Entrevista com Draconian.
Foto: Eleni Liverakou Eriksson

«“Under a Godless Veil” é um álbum mais negro, mais subtil, tens mais tempo para reflectir, há mais pausas para respirares fundo.»

Anders Jacobsson

Banda de culto no panorama doom metal melódico, os Draconian têm em “Under a Godless Veil” o seu novo álbum. Com um intervalo de cinco anos entre “Sovran” e esta novidade, a banda sueca garantiu em entrevistas da época que o disco de 2015 não foi fácil de compor – será então que “Under a Godless Veil” sofreu da mesma doença? O vocalista Anders Jacobsson esclarece: «O que nos fez esperar cinco anos por este álbum tem a ver com o facto de vivermos em diferentes partes da Suécia – não é fácil encontrarmo-nos, ensaiar e criar música. A maioria das músicas foi escrita nos dois anos seguintes [a “Sovran”], portanto as músicas já são antigas para nós. Diria que “Sovran” foi mais uma coisa pessoal. Acho que a banda não estava numa boa forma e nem dei muitas entrevistas por essa razão – não queria dar treta às pessoas. Mas parece que “Sovran” foi um êxito entre as pessoas – gostaram muito da Heiki [vocalista feminina] e do som do álbum, é um álbum negro e pesado, diria eu. Desde então acho que a banda começou lentamente a ficar em forma novamente. Acho que “Sovran” é um pouco desorganizado no que diz respeito ao som e ao estilo de música, enquanto o novo álbum é mais coerente, temos uma ideia melhor por detrás dele.»

Segundo álbum com Heike Langhans na ala vocal feminina, a jovem de 32 anos, com enorme talento, possui muitas semelhanças com Aleah Starbridge, compatriota sul-africana (ambas radicaram-se na Suécia) que perdeu a luta contra o cancro em 2016 com apenas 39 anos. Anders fala-nos da evolução da colega: «Conheço a sua transição e batalhas ao longo dos anos, e, sim, tem sido uma boa amiga desde que ela tinha 23 anos. Há muitas falhas na evolução de Draconian – não tínhamos uma boa gestão, havia problemas, havia discordância com tudo, e é por isso que “Sovran” é um bocado desorganizado. A Heike teve uma grande evolução, começou projectos paralelos como ISON e :LOR3L3I:, portanto está sempre activa, está sempre a cantar, está sempre a fazer a cena dela. Nestes cinco anos conseguimos ouvir isso. Ela tem uma voz inocente, bonita e angélica com muita tristeza ligada – agora tem mais clareza e mais força. A jornada da Heike é visível e audível neste álbum. É por isso que desta vez decidimos tê-la mais presente.»

«A jornada da Heike é visível e audível neste álbum. É por isso que desta vez decidimos tê-la mais presente.»

Anders Jacobsson

Um dos pontos fortes de “Under a Godless Veil”, para além da música atmosférica e melancólica, é a sua capa: uma mulher de vestido branco e pele pálida a ser acariciada por uma mão suja. Será a morte ou o pecado a roubar inocência e ingenuidade? Anders explica:«Diria mais que é a segunda [o pecado]. Não é uma mulher morta na capa. É alguém que está a dormir ou num estado de transe, e enquanto está nesse estado, alguém está a tirar vantagens disso. Não é uma violação [física], é mais violação espiritual para roubar poder do feminino de uma forma parasita. Tudo isso se relaciona ao conceito do álbum sobre Sophia e a sua queda, temas gnósticos. Acho que funciona por si só e gosto que as pessoas tenham a sua própria interpretação.»

Sendo um disco algo diferente dos anteriores, ao ser mais lento, mais denso ao nível atmosférico e menos tradicional se analisarmos o doom metal melódico dos anos 1990 oriundo de Inglaterra e o próprio catálogo da banda, “Under a Godless Veil” inclina-se imenso a cenários noctívagos se lermos títulos como “Sleepwalkers”, “Moon over Sabaoth”, “Night Visitor” ou “Ascend into Darkness”. «Ainda não tinha pensado nisso, sobre os títulos terem referências à noite… “The Sacrificial Flame”, se pensares nela, é sobre sacrificar a luz – também encontras escuridão aí. E a definição sobre os títulos é genial, porque ainda não tinha pensado nisso», comenta o vocalista. Quanto às letras: serão as mais poéticas de Draconian? «Não sei! Não digo que sejam as mais poéticas. As letras tornaram-se mais directas e subtis – claro que continuo a usar simbolismos e metáforas –, mas não diria que o álbum seja puramente poético, as letras não são difíceis de compreender, a não ser algumas palavras e definições que uso. Diria que é definitivamente mais negro do que “Sovran”. “Sovran” é mais pesado, talvez um pouco mais atmosférico no sentido mais generalizado do gothic/doom metal antigo, no sentido tradicional, mas “Under a Godless Veil” é um álbum mais negro, mais subtil, tens mais tempo para reflectir, há mais pausas para respirares fundo. Acho que isso é uma coisa boa, seduz o ouvinte e faz com que, quem ouve, invista na música.»

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“Under a Godless Veil” tem data de lançamento a 30 de Outubro de 2020 pela Napalm Records. Lê a review AQUI.
Em artigos relacionados, Anders Jacobsson recorda a fundação dos Draconian AQUI.

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