Aversio Humanitatis “Behold the Silent Dwellers”
Reviews 15 de Junho, 2020 Metal Hammer
Editora: Debemur Morti Productions
Data de lançamento: 19.06.2020
Género: black metal
Nota: 4/5
Aversio Humanitatis prova-nos saber fazer uso da dinâmica, arranjos intrincados e ambientes distintos nos quais se conjugam equilibradamente brutal, atmosférico e melódico.
“Longing for the Untold”, EP de 2017, fez Aversio Humanitatis destacar-se na vastidão musical, imensa e saturada, através dum trabalho em que pudemos identificar a influência dum punhado de actos regeneradores do black metal, assim como a clara intenção da banda em não se limitar a um subgénero. Por isso, quando formado o binómio latim da mais profunda negridão, entre Debemur Morti e Aversio Humanitatis, apenas aumentou a ansiedade com que esperávamos o novo LP da banda. Finalmente revelado, em “Behold the Silent Dwellers”, os madrilenses superaram-se a si mesmos e oferecem-nos puro regozijo.
Desde os primeiros instantes, o martelo fala-nos de forma directa e demolidora com riffs e blast-beats apropriadamente black metal. Mas poucos minutos depois, para conseguirmos tomar fôlego, o ritmo abranda dando lugar a passagens lentas de notas alongadas. E, com a mesma rapidez, logo existe outra mudança com secções mid-tempo pulsantes e deveras cativantes. Todo o conjunto se matiza com a loucura na desesperança e com o fervilhar da sobrevivência. É um álbum tremendo no qual converge do que de mais interessante se passa no género. Demonstra a busca constante do trio pela mestria nos seus instrumentos, por uma identidade única e pelo primor das composições. Facilmente, a banda prova-nos saber fazer uso da dinâmica, arranjos intrincados e ambientes distintos nos quais se conjugam equilibradamente brutal, atmosférico e melódico. Sobre os instrumentos, a voz de A. é muito singular, sinistra e devastadora, fazendo aumentar a estatura das músicas criadas por S., na guitarra, e J., na bateria.
A. foi também quem desenvolveu as letras e imagens deste álbum temático e o nome que deu a cada música é fascinante. Impele-nos a decifrar quem são os moradores mas apenas para levar-nos à desolação na descoberta: têm como face o medo, a manipulação, a ignorância ou a perdição que vivem dentro de nós e que pairam sobre de nós. Quanto à imagética criada, o uso da paisagem urbana para um álbum de metal não é pioneiro, mas a escolha da arquitectura brutalista é específica e emblemática. Se pensarmos como expõe a autenticidade estrutural, os materiais em bruto ou como vive das mutações luz-sombra, a relação com o som do álbum revela-se-nos clara. E se pensarmos como os seus idealismos socialistas se transformaram em formalismo opressivo, causando a decadência dos espaços e dos habitantes, entendemos que o conceito de paisagens urbanas foi desta vez elevado a um nível francamente superior.
Há ainda espaço para crescimento pois queremos ver maximizados a originalidade, os riffs e o drumming memoráveis que o álbum tem, ou as linhas do baixo que pontualmente se anunciam, mas referi-lo é mesmo preciosismo crítico. Em boa verdade, o álbum é uma construção inteligente e meticulosa que vai desde a temática à duração total, passando pela articulação e relevância de cada faixa. Tudo alicerçado na produção excelente, novamente a cargo de S., que garante a expressividade devida das partes e do todo.
A forma como foi tão bem esculpido, sonora, lírica e iconograficamente, mostra que “Behold the Silent Dwellers” é som, argumento e cenário duma peça que nos fala sobre a humanidade sensível subjugada às forças destruidoras que brotam de si própria, sobre a humanidade efémera confrontada com o declínio das obras nas quais se tentou perpetuar, sobre a humanidade que é indagação e que está condenada a ter como resposta o silencioso vazio. Mas antes de tudo perecer, que possamos pensar, sentir e existir na arte que se diz primeira e da qual este álbum é admirável exemplo. Que o fim não venha tão cedo, pois queremos testemunhar as futuras criações desta banda.


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