Em "Wolves of Thelema" só embarca quem quer. Caronte “Wolves of Thelema”

Editora: Ván Records
Data de lançamento: 06.12.2019
Género: doom/gtohic metal
Nota: 3/5

“Wolves of Thelema” é o quarto álbum dos italianos Caronte sob a influência do ocultista Aleister Crowley, fundador da doutrina Thelema e autor do Livro da Lei. Para o novo registo, a banda contratou um segundo guitarrista, um teclista para o Hammond e sintetizadores, e o produtor Jaime Gomez Arellano (Paradise Lost, Ghost, Cathedral, Ulver, etc.). Estes barqueiros do inferno, tal como é conhecida a figura de Caronte na mitologia grega, descrevem nas atmosferas melancólicas, obscuras e litúrgicas de “Wolves of Thelema” a experiência do ritual xamânico que os conduziu, por entre visões do oculto, ao fim do cosmos.

O álbum abre com o primeiro de nove temas, num registo gothic metal com bons arranjos e logo exibe uma marca post-punk com uma voz teatral encostada a um Peter Murphy da fase mais icónica dos Bauhaus. “333” é, de seguida, o tema mais speedado de todos, com a voz a lembrar Danzig, mas estamos muito longe dos Misfits – foi uma falsa partida. “Hypnopyre” é um bom single, com a entrada a apontar para doom, o que melhora com a cadência duma batida tribal e pela atmosfera, regressando a guitarrada em pleno território goth-rock com uma vocalização entre Siouxsie, outros momentos mais vociferados, animalescos e, de novo, Peter Murphy. “Queen of the Sabbath” é provavelmente a faixa que menos desilude, construindo um ambiente sinistro e envolvente que se sustenta até um final que escorre o ácido na guitarra. Do meio para a frente, deve ser “Amalantrah Sonata” que fica a ganhar, um instrumental atmosférico e funesto, em que os coros se abrem para os teclados brilharem – e resulta. Segue-se “Quantum Eclesia”, com umas guitarras aciduladas e coros cerimoniais, numa faixa em que Dorian Bones tem nova oportunidade para exibir os seus dotes de intérprete e grande elasticidade vocal, fazendo lembrar Wayne Hussey dos The Mission, mas um Wayne Hussey de vozeirão, como quem troca tinto por um bom bagaço. Mal nos pomos a adivinhar quem vai emprestar a voz ao tema que se segue, já “Black-Hole Dawn” nos devolve o Danzig de “333”, desta feita envolto numa linguagem de guitarra própria da NWOBHM (como nalguns de outros temas, aliás) para depois tudo evoluir de forma dispersa com uns teclados à mistura a apontar o fim. Para desanuviar de tanta salganhada somos levados a pensar como teriam soado os Iron Maiden se Danzig tivesse sido contratado para substituir Paul Di’Anno no lugar do Bruce Dickinson. Adiante, e por fim, chega “Stairway to the Cosmic Fire”, uma composição fraca em que, infelizmente, o que mais ressalta é a pronúncia inglesa com sotaque italiano, uma maleita igualmente diagnosticada noutros temas.

Estarão as referências do rock gótico dos anos 1980 e do post-punk do final da década de 1970 a comandar as coordenadas da nova vaga de doom metal? Os Caronte vogam por caminhos místicos e águas turvas. Em “Wolves of Thelema” só embarca quem quer.

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