Tribulation “Where the Gloom Becomes Sound”
Reviews 27 de Janeiro, 2021 Diogo Ferreira
Editora: Century Media Records
Data de lançamento: 29.01.2021
Género: gothic/dark metal
Nota: 4/5
“Where the Gloom Becomes Sound” é uma caminhada em direcção aos portões de um cemitério, mas é também uma dança que deixa os corpos em suspenso e num histerismo que mascara a última morada de todos nós – é como se fizéssemos parte da trupe saltitante de Ingmar Bergman em “The Seventh Seal”.
Banda que começou com uma sonoridade baseada em death metal, depressa se notaram influências góticas e post-punk. Assim, os Tribulation foram desenvolvendo o seu som até ao que conhecemos hoje, tornando-se um nome coqueluche no panorama que reúne metal e gótico.
Com um título inspirado em Sopor Aeternus, figura icónica do movimento obscuro alemão e que tem estado sob radar dos Tribulation nos últimos 10 anos, os suecos trouxeram as boas notícias em primeiro e as más em segundo. Depois de anunciarem este lançamento, os fãs foram surpreendidos quando se noticiou a saída de Jonathan Hultén – guitarrista, compositor e força motriz em palco com os seus movimentos à bailarina. Todavia, o músico ainda compôs e gravou este “Where the Gloom Becomes Sound”, sendo doravante substituído por Joseph Tholl (Vojd, ex-Enforcer).
Ao longo de cerca de 48 minutos, os Tribulation oferecem-nos um disco envolto em escuridão, magia e condenação iminente – como não podia deixar de ser! Em poucas palavras, “Where the Gloom Becomes Sound” é uma contínua e longa marcha fúnebre com músicas embrulhadas numa inquietante mortalha funerária em tons cinzentos.
Desde visitas de fantasmas a ataques de ansiedade, passando obviamente por rituais ocultistas, os Tribulation, por mais enegrecidos que sejam, foram capazes de elaborar dez novas composições cheias de elegância. Ouvir “Where the Gloom Becomes Sound” é mais do que se pensar em florestas densas e caminhos lamacentos – na verdade, faixas como “Hour of the Wolf” evocam, para além da referida marcha fúnebre, uma graciosidade gentil de quem deambula por um palácio abandonado que outrora fora preenchido por luz e actividades sociais, mas, mesmo nessa solidão, a personagem, que podemos criar na nossa mente, mantém-se imaculada e recta.
Entre sinos, órgãos eucarísticos e sons de fundo que preenchem o vazio como se de ventanias aterrorizantes se tratassem, as guitarras de Hultén e Zaars são o aspecto principal a ter em conta. Detalhadamente, a dupla cria uma dança interligada que seduz sem dificuldade, tecendo um tapete sem pontos mal dados entre os leads mais audíveis e luzidios de Hultén e o ritmo, em auxílio, mais pesado de Zaars. Em resumo, tal ambiente poderá ser indicado para fãs de The Sisters of Mercy.
Para além de tudo isto, encontramos também influências em Blue Öyster Cult, banda nem sempre referida mas muito preponderante em fazer originar nomes como Tribulation e Ghost. E por falar no conclave de Tobias Forge, faixas como “Dirge of a Dying Soul” e “Daughter of the Djinn” poderiam muito bem ser obra desse compatriota sueco, mas, e apesar dos teclados semelhantes, encontramos em Tribulation um sentido ainda mais negro, mais lúgubre e de maior maldição do que em Ghost. Se olharmos bem para as coisas, até que nem é descabido: mesmo que Tribulation seja mais metal do que Ghost, é facto que as inspirações são semelhantes e até partilharam palco numa digressão em 2019.
Para rematar e fazer com que as pontas deste texto se toquem, “Where the Gloom Becomes Sound” é realmente uma caminhada em direcção aos portões de um cemitério, mas é também uma dança que deixa os corpos em suspenso e, possivelmente, num histerismo que mascara a última morada de todos nós – é como se fizéssemos parte da trupe saltitante de Ingmar Bergman em “The Seventh Seal”.
Lê a entrevista aos Tribulation aqui.

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