Perdidos no Arquivo: X Japan
Artigos 12 de Novembro, 2019 João Braga
A Polémica (1985-1989)
Um sonho tornado realidade que se prolongou pela eternidade e que gerou um dos maiores sucessos da história da indústria musical japonesa. Os X ou X Japan conseguiram ir além-fronteiras com a sua música e um estilo inconfundível que levou à criação do glam no Japão. Yoshiki e Toshi tiveram a genial ideia de juntar um grupo de jovens que se queria rebelar, apesar da tenra idade.
Não sendo intenção explanar em demasia os Dynamite, a banda que levou à criação dos X Japan e que os lançou num mundo prematuro do punk e do rock, a música underground japonesa acabou por ser apanhada de assalto por um som extravagante e excêntrico que começou a dar frutos num Japão que se estava a magnificar na realidade mundial, com o surgimento e crescimento de novas tendências, tecnologias e modas. Ora, os japoneses precisavam de um escape e, assim, os X Japan (ex-Dynamite) conseguiram ter uma brecha de sucesso, levando em 1986 à criação de uma marca independente para apoiar uma banda que mudou várias vezes de formação e que precisava de estabilidade. O salto temporal é necessário, pois o quarteto virado quinteto, com a inclusão do guitarrista Pata à formação oficial do grupo, tem muito mais para contar.
Com alguma sorte e muito talento à mistura, assinaram um contrato profissional após uma audição bem-sucedida patrocinada pela CBS Sony. Um ano mais tarde, “Vanishing Vision” apresenta-se com Yoshiki (bateria e teclas), Toshi (voz), Hide (guitarra), Pata (guitarra) e Taiji (baixo). Os ainda muito jovens artistas tiveram um som muito mais heavy metal do que speed metal, contrariando as tendências primordiais do quinteto – as faixas “Vanishing Love” e “Give Me The Pleasure” são as mais óbvias excepções ao género, apresentando os primeiros sinais do que poderia ser o seu som futuro, uma junção entre o heavy metal, o speed/glam metal e metal sinfónico. O quinteto apresenta neste álbum excelentes indicadores – não é o lançamento favorito dos fãs, mas permitiu ao grupo colmatar uma base de apoio mais sólida. Mais importante que isso foi a abertura do sistema à banda, pois o grupo era ainda anti-sistema e muitos eram os que rejeitavam aceitar os jovens nos mais diversos palcos e bares.
Em 1989 as coisas mudam de figura, arrombando uma porta do sucesso que antes parecia querer estar fechada para eles. “Blue Blood” torna o grupo muito mais comercial sem o ser. A atitude é a de anti-sistema, a do querer contrariar o que estava errado na sociedade. Este segundo lançamento é o melhor álbum da carreira dos japoneses que, nesta altura, já tinham imperado com um estilo mais glam rock e alternativo, criando as bases para o lançamento do glam rock no país. “Blue Blood” remata com uma mistura de estilos que vai do british heavy metal ao rock progressivo ao power metal teutónico, com Helloween como principal referência. Apesar das referências, faixas como “X”, “Orgasm” e “Blue Blood” – esta última com pingos de speed metal – elevam a fasquia com um estilo mais thrash. No entanto, a inovação continua, atrevendo-se a incluir traços épicos num álbum já muito diverso, tal são os exemplos de “Rose Of Pain” e “Kurenai”, com a reputadíssima “Endless Pain” a servir de balada-mor. O segundo longa-duração foi até considerado um dos 100 melhores álbuns de todos os tempos pela Rolling Stone Japan.
Fama Mundial e Trabalho em Estúdio (1990-1996)
Após o sucesso de “Blue Blood”, só restava aos X manter essa fama, apresentando um arrojo que outras bandas não eram capazes de apresentar. Os concertos esgotados, o stress e os prémios começaram a chegar. Como tal, tudo isto começou a ter efeito nos membros da banda, com um maior desgaste físico sofrido e com o marcante desmaio de Yoshiki depois de um concerto. Ainda assim, ganham o prémio de melhor banda jovem antes de iniciarem a gravação de “Jealousy”, o terceiro disco de originais.
Este novo lançamento traz boas novas ao grupo japonês, sendo considerado o álbum mais vendido da sua discografia, tendo vendido mais de um milhão de cópias. Em “Jealousy”, a vertente sinfónica é intensificada, bem como a vertente de power metal, fugindo ao thrash/speed metal. Desta feita, o terceiro disco parece ter agradado mais às massas com um som fortemente apoiado no neoclássico e em power-ballads que se tornaram uma referência para os fãs da banda. O longa-duração representa uma partida para o mainstream com um aumento de importância significativo que se traduziu em vários espectáculos esgotados, com o histórico e marcante concerto no Tokyo Dome e outras arenas com o suporte de uma orquestra. Para além disso, a ida para a América tornou-se obrigatória com todo este sucesso, e, em meados de 1992, assinam pela Atlantic Records.
Ora, para além de ser o período de maior sucesso, é igualmente o período de maior controvérsia, originalidade e separação. A controvérsia dá-se com a passagem para uma produtora americana e a mudança do nome da banda de X para X Japan; a originalidade acontece no quarto disco de originais intitulado “Art of Life” – um álbum de 29 minutos altamente orquestral, com uma faixa-título que tem sido referenciada por muitos como um dos temas mais épicos da história da música; e a separação existe quando se verifica o começo de carreiras a solo, resultando em poucos concertos no ano de lançamento de “Art of Life”. Todavia, os agora X Japan entram para a história com um disco (tema) épico que demonstrou um aumento significativo da qualidade dos membros do grupo, que nesta altura havia sofrido mudanças na sua formação. “Art of Life” não é o mais vendido, mas poderá ser considerado o álbum mais criativo da banda, para além de o mais artístico, tendo sido gravado com a Royal Philarmonic Orchestra. Este álbum marca o regresso da banda ao Tokyo Dome em dois concertos únicos e memoráveis, nos dias 30 e 31 de Dezembro de 1993.
Com tudo isto, o colectivo vai crescendo e os anos vão passando. Os japoneses vão abandonando a imagem mais juvenil e glam, para passarem a ter um visual muito mais casual e virado para o rock. As carreiras a solo, como mencionado acima, prosperavam e a banda apenas voltaria ao activo em 1995. Em 1996, “Dahlia” é lançado, sendo fundamentalmente um álbum de baladas com pouco rock e quase nenhum, ou mesmo nenhum, heavy metal. Não é um registo consensual, mas conseguiu vender bem e tem a sua legião de fãs, sendo até considerado por muita da crítica profissional como um álbum de referência, já que, simbolicamente, tem muito significado. Em termos conceptuais, o longa-duração segue uma tendência, principalmente, emocional, com mais mágoa do que alegria, prevendo quase o desfecho que se seguia de falência, separação, tristeza e consternação. As grandes faixas são “Tears”, “Dahlia”, “Scars” e “Crucify My Love”, com vários bons momentos num disco de dez temas.
Último concerto e separação (1997)
Em Setembro de 1997 é marcada uma conferência de imprensa que iria ‘mudar a vida’ dos seguidores mais árduos da banda. É anunciada uma separação que já era para acontecer uns meses antes. Esta decisão viria a culminar numa série de anos problemáticos, sobretudo para Toshi, o marcante vocalista do grupo. Apesar de tudo isso, não iremos entrar nesse tipo de pormenores que dizem respeito à vida íntima de cada membro. De novo, a 31 de Dezembro de 1997, dá-se o último concerto dos X Japan em mais um espectáculo de Ano Novo que iria, para sempre, ficar nos corações dos fãs. Em 1998, falece Hide, o guitarrista dos velhos X, que iria marcar o futuro da que já era a banda mais bem-sucedida do Japão.
Reunião e futuro (2007-)
Neste momento, há um salto temporal necessário para aquilo que interessa. O ano de 2007 torna-se num dos anos mais significativos para a formação, num espaço de tumultuosos eventos. O quarteto reúne-se para “IV”, um tema que seria utilizado no filme “Saw IV”. Mais tarde, são anunciados vários concertos em honra ao falecido guitarrista e ao passado da banda que se realizaram a 28, 29 e 30 de Março de 2008. O primeiro teve um holograma de Hide a tocar ao lado da banda, terminando prematuramente devido ao colapso de Yoshiki ao fim de oito músicas. Os concertos a seguir aconteceram e foram um sucesso, iniciando os X Japan num conjunto de concertos no Japão e no estrangeiro, com algumas mudanças de formação mínimas. Houve uma digressão mundial com passagem no Madison Square Garden em 2014, vários lançamentos de compilações, cancelamentos e projectos que mantiveram a maior banda japonesa de todos os tempos nas bocas do mundo. O documentário “We Are X” foi lançado em 2016, seguindo a vida de Yoshiki até ao concerto de Madison Square Garden e inclui diversas entrevistas e momentos que definiram a separação do grupo em 1997. É um documentário introspectivo e emocionante que acaba por encerrar certas polémicas, pondo um termo definitivo à má-língua.
Em relação a novos álbuns, em Fevereiro deste ano, Yoshiki deu uma entrevista em que comunica que um novo álbum está pronto e que apenas aguarda o momento certo para o lançar. Os X Japan sonharam e conquistaram, foram importantes num Japão em recuperação e a necessitar de um abanão. Com cinco álbuns lançados, umas quantas compilações e discos ao vivo, os antigos X conseguiram tornar-se numa banda de culto que passou por muitos infortúnios e diversas polémicas que os marcaram e os tornaram mais maduros para continuarem a ser a maior banda japonesa de todos os tempos num futuro não muito distante.

Metal Hammer Portugal

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