Os brasileiros Sepultura lançaram o novo álbum “Quadra” a 7 de Fevereiro de 2020.

Os brasileiros Sepultura lançaram o novo álbum “Quadra” a 7 de Fevereiro de 2020 e, na véspera, realizou-se uma conferência de imprensa com audição exclusiva do disco. No evento, a banda comentou sobre o novo trabalho e o conceito por trás da obra. «O número 4 significa um momento de manifestação, de fundamento, em que as coisas acontecem, saem da teoria e acontecem de verdade, o que no meu ponto de vista é a definição do presente, do agora. E o que mantém esta banda viva até hoje é viver o presente, o agora», comentou Andreas Kisser.

A partir de um livro de matemática e geometria, surgiram as ideias para criar o conceito à volta do lançamento. «É daí que veio esta coisa do “Quadra”, de usar essa coisa da numerologia, da geometria e fazer uma analogia com o que a gente vive, porque quadra é uma palavra em português, não há em inglês… E quadra é uma espaço demarcado onde há regras e o jogo acontece. É a nossa vida. O Brasil é uma quadra. Cada país é uma quadra.»

Foto: Jéssica Mar

Além do conceito filosófico, há o conceito matemático facilmente detectado em “Quadra”, que é dividido em quatro partes e cada lado é representado pelas fases e sonoridades que os Sepultura sempre abraçaram. «Desde o início que tínhamos a ideia de o dividir dessa forma, muito influenciado pelo conceito da matemática. O número 4 está muito presente na cultura em geral. E isso ajudou-nos a criar de uma maneira organizada. Dividir em quatro e fazer as músicas. Três músicas em cada lado do disco. O Lado A é um lado mais thrash metal, old-school da banda. O Lado B é mais groovado, com a percussão como no “Chaos AD” e no ”Roots”. O Lado C é mais instrumental, uma tradição nossa, como no “Esquizofrenia”. E o Lado D apresenta a nossa música com vozes mais melódicas e com a participação de voz feminina, o que sempre quisemos fazer.»

Os Sepultura sempre foram rotulados como thrash metal devido às suas raízes, mas a banda deixa claro que não gosta de seguir rótulos. «Não importa a denominação. Componho de dentro pra fora. Ouço todo o tipo de música. Escutamos de tudo e não ficamos preocupados com rótulos. Não tem sentido nenhum julgar o que a gente faz. Isso é uma característica do metal, inserir coisas novas. E acho isso super válido.»

O álbum está cheio de detalhes e arranjos, e questionados sobre como será tocar ao vivo, Andreas acrescentou: «Estamos a preparar o alinhamento. Vamos adaptar-nos para fazer essa apresentação. Ao vivo é diferente do que ouvir o disco. Música ao vivo é outra coisa, cada concerto é diferente. É uma arte nova que é criada a cada apresentação.» Os Sepultura começarão a digressão pelos EUA na próxima semana, passando pela Europa em Junho e Julho, onde tocarão em Lisboa, no VOA Heavy Rock Festival 2020.

Sobre o conceito da capa, foi destacado ser a parte mais difícil da criação do disco, em que Andreas pediu ajuda ao fotógrafo brasileiro Marcos Hermes. Andreas citou que demorou até chegar ao conceito da moeda. «O dinheiro é a principal regra de vida de qualquer pessoa. Há sempre uma relação com dinheiro. Independentemente de qualquer quadra (ou país), o dinheiro está sempre envolvido em todo o lado. Nas várias maneiras de se relacionar com alguém, julgamos a partir do poder aquisitivo. Escravatura do dinheiro. O ícone da moeda é muito importante, e assim colocámos a caveira para representar o metal, mas está a representar um senador que significa a Lei. Certo ou errado, política. Na cabeça do senador está representado o mapa, pois vemos o mundo de acordo com o mapa, aprendemos isso na escola.»

Os Sepultura oferecem uma obra a partir da qual querem fazer as pessoas pensarem e questionarem o conhecimento. E as perguntas que estão por detrás disso são: «Por que é que acreditas nas coisas que acreditas? Por que é que defendes essas ideias? Mais importante do que acreditar é defender essa ideia.» Muitas vezes, não sabemos de onde vieram certos conceitos e ideologias, então por que é que confiamos? Ouçam o “Quadra” e tirem as as vossas conclusões.

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Abaixo podes ouvir a entrevista concedida por Andreas Kisser à Metal Hammer Portugal.

Rastilho apresenta: Torre de Controlo – Andreas Kisser (Sepultura)

Dos fãs presos ao passado à forma como Andreas Kisser desenvolveu o death metal cru dos irmãos Cavalera, o músico falou à Metal Hammer Portugal sobre o bom momento dos Sepultura e de “Quadra”, o novo disco dos brasileiros.

Publicado por Metal Hammer Portugal em Segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020