O melhor deste EP são realmente os solos e linhas melódicas, mas nem as guitarras escapam a 100% à produção atroz que ajuda a... Running Wild “Crossing the Blades” EP

Editora: Steamhammer / SPV
Data de lançamento: 06.12.2019
Género: heavy/power metal
Nota: 3/5

Para alguns, ilustres desconhecidos, para outros, um dos nomes a ter em conta do power metal alemão e que vale muito a pena conhecer, os Running Wild lançaram desde o início da sua carreira em finais dos anos de 1970 álbuns indispensáveis para o mundo do metal como “Under Jolly Roger”, “Port Royal”, “Death or Glory” ou “Black Hand Inn”, contudo esses dias de glória ficaram há muito tempo para trás. Nas últimas décadas de actividade, os Running Wild lançaram discos medianos, interrompidos por um curto hiato nas actividades da banda, regressando desde então com três álbuns também dentro da mediania e previsíveis, que mostram uma tendência para incluir mais temas de inspiração hard-rock, dos quais o menos mau é o mais recente longa-duração “Rapid Foray”.

Como aperitivo para o seu próximo álbum de originais, que deverá sair no Verão de 2020, e mais uma vez demonstrando os problemas vividos pela banda, lançam agora o EP “Crossing the Blades”. Um deles é a bateria ou a pobreza dela. Há muitos anos, o senhor Rock ‘n’ Rolf, aliás Rolf Kasparek, guitarrista e vocalista, bem como o mentor da banda, teve uma das piores ideias da sua vida, a de recorrer a uma bateria programada, e mal programada, diga-se. O resultado foi na sua maioria desastroso, mas Rock ‘n’ Rolf deve ter gostado bastante porque desde então tem ido muitas vezes por esse caminho. Este EP parece não ser diferente. Custa a acreditar que exista realmente um Michael Wolpers a gravar estas faixas em estúdio. Se existe, é um péssimo baterista, mas o que transparece, pela mecânica, pelo som terrível dos pratos e falta de alma da bateria, é que é mais uma programação. Muitos terão saudades dos tempos em que nomes como Ian Finlay, Stefan Schwarzmann ou Jörg Michael enchiam os discos de Running Wild com o seu talento na bateria. De igual modo, existirá um Ole Hempelmann em estúdio, ou as partes de baixo, geralmente bem enterradas nas misturas, foram de novo gravadas por Rock ‘n’ Rolf? De resto, a produção é má, soa mais do que batida, e as misturas são igualmente fracas – o resultado parece mais o de uma demo do que o trabalho final. Além disto, no geral, a música não tem grande alma, frescura ou entusiasmo, e cada vez mais os Running Wild são Rock ‘n’ Rolf e uns músicos contratados – o espírito de banda não parece existir.

“Crossing the Blades” abre com o tema do mesmo nome. Um tema rapidinho na onda de muitos outros na carreira dos Running Wild, mas a partir do meio os solos e linhas melódicas de guitarra de Rock ‘n’ Rolf e Peter Jordan, bem típicos de Running Wild, injectam-lhe mais vida e tornam o resultado um pouco melhor do que o esperado, sendo de forma clara a melhor composição deste trabalho.

A segunda “Stargazed” é uma música a meio gás, mais uma vez prejudicada pela fraca produção, em que os Running Wild voltam a piscar o olho ao hard-rock como têm feito desde o seu retorno à actividade. É uma faixa que passa por nós sem deixar grandes recordações. “Strutter”, a terceira faixa, é uma versão dos Kiss, uma das bandas que influenciou Rock ‘n’ Rolf, aqui vestida com as roupagens tradicionais dos Running Wild, mas numa toada mais rock do que é habitual na banda. A produção funciona melhor aqui, pois dá-lhe um pouco aquela sonoridade de finais dos anos 1970 que assenta bem e faz lembrar o original dos Kiss.

O EP fecha com “Ride on the Wild Side”, numa onda mais heavy metal do que o habitual power metal dos Running Wild, sendo de destacar o solo em que Rock ‘n’ Rolf usa uma Fender Stratocaster ao invés da sua clássica Gibson Explorer.

O melhor deste EP são realmente os solos e linhas melódicas, mas nem as guitarras escapam a 100% à produção atroz que ajuda a destruir estas canções. “Crossing the Blades” é a faixa que sobressai acima da tona de água. As restantes pouco acrescentam a este EP e à carreira dos Running Wild, e vemos bandas fortemente inspiradas por ela, como os suecos Blazon Stone, a fazer música bastante melhor e mais marcante actualmente.

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