Transgresión: filhos de uma condição adversa
Subsolo 16 de Novembro, 2020 Metal Hammer
Origem: Puerto Rico
Género: thrash/speed metal
Último lançamento: “…hijos e hijas de lo que engendramos…” (2019)
Editora: Inriri Discos
Links: Facebook | Bandcamp
Focados nas adversidades sociopolíticas, os porto-riquenhos Transgresión exploram os problemas da sua ilha e do mundo através de thrash/speed metal com um toque cru do underground.
«O realismo nas nossas letras, aliado ao clima na música das nove faixas, é fundamental para a compreensão da mensagem que é apresentada.»
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O álbum
Ángel Mario: «No nosso álbum de estreia, “…hijos e hijas de lo que engendramos…”, incluímos nove faixas que são absolutamente em espanhol, a língua que a população do nosso país fala no dia-a-dia. Portanto, a decisão de escrever letras na nossa língua nativa foi tomada considerando a importância de comunicar uma mensagem social, principalmente para a população de língua espanhola da América Latina e outras partes do mundo com quem partilhamos algumas realidades sociais e históricas. Sentimo-nos muito à-vontade em comunicar a mensagem que gostaríamos de transmitir em espanhol. Sinceramente, como as letras de Transgresión estão relacionadas ao nosso dia-a-dia, entendemos que a melhor forma de aludir a esses temas passa pela língua que falamos todos os dias.
Sabemos que algumas pessoas interessadas na nossa proposta musical podem não entender a mensagem da letra por não entenderem a língua, no entanto convidamos a tentarem ouvir-nos. E, se ousarem, também vos convidamos a aprenderem uma nova língua e, ao mesmo tempo, a entenderem o contexto social, económico e político da nossa ilha. No que diz respeito ao aspecto musical, os pilares são thrash metal e speed metal, mas, como podem perceber, temos influências de vários estilos metal, pois encontrarão elementos vários em muitas músicas. Para além disso, encontrarão elementos musicais que não são metal em algumas músicas como “Más Allá de Este Suelo”, na qual incluímos melodias jíbaro, a música folk porto-riquenha.
No caso de “La Marcha de las Sabandijas Bípedas”, como decidimos incluir um tema não necessariamente relacionado directamente à nossa realidade insular e no qual pretendíamos contextualizar audivelmente, recorremos a elementos musicais do Médio Oriente. Sinceramente, para quem ousar ouvir o nosso álbum, encontrará um trabalho honesto em que todas as músicas aludem a problemas reais, já que as nossas letras não estão relacionadas à ficção, nem têm o escapismo como objectivo. Esse realismo nas nossas letras, aliado ao clima na música das nove faixas, é fundamental para a compreensão da mensagem que é apresentada. Desvincular um desses elementos do outro pode levar a uma compreensão parcial do nosso trabalho.»
Omar Almonte: «Sem dúvida, o nosso álbum de estreia é uma proposta honesta de metal em espanhol, em que heavy rock se mistura com letras que consideramos relevantes para transmitir de forma real, directa e compreensível. Entendemos que não somos o único país que enfrenta situações sociais, políticas e económicas adversas, mas, se tivermos a oportunidade de transmitir a mensagem, é oportuno informar os ouvintes de que não estão sozinhos (isolados) nesse tipo de situação. Para além de denunciar injustiças, é importante que as pessoas saibam que podemos ser sempre parte da solução. Apesar de ser um projecto de metal em espanhol, a viagem do álbum levará o ouvinte pelos caminhos do hardcore, punk, speed, thrash e doom fundidos num objectivo comum: despertar a consciência.»
Harry Villavicencio: «Gostaria de acrescentar que há muita coisa a acontecer no álbum em termos de diferentes instrumentos como complementos, por isso foi importante encontrar espaços na música para participar e interagir de maneiras interessantes sem se comprometer o geral som. Podem esperar um álbum muito poderoso, intenso e carregado. Tentamos dar a sensação de uma performance ao vivo.»
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Conceito
Ángel Mario: «É curioso que algumas pessoas tenham pensado que o álbum é conceptual. Contudo, apesar de todas as faixas apresentarem temas que aludem a questões sociais, económicas e políticas vinculadas ao modelo económico actual e vigente, a verdade é que o álbum não foi concebido para ser conceptual. Embora confesse que talvez, inconscientemente, tenhamos organizado e estruturado o álbum quase de forma conceptual. Como já expliquei, as letras aludem a temas sociais, económicos e políticos que fazem parte do nosso redor e também, como no caso de “La Marcha de las Sabandijas Bípedas”, aludimos a como através de persuasões corporativas são organizadas operações militares e guerras declaradas por meio de uma retórica persuasiva que chega aos jovens para que estes façam o trabalho sujo coercitivo, tendo como objectivo a apropriação e exploração de recursos e matérias-primas que não lhes pertencem, para se gerar lucro graças ao consumo das pessoas, o nosso consumo desmedido e voraz. No caso de “Santificada Perversión”, ao contrário das outras músicas do álbum, não se alude a uma questão político-económica mas a abusos de poder clerical tão evidentes como o abuso sexual de crianças. Durante algum tempo, essa música não foi considerada para fazer parte de uma produção musical da banda – no entanto, devido à sua relevância por aludir a um problema que tem estado presente no nosso país e também por alguns dos nossos seguidores manifestaram interesse, acabámos por decidir incluí-la. Noutro caso, a faixa quase-instrumental “Más Allá de Este Suelo” é muito pessoal.»
Omar Almonte: «Em relação a “Más Allá de Este Suelo” posso dizer que durante o processo de gravação e mistura do álbum, cada um dos membros da banda, incluindo um dos engenheiros, perdeu um ente querido. É uma recordação daqueles que passaram pelas nossas vidas e, que apesar de já não cá estarem fisicamente, permanecerão vivos através das memórias que duram para sempre. Para além disso, embora talvez não planeada, a estrutura do álbum pode criar no ouvinte a impressão de que é uma obra conceptual. O próprio título do álbum, “…hijos e hijas de lo que engendramos…”, poderia sugerir contar a história daquilo que nós próprios criamos ou provocamos. Fica ao critério do ouvinte escolher se é ou não. Para mim, nenhuma resposta seria correcta ou incorrecta.»
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Referências
Ángel Mario: «Desde o início, a ideia era tocar thrash metal e speed metal, algo que ficou evidente desde a nossa maquete “…de sangre y represión…”, e que é a pedra angular do nosso primeiro álbum. Ainda assim, isso não significa que não sejamos flexíveis quanto ao nosso trabalho musical, uma vez que a formação actual tem diversas influências musicais, tanto metal como não metal. Tal pode ser encontrado no nosso álbum de estreia, havendo elementos musicais de diferentes estilos de metal, mas também não-metal, como no caso das vozes operáticas na introdução de “Santificada Perversión”, elementos da música folk porto-riquenha em “Más Allá de Este Suelo”, entre outros.
Actualmente estamos a trabalhar no nosso segundo álbum, que também terá thrash metal e speed metal como pedra angular. Mas, como no nosso álbum de estreia, recorremos a outros estilos musicais. Entretanto, confesso que será, de alguma forma, mais agressivo do que o primeiro. Isso não significa que estejamos distanciados do thrash metal e speed metal, mas dependerá dos nossos objectivos quanto à mensagem que queremos apresentar. Tal implica que a mensagem lírica e auditiva não deve ser dissociada, uma vez que uma depende da outra.
Em relação às minhas influências, existem várias, mas vou concentrar-me naquelas que foram relevantes para o nosso primeiro álbum. Sempre me influenciou a música de bandas como Hermética, V8, Nepal, Malón, Horcas. Nessas bandas encontrei uma referência de expressão metal relacionada a uma realidade social não muito diferente das realidades do meu país, mesmo que existam particularidades históricas. As suas letras são muito relevantes e não são relacionadas à ficção, algo que para mim é muito importante. Outras bandas relevantes são Barón Rojo e Muro.
Para além disto, como referências e influências, tenho Sepultura, Kreator, Slayer, Heathen, Suicidal Tendencies… Thrash metal e crossover no geral. Os Motörhead são sempre uma referência muito relevante. Hardcore e punk também fazem parte das referências e influências no nosso trabalho, já que bandas como Tropiezo e Juventud Crasa, ambas de Puerto Rico, estão entre as que considero muito relevantes. Da mesma forma, outra referência relevante do nosso país é Blokke, banda de groove/thrash metal actualmente dissolvida. As suas letras aludiam a temas relevantes relacionados ao nosso quotidiano.
Também tem havido alguma influência de prog rock, como é o caso de bandas como Jethro Tull, Ñu, a banda porto-riquenha Xibalbay e alguns nomes do rock progressivo italiano. E, claro, Black Sabbath, Candlemass e My Dying Bride são de alguma forma evidentes no nosso trabalho. Fora dos espectros do metal e do rock, a música folk porto-riquenha e a música folk de outros lugares do mundo têm sido referências.»
Harry Villavicencio: «Entre as minhas maiores influências estão Chris Squire, Geezer Butler, Justin Chancelor, Les Claypool e Al Cisneros. Todos eles têm, de uma forma ou de outra, ajudado a formar o meu som e o meu crescimento como músico. Tento incorporar, da melhor forma possível, influências vindas de fora do metal.»
Omar Almonte: «Sobre as minhas influências e referências posso dizer que Sepultura, Slayer, Kreator, Testament, Misfits, Mastodon, Black Sabbath e Paradise Lost têm sido parte essencial da minha formação. Posso citar Paul Bostaph, John Tempesta, Igor Cavalera, Ventor, Mario Duplantier, Alex González como influências directas quando se trata de música pesada.»
Review: Cantado em espanhol, os Transgresión tocam um speed/thrash metal com um toque cru de underground, o que lhes confere honestidade e uma sonoridade sem rodeios. Com riffs bastante esgalhados e uma bateria poderosa, a velocidade é o elemento que mais domina as músicas desta banda de Puerto Rico, mas não se esquecem de incluir componentes melódicos que cativam a atenção de quem ouve temas como “Esclavos Del Vacío”. Indicado para fãs da NWOBHM e da cena thrash metal da Bay Area.

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