Entrevista a Colosso. Colosso: «Quero causar uma sensação de vazio gerado pelo desprezo»

Com 10 anos de existência, o projecto português Colosso celebra o marco com “Hateworlds”, o novo álbum lançado pela recentemente fundada Gruesome Records. «Apesar de tudo, estou aqui, a divertir-me com isto. É o que interessa. Tirar gozo das coisas e continuar a fazer o que se gosta», diz-nos o mentor Max Tomé sobre uma década de «muitos altos e baixos, conquistas e perdas – o normal».

Sendo Colosso o empreendimento mais pessoal e mais trabalhoso do músico, até há poucos anos Max Tomé fez-se acompanhar de uma formação – uma banda, por assim dizer –, porém, recentemente começou a apresentar-se sozinho. Porquê? «O que aconteceu tem a ver com o facto dos restantes membros da formação quererem focar-se mais nos seus projectos individuais. Como Colosso estava a ser colocado em segundo ou terceiro plano, decidi que o melhor seria continuar sozinho. Mas continuamos todos bons amigos e continuamos a mostrar uns aos outros tudo o que fazemos, de forma ter algum feedback produtivo.» Tal conjuntura requer mais solidão na hora de compor, gerando, como poderá ser expectável, um lado positivo e outro negativo. «Por um lado podes fazer tudo o que te apetece, mas quando tens dúvidas ou incertezas sobre certos pormenores ou decisões a tomar, torna-se relativamente complicado… Além disso, o produto final é sempre, na minha opinião, mais multidimensional quando se cria em conjunto – o que pode também ser positivo ou não.»

Ouvindo-se “Hateworlds” mantemos a ideia de que o death metal de Colosso prossegue intenso e abrasivo, mas este novo registo inclui também noções opressivas e devoradoras com ritmos e riffs na escola de Bolt Thrower. Max Tomé vai mais além na clarificação das suas influências: «Para este trabalho, o intuito foi mesmo fazer um melting pot de Sepultura (era Cavalera), Decapitated (era “Organic Hallucinosis”) e Fear Factory (era “Demanufacture” e “Obsolete”). Acho que no final consegui o que queria, apesar de fugir a essas influências directas num ou noutro instante.»

Quanto ao conceito, para além do próprio título do álbum, encontramos faixas com nomes que oprimem (“Hatred”, “Dias Piores Virão”), possuindo até um cariz algo solitário (“Indifference”, “Despised”). O mundo é um sítio cada vez mais odioso, sem futuro e individual – «pode dizer-se que sim», corrobora Max. «Um dos intuitos da temática do álbum é causar essa sensação de vazio individual gerado em grande parte pelo desprezo (ou ódio) individual ou colectivo. Apesar disto, as letras foram concebidas com o objectivo de falar da raça humana como destruidora de culturas pacíficas, transformando amor em ódio. Ódio é, de facto, uma palavra muito utilizada ao longo do registo.»

Outro aspecto relevante em “Hateworlds” tem a ver com um músico convidado bastante especial – falamos de Dirk Verbeuren, actualmente nos Megadeth. «Já tínhamos colaborado precisamente no primeiro álbum de Colosso, “Abrasive Peace”. Deste então, criámos uma relação de amizade à distância, em que por vezes fazemos trocas dos nossos trabalhos. Ele continuou a seguir o trajecto de Colosso, passa algumas vezes temas dos meus trabalhos no seu programa de rádio. Fomos sempre trocando e-mails desde o primeiro dia em que falámos e a vontade em tê-lo noutro registo de Colosso sempre permaneceu dos dois lados.» E se a vontade já existia, então estava na hora de se a transformar em acções. «Achei que este seria o álbum ideal, para tentar fechar o ciclo de dez anos e porque gosto deste álbum da mesma forma que o “Abrasive Peace” – que, sendo 100% sincero, sempre foi o meu lançamento preferido.»

Sobre colaborar com Dirk, Max revela por fim que «é incrivelmente fácil». «As coisas entre nós fluem mesmo bem. Não sou muito picuinhas quando há um ou outro detalhe que ele altera, e quando quero que isso aconteça ele nunca se mostrou contra. Não sei como é com outros projectos, mas neste sempre funcionou muito bem!»

“Hateworlds” tem data de lançamento a 15 de Janeiro de 2021 e é distribuído pela Gruesome Records.

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