Os três grupos do norte apresentam aqui excelentes trabalhos, sem excepção, sem conter qualquer tipo de filler.

Editora: Firecum Records
Data de lançamento: 13.11.2020
Género: thrash metal
Nota: 3.5/5

Os três grupos do norte apresentam aqui excelentes trabalhos, sem excepção, sem conter qualquer tipo de filler.

Sair para as lojas um split com bandas tão aclamadas ao nível do underground é uma forma de viver, neste caso, três álbuns num só, do mesmo género, mas com estilos criativos e técnicos tão distintos. As três bandas, do norte do país, têm claramente a intenção de simbolizar a sua presença na indústria, quase que realizando um Big Three nacional da cena underground. A sensação de realização é ainda maior por se poder ouvir grupos que já estão nestas andanças há mais de uma década, feito difícil de realizar em solo nacional. Da década de 1990, período de formação destas bandas, aos anos 2000, a música mudou muito e, com ela, também estas três bandas alteraram os modos de se apresentar, compor e produzir. Todas elas passaram por enormes mudanças de formação, com poucos – os seus fundadores – a manterem-se nas respectivas bandas. As três parecem ter reencontrado a sua identidade com membros novos e atitudes mais directas e brutais, sem excepção. A junção de novos elementos, membros jovens, acabou por ajudar na estabilização desses grupos.

Ora, chega então a hora de simbolizar esse momento e essa estabilidade com um split para glorificar o thrash metal português. Um split em três de Booby Trap com seis temas, Pitch Black e Buried Alive com cinco faixas. Este lançamento marca o regresso às gravações dos Pitch Black, ausentes do estúdio desde 2009, desde a saída de “Hate Division”. Os Booby Trap, muito iguais a si mesmos, personificam a rebeldia que sempre os caracterizou com um thrash metal crossover, com toadas de Suicidal Tendencies à mistura. As faixas “I Am One” e “Find A Way” são típicas nos Booby Trap – um thrash metal modificado e apoiado quase que num punk agressivo e mais eléctrico, tornando-os num porta-estandarte do estilo com uma bateria incessante e um instrumental arrebatador. No entanto, existem alguns sinais de amadurecimento da sua sonoridade, pendendo, por vezes, para uma componente mais técnica no seu thrash metal com “Radiation Man”, “No More” e “Alcoholcalipse”.

Pitch Black conta com cinco faixas e abrem com a fortíssima “Built for the Kill” – um hino ao thrash metal que se devia tocar em Portugal. Os Pitch Black, por estarem ausentes há mais tempo, demonstram as maiores mudanças, apresentando-se com algum do melhor thrash metal nacional dos últimos anos. O tempo fora das gravações e de alterações na formação fizeram bem a um grupo muito aclamado e, talvez, o mais conhecido do underground destas três bandas. A sonoridade é mais evoluída, técnica e conta com desempenhos realmente acima da média, tanto pelos antigos membros como pelas novas entradas no grupo. “Built for the Kill”, “We’re in Command” e “Innocent Birth” são as mais longas, mas também as mais atordoantes para o ouvinte, deixando-nos sem grande tempo de reacção para um thrash metal perturbante e brutal, tendo toques sonoros de Coroner, Kreator e Exodus, sendo estas comparações realmente ambiciosas.

Por último, os Buried Alive há já algum tempo que queriam regressar aos originais, desde o seu belo lançamento de 2015. Neste split fechou-se a porta com chave de ouro, com cinco faixas de thrash metal dinâmico e muito abrangente, ora pausado e pesado, ora rápido e perfurante, possibilitando à criação de momentos épicos e complexos como são os temas “Chernobyl” e “We, the Band”, contendo variações significativas e pungentes de guitarra e bateria. Os problemas sociais são o forte dos Buried Alive, que, tal como as restantes bandas, apresentam conceitos diferentes do seu thrash metal, motivando por isso frentes instrumentais muito díspares umas das outras. “No Hope” é a faixa mais depressiva de todo o split, perfazendo aqui o que poderá ser o melhor momento para mosh em concertos, quando estes forem possíveis. Quem sabe se os temas iniciados, neste pequeno conceito criado pelos Buried Alive em cinco faixas, não poderá ser continuado num futuro longa-duração, já que são muito próximos de música em música, podendo abrir portas a um álbum conceptual no thrash metal nacional.

Em jeito de conclusão, “Bastards United” é realmente o que a tradução quer dizer: “Patifes Unidos”, numa tradução muito livre. Os três grupos do norte apresentam aqui excelentes trabalhos, sem excepção, sem conter qualquer tipo de filler. Sente-se a aura de regresso e de positivismo no negativismo que a música destes três quer sempre representar em jeito de anti-sistema rebelde que se quer livrar dos cadilhos das patifarias sociais, de guerra e da violência. O álbum é uma óptima demonstração do talento por explorar destas três bandas históricas do underground português. É preciso apoiar a imagem e a marca que transportam e a sua importância para a indústria do metal português, que parece há muito estar a ser roubada aos seus ouvintes. Três bandas, três incríveis momentos de música com mais de uma hora para ser desfrutado.

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