Anaal Nathrakh “Endarkenment”
Reviews 28 de Setembro, 2020 Diogo Ferreira
Editora: Metal Blade Records
Data de lançamento: 02.10.2020
Género: death/black/industrial metal
Nota: 4/5
Esta nova proposta discográfica dos Anaal Nathrakh entrará para as memórias de 2020 como um dos discos mais pujantes, aflitivos, loucos e cientes da realidade.
Maquinaria death / black / industrial metal operada pela dupla Dave Hunt (voz) e Mick Kenney (todos os instrumentos e programações), os Anaal Nathrakh têm fabricado peças de vanguarda e com poucas comparações desde 1999. Cerca de 20 anos depois continuam com as engrenagens sem qualquer ponta de ferrugem!
Conhecidos por combinarem tudo o que é som extremo, os ingleses chegam ao 11º álbum com uma provocação (como sempre!): “Endarkenment” é, numa espécie de neologismo, precisamente o oposto de Enlightenment (ou Iluminismo em português). Dave Hunt explica: «Pessoalmente, sinto-me mais cínico, mais amargo, com a grande sensação de que o mundo está f*dido, e é continuadamente re-f*dido por pessoas que não fazem ideia do que estão a fazer.» Rejeitando-se ideias do Iluminismo, como racionalismo e cepticismo, Dave Hunt aponta o dedo a políticos britânicos, chamando mesmo gnomo a Michael Gove a propósito da sua declaração em que disse que «estamos fartos de especialistas». Por outras palavras, e é bom português, estamos entregues à bicharada.
É com este enegrecimento global em mente que embarcamos em mais uma viagem à moda dos Anaal Nathrakh, uma jornada em que não há uma única fresta para se respirar fundo. Do primeiro ao último segundo, “Endarkenment” absorve todo e qualquer espaço livre que haja na sala, no quarto ou no carro, onde quer que estejas a ouvir este frenético e tresloucado álbum.
Mais orgânico do que outros discos, as ferramentas electrónicas e industriais são menos audíveis, existindo menos até, em prol de uma enxurrada imparável de blast-beats desumanos e riffs death metal. Todavia, o que é bom não é para se mudar, e as guitarras de Kenney continuam a oferecer-nos aquilo que tanto gostamos nesta banda: leads/solos dissonantes num grau de insanidade mental e riffs super compactos e melódicos que muito bebem da música clássica, ou não fossem estes músicos fãs de, por exemplo, Verdi, provando-se assim, como já provaram antes, que se pode fazer metal que soa a neoclássico sem se recorrer a masturbação de notas à Malmsteen e Turilli ou orquestras imponentes.
No meio de toda esta terraplanagem levada a cabo em cerca de 41 minutos, os Anaal Nathrakh também repetem as incursões vocais a que Hunt já nos habituou. Desde berros claustrofóbicos e guinchos medonhos, o vocalista demonstra toda a sua polivalência quando do death metal brutal se passa ao death metal melódico com refrãos épicos, amplos, energéticos e… limpos. Sim, Hunt sabe cantar! Não é uma novidade para os fãs do duo, mas é sempre um momento prazeroso quando o britânico sai da jaula e abre o peito para cantar a plenos pulmões – e disso não falta neste disco!
Do enegrecimento intelectual dos nossos tempos (tema-título) à decadência humana e sua natureza destrutiva (“Singularity”), passando por Auschwitz (“Feeding the Death Machine) e Nietzsche (“Requiem”), esta nova proposta discográfica dos Anaal Nathrakh entrará para as memórias de 2020 como um dos discos mais pujantes, aflitivos, loucos e cientes da realidade.

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