Nachtblut: «Às vezes a crueldade não tem limites»
Entrevistas 23 de Setembro, 2020 Diogo Ferreira
Fundados em 2005, os Nachtblut têm lançado álbuns desde 2007, chegando-se agora ao sexto “Vanitas”, e só conhecem um caminho: em frente! Com mais sucesso a cada disco que editam, os alemães voltam a fundir metal, industrial e gótico com perspectivas sobre a actualidade mundial, seja ela política ou social, recorrendo-se sempre a metáforas eficazes. A Metal Hammer Portugal conversou com o baterista Skoll sobre todos estes tópicos.
«Estou preocupado com o surgimento de pensamentos absolutistas.»
Skoll (Nachtblut)
“Vanitas” é apenas uma palavra, mas é forte. Com este álbum, de que forma tentam recordar-nos da nossa mortalidade e da inutilidade dos bens e prazeres mundanos?
O álbum tem muitas facetas, não apenas musicais mas também líricas. Obviamente, existe a forma clássica de interpretar [a expressão] vanitas, pensando-se na transitoriedade e na mortalidade. Mas nós expandimos isso, fomos um pouco mais longe. Se pensares em transitoriedade ou mortalidade, automaticamente também pensarás em infinito e eternidade. Por exemplo, a autoconsciência ou o conhecimento não são ilimitados, vinculando-se à tua visão do mundo. Além disso, a liberdade e a autodeterminação, infelizmente, não são bens indefinidos e a esperança, como dizem, morre por último. Curiosamente, o último exemplo significa o completo oposto – uma esperança sem fim. A ganância e o desejo são semelhantes ao último exemplo. Ou como numa das nossas músicas – às vezes a crueldade não tem limites [“Meine Grausamkeit Kennt Keine Grenzen”].
“Das Puppenhaus” é um título que nos ficou na memória. Quando falamos em casas de bonecas, somos recordados da alegria e da felicidade que uma criança pode ter enquanto brinca, mas se falarmos de filmes e livros de terror isso pode levar-nos exactamente ao oposto. O que é que esta vossa casa de bonecas esconde?
É um bom apontamento – gostamos de ser cínicos de vez em quando. Portanto, o que melhor se encaixa num tópico realmente negro e claustrofóbico, como o de “Das Puppenhaus”, do que essa imagem geralmente porreira de uma casa de bonecas? A música é sobre ditadura e como controlar as pessoas. Achámos que a metáfora de uma pessoa a brincar com bonecas numa casa de bonecas é perfeita. O ‘ditador’ tem muitas forma para lidar com os seus bonecos, mas nenhum dos ‘bonecos’ reclama ou revolta – claro que não, porque ele controla os cordelinhos.
Uma das coisas que achámos interessante neste álbum é que vocês mesclam muitas influências ao mesmo tempo que não perdem o vosso próprio som (do industrial ao gothic metal). Por exemplo, há o lado folk de “Leierkinder” e muitos anos 1980 em “Nur in der Nacht”. Após 15 anos de carreira, quão satisfeitos estão com a habilidade que a banda tem para amalgamar?
Muito felizes! Para mim, “Apostasie” [2017] foi um grande passo em frente no que diz respeito à variedade e facetas de um disco. Com “Vanitas” conseguimos oferecer a mesma variedade, mas conseguimos fazer com que o álbum soe mais homogéneo, mesmo tendo-se essa gama de elementos como folk ou anos 80. No meu ponto de vista, um dos pontos fulcrais para isso é que não nos importamos muito com rótulos musicais. Se quisermos fazer uma música com mais elementos folk ou se acharmos que um sintetizador dos anos 80 é perfeito para a música, simplesmente fazemos. Não há a questão: ‘Podemos fazer isto? Isto é (dark) metal o suficiente?’ Acho que é triste se os músicos se preocuparem mais com os rótulos do que fazerem o que gostam.
É bastante evidente que obtêm inspiração no movimento Neue Deutsche Härte (NDH), mas dão-lhe uma reviravolta e gosto pessoal com orquestrações e não apenas com electrónica (como a maioria das bandas fazem). Além disso, é óptimo como tantas bandas alemãs ainda seguem esse estilo de música, uma prova de que não está perdido no passado. Quão saudável é essa cena na Alemanha? Qual é o seu impacto na cultura musical alemã actualmente?
Não estou assim tão envolvido com a cena Neue Deutsche Härte, mas acho que está muito saudável. Acho que a influência dos Rammstein é contínua. É claro que a NDH também tem influência em bandas que não são NDH, como nós, e se fores a um festival metal ou gótico é normal encontrares bandas NDH. Mas é apenas parte de uma grande cena. Portanto, eu não exageraria sobre o impacto. A cena gótica / metal é muito diversa.
É óbvio que a estética da banda é muito sombria e horrível, com um toque de elegância – maldade também pode ser graciosa. Também se pode dizer que há algo de cinema em vocês. Há algum filme ou livro de terror em que se tenham inspirado?
Ui, não vejo um filme de terror há algum tempo. Não sei se a estética será baseada em filmes e livros de terror – provavelmente houve uma influência, mas, para mim, não houve um momento ou um filme que tivesse grande impacto na minha aparência em Nachtblut. Sei que os outros membros gostam muito de filmes, principalmente de terror. Algumas letras são inspiradas em filmes de terror ou em filmes splatter, mas isso é mais coisa do Askeroth [vocalista]. Pessoalmente, acho que outras bandas e músicos tiveram uma influência maior em mim e na estética que gosto do que filmes.
Do que temos lido, a banda está sempre atenta à forma como o mundo gira, incluindo isso nas letras. Sobre este momento em particular, com a pandemia e o aumento de racismo como nunca vimos na nossa geração, tens medo do amanhã?
Não, não temo o amanhã. Não é medo, é mais incompreensão. Estou preocupado com o surgimento desse tipo de pensamentos absolutistas. Parece que há cada vez mais atitudes extremas, o que divide as pessoas. A arrogância de se pensar que o ponto de vista próprio é o único caminho e superior a outras visões mata todo o argumento e discussão sensata. Mas para terminar com algumas palavras positivas: nada é eterno, portanto acho que vamos superar estes tempos difíceis.

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