Roma e Pavia não se fizeram num dia. JRR Tolkien não inventou a Terra Média numa semana num escritório em Oxford.... Blind Guardian Twilight Orchestra “Legacy Of The Dark Lands”

Editora: Nuclear Blast
Data de lançamento: 08.11.2019
Género: neoclássico
Nota: 4/5

Roma e Pavia não se fizeram num dia. JRR Tolkien não inventou a Terra Média numa semana num escritório em Oxford. “Legacy Of The Dark Lands” é a Roma e a Terra Média de Hansi Kürsch e André Olbrich.

Directa sequela do livro “Die dunklen Lande” de Markus Heitz, este empreendimento demorou 23 anos a ser concretizado, tendo assim origem antes do magnífico “Nightfall in Middle-Earth” (1998). E não é com leveza, mas com certeza, que se afirma que “Legacy Of The Dark Lands” é o maior investimento financeiro e criativo destes dois integrantes de Blind Guardian desde 1998.

Juntamente com a muito experiente Prague Filmharmonic e em reunião com os entusiasmantes narradores de “Nightfall in Middle-Earth”, Kürsch e Olbrich provam que Blind Guardian pode ser mesmo a banda-sonora que qualquer filme de fantasia gostaria de ter. Ao longo de 75 minutos temos de esquecer que Blind Guardian é uma banda de power metal que se alimenta de riffs e leads magistrais e de percussão bombástica. Ao longo de 75 minutos temos de mergulhar num mundo orquestral que, sabemos, não fica assim tão distante de bandas como esta e como tantas outras.

Interligados com as sempre excitantes narrações protagonizadas por um grupo de apaixonados britânicos, os temas de “Legacy Of The Dark Lands” são um mar de emoções, com vagas gigantescas em momentos de explosão sentimental mas também com algumas suaves marolas a beijar a areia de uma praia onde um batalhão com muito sentido criativo vai desembarcar. Com tudo isto, tenham-se em conta faixas como “The Great Ordeal” que nos pode fazer imaginar um bando de hobbits a correr por planícies verdejantes e a acabarem no cume de uma colina a olhar para o horizonte, ou “In the Red Dwarf’s Tower” que, com a sua toada mais negra, faz-nos crer que daria uma pesada música de power metal, assim como “Point of No Return” que também originaria uma bela composição dentro desse subgénero do metal mas num pólo oposto, com contornos mais épicos e joviais ao invés de escurecidos. Claro que esta premissa se aplica a praticamente todo o álbum; por isso, uma versão metal de “Legacy Of The Dark Lands” é algo que funcionaria excelentemente bem e que a banda devia considerar, mesmo que demorasse mais 23 anos.

Pelo meio de todas as experiências que obtemos através dos belíssimos arranjos interpretados pela Prague Filmharmonic, o destaque máximo tem de ser apontado à fenomenal performance do vocalista Hansi Kürsch que, várias vezes acompanhado por vozes em suporte à sua, mostra que é, indubitavelmente, um dos melhores vocalistas de sempre, não só no panorama metal mas também num plano universal – afinal de contas, não é qualquer um que se manda para a frente do comboio de modo a realizar um esforço tão grande e intenso como este. De cobardes e corajosos é composto o mundo – Hansi podia ser muito corajoso e esbarrar-se completamente, mas já o conhecemos e sabemos do que o alemão é capaz, esclarecendo assim todos os cépticos que posam existir e garantindo totalmente ao restantes que ficará na História.

Como qualquer trabalho orquestral, seja clássico ou neoclássico, “Legacy Of The Dark Lands” não é para qualquer momento, porque necessita de muita paixão e atenção. Ouvir uma orquestra sem imagens é como ler um livro – é exigida uma imensa ginástica imaginativa. Novamente, pense-se no “Senhor dos Anéis” antes do filme… Era bonito imaginar como eram as feições de Aragorn, como seria o sofrimento de Frodo e como seria a ardente Mordor. Faça-se o mesmo com “Legacy Of The Dark Lands” – é compensador.