todavia, o resto de 2019 vai ser passado na estrada com concertos marcados para Portugal, Espanha, Itália e Alemanha.
(Obs.: as citações utilizadas neste artigo têm origem nos arquivos da Ultraje, 2015-2019)

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