E quando já não nada davam por eles, eis que se apresentam com “Weedsconsin” e aquele bafo stoner condimentado com verduras...

Editora: Heavy Psych Sounds
Data de lançamento: 20.04.2021
Género: stoner / psych rock
Nota: 4/5

E quando já não se dava nada por eles, eis que se apresentam com “Weedsconsin” e aquele bafo stoner condimentado com verduras da melhor estirpe confeccionadas numa boa fritura. Quem sabe, sabe.

E quando já não se dava nada por eles, eis que se apresentam com “Weedsconsin” e aquele bafo stoner condimentado com verduras da melhor estirpe confeccionadas numa boa fritura. Quem sabe, sabe. É o regresso dos Bongzilla de Mike “Muleboy” Makela, agora reduzidos a trio com o próprio a ocupar-se do baixo, a riffalhada nas mãos de Jeff “Spanky” Schultz, o kit de bateria nas mãos (e rendido aos pés e aos pratos) do irrepreensível Mike “Magma” Henry, produzidos pelo malogrado John Hopkins (High On Fire, Boris).Para alguns desprevenidos, a melhor introdução à banda resume-se na curta resposta de Mike Makela ao pessoal associado ao site desert-rock.com aquando da preparação do recomendável compêndio “The Stoner Freaks Anthology”, da autoria de Damien Regnauld e Xavier Bataillon. Pergunta: «Quais são as tuas principais influências?» Resposta: «Black Sabbath, marijuana.» Tudo dito.

“A erva do Wisconsin” faz lembrar Walt Whitman, poeta influente da beat generation, e assegura uma entrada directa para o topo da lista do “Manual de Sobrevivência de Qualquer Bongonauta que se Preze” com seis valentes baforadas de sludge psicadélico. A fotossíntese é miraculosa para as plantas que alimentam animais desde a Era Jurássica. Respira fundo, inala bem até encher o peito… Sustem a respiração até subir o efeito… Bem! Manda fora, expele. Quem gosta fuma, quem não gosta leva com bafos perfumados. Ao fim de 16 anos sem editar, os amerijuanicanos de Bongzilla dão provas dum bom Porto e dum inebriante Moledo. Para além da line-up citada não esperem surpresas nem novidades – o novo álbum deste projecto líder e pioneiro no segmento do weed metal é um exercício clássico de tribalismo stoner e jamming expansível. “Weedsconsin” tem lançamento inevitável no calendário 4.20 do ano corrente, com o selo da académica Heavy Psych Sounds.

“Sundae Driver” é uma estirpe de ervanária produzida em auto-gestão pelos autores. A palavra é uma arma. Serve de aperitivo e single de apresentação meio disfarçado com “TV Eye” dos The Stooges e escolinha MC5, a referência rockereproto-punk com bom resultado numa escolha pouco usual neste universo. Dá um cheirinho mas não aprofunda, é a ode inicial do primeiro capítulo do novo livro da Mary Jane segundo Bongzilla. Fájuma! “Free The Weed”, sim, avança destemidamente pelo desert rock com a mesma lentidão dum qualquer duelo num spaghetti western e atira a viagem, onde a coisa se adensa e melhor se nota o veneno de Alice Cooper injectado nos miolos do Muleboy, com os pratos sempre a tinir um cowbell fininho até ganhar tracção para fazer rugir o motor duma besta de duas rodas bombeada com sangue de 98 octanas.

Os 10 minutos de caminho do puro “Space Rock” que dura esta terceira faixa sobrevoam horizontes mais densos e arriscados, como as águias que pairam lentamente sob o sol ardente e alaranjado prontas a descer a pique sobre o trilho ondulado da serpente. Fájoutra! As veias são como as amoras silvestres: roxas por natureza quando estão boas para apanhar. A ganza? A ganza era fofa e boa até à entrada reptiliana da voz de Mike Makela. Ao fim de tantos anos de Bongzilla, o homem tem as cordas vocais arranhadas por dentro. O tema prossegue com avariações lisérgicas à guitarra e o feitio alcatifado da secção rítmica.

Enrola aí májuma. “The Weedeater” comprova um alinhamento bem estudado, servindo de interlúdio para a cerimónia de abertura de meio minuto, escancarando as portas da percepção ao verdadeiro tripanário. Agora fazes tu. “Earth Bong / Smoked / Mags Bags” é um elixir intoxicante fruto da sabedoria ancestral no estudo milenar de colheitas duma certa resina viscosa com poderes encantatórios, eléctricos e, afinal, igualmente xamânicos. Este material tão tóxico cospe, inclusive, algures um ataque de tosse hilariante e assinala a mudança de tempo para o andamento mais rasgado que nos liberta. Se o discurso destes 15 minutos faz lembrar aquela trip infindável de “Meddle”, dos Pink Floyd, em modo stoner-psych? Sim, com agrado. Isto é uma grande jammada com as claras a trepar em castelo. Psych da gema, uma viagem astral com vários andamentos. Um épico.

Acaba-se a erva, apaga-se a pedra. “Gummies” assegura por entre a dormência dopante que não nos perderemos na volta da viagem e amortece a queda à saída do tripanário. É o regresso ao mundo real com um ataque de riso e um nervoso miudinho pelo meio.

Após a deambulação de ¾ de hora (nada mau, boa cena), por entre as sombras de cortinas de fumo multicolores e o brilho esverdeado de pirilampos incandescentes, descemos enfim à Terra Azul – inteiros, em segurança e com o máximo bem-estar. Heavy Psych & Maria da Boa. A chicha do Wisconsin é resina essencial!

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