Joy Division “Closer”: último e eterno capítulo
Artigos 18 de Julho, 2020 Diogo Ferreira


Tudo começou num concerto de Sex Pistols em 1976, na cidade industrial de Manchester, quando Ian Curtis encontrou Bernard Sumner e Peter Hook. Pode mesmo dizer-se que a cena Madchester começou ali, no Manchester Lesser Free Trade Hall. Fruto desse encontro nasceu a banda punk Warsaw, que deu lugar a Joy Division, seguindo-se uma ligação à Factory Records de Tony Wilson, o boom de novas bandas e a expansão da cultura rave na Haçienda.
Em Junho de 1979 dá-se uma revolução: os Joy Division lançam “Unknown Pleasures” e tornam-se os pioneiros incontestáveis do post-punk. Se a primeira experiência com Warsaw passava por utilizar malhas punk sem grande distorção ruidosa, com Joy Division foi dado um passo em frente: o punk podia estar lá, mas muito do que hoje chamamos indie-rock ou o feedback do shoegaze já se ouvia em “Unknown Pleasures”.
O som e a execução eram crus como a juventude do quarteto. Bernard Sumner, sempre ao cantinho dos palcos, oferecia os seus power-chords e solos tímidos, Peter Hook era o bad boy que dava groove, Stephen Morris orientava o ritmo e Ian Curtis era, e é, só dos melhores performers da História da Música. A epilepsia que o atormentava era transportada às actuações com constantes espasmos e movimentos estranhos, e a depressão era espelhada nas letras sem rodeios. Estava mais do que visto: a existência de tamanho ícone só ficaria realmente nos anais da História se a vida fosse curta e a morte fosse trágica.
Seguir-se-ia “Closer”, lançado em Julho de 1980. O álbum fora composto em dois períodos distintos: temas como “Atrocity Exhibition”, “Passover”, “Colony”, “A Means to an End” e “Twenty Four Hours” foram escritos na última metade de 1979 e tocados ao vivo antes de se lançar o álbum; “Isolation”, “Heart and Soul”, “The Eternal” e “Decades” foram finalizados no início de 1980. A maioria proveio de jam sessions.
Tony Wilson, da Factory Records, estava tão empolgado com o resultado final de “Closer” que terá dito a Sumner: «Sabes, Bernard, por esta altura no próximo ano vais estar a relaxar numa piscina em LA com um cocktail na mão.» Por sua vez, o guitarrista não se mostrava tão optimista. «Apenas pensei que foi a coisa mais ridícula que alguém me disse», contou.
De facto, Ian Curtis já não estaria cá para ver esse álbum crescer, nem para assistir à popularidade intemporal do single “Love Will Tear Us Apart”. Ian Curtis, nascido a 15 de Julho de 1956, suicidou-se no dia 18 de Maio de 1980. Tinha 23 anos.
Os problemas pessoais – como o casamento conturbado com Deborah Woodruff, a divulgação do caso extraconjugal com a jornalista Annik Honoré, as crises epilépticas e a depressão que lhe tiravam anos de vida – são factores que contribuíram para que decidisse enforcar-se e pôr termo à sua existência. Da relação com Deborah nasceu Natalie (1979), que escolheu a carreira de fotógrafa.
Após o desaparecimento prematuro de Ian Curtis, o trio que sobrevivia ao luto formava, ainda em 1980, os New Order, que tomariam a indústria musical novamente de assalto com o seu electro-pop. A ligação com a Factory Records, do amigo Tony Wilson, duraria mais uns anos, apesar do dinheiro constantemente perdido na Haçienda. O single “Blue Monday” é considerado o mais vendido de sempre em formato 12”.
A biografia oficial do vocalista, intitulada “Touching From A Distance: Ian Curtis and Joy Division”, foi publicada em 1995, tendo sido escrita pela viúva. O livro foi adaptado para cinema, originando o filme “Control” (2007), realizado por Anton Corbjin. Antes, em 2002, tinha sido lançada a comédia “24 Hour Party People”, de Michael Winterbottom, filme que conta a história de Tony Wilson e da Factory Records, havendo, obviamente, espaço para incluir Ian Curtis e Joy Division na narrativa.

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