Aitheer: galeria de pensamentos
Subsolo 29 de Janeiro, 2021 Metal Hammer
Origem: Finlândia
Género: prog metal/rock
Último lançamento: “Sleeper” (EP, 2020)
Editora: independente
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Mentor e multi-instrumentista dos Aitheer, Niko Löfman apresenta detalhadamente o seu projecto de metal e rock progressivo que é gritantemente aconselhado para fãs de Opeth.
«Tentei usar a música e as palavras como uma galeria de pensamentos, emoções e atitudes, e pintar um quadro a partir disso.»
EP de estreia e objectivos: «Lançado digitalmente através do serviço Distrokid a 27 de Janeiro de 2020, “Sleeper” é o EP de estreia. Foi gravado, misturado e masterizado durante 2018 e 2019.
Escrevi as letras e as músicas, e fiz a maioria dos arranjos em todos os instrumentos, excepto os arranjos de bateria, que foram escritos à mão por Antton Kasslin. O Lassi Enqvist (teclados) e o Roope Kytölä (baixo) coloriram as suas linhas lindamente e eu toquei guitarra e cantei.
Podem esperar uma peça melancólica e épica de música progressiva e experimental. É uma história em mudança, que não gosta de ficar no mesmo lugar durante muito tempo. É uma jornada esquizofrénica e imprevisível, mas dinâmica, que reúne diferentes aspectos do metal e do rock que adoramos.
Tentei usar a música e as palavras como uma galeria de pensamentos, emoções e atitudes, e pintar um quadro a partir disso. Quer as pessoas sejam atraídas apenas pela música ou pelas palavras, ou ambos, fico feliz se o que estamos a oferecer lhes disser algo de alguma forma. Para mim, é importante ter uma ideia ou visão na qual moldo a massa. Se não houver formas ou detalhes específicos, tentarei fazer com que as ideias ou temas principais guiem o meu ouvido interno. Em relação à minha escrita, as palavras são pelo menos tão importantes quanto a música. Ainda assim, o objectivo principal era fazer música que nós próprios gostássemos de ouvir e tocar, fazer música que nos dá arrepios!
O nosso primeiro objectivo era lançar o EP digitalmente – o que fizemos – para que as pessoas pudessem ouvi-lo o mais rápido possível. Agora, o nosso objectivo é encontrar uma editora para nos contratar e lançar uma versão física de “Sleeper” e do nosso álbum de estreia, o qual estamos a gravar.»
Conceito: «Os temas líricos de “Sleeper” partem do processamento das lutas internas e visões desafiadoras da vida. Descrevem, através de fragmentos enigmáticos, esses fortes sentimentos de separação e uma forma de ver o mundo numa visão bastante restrita, em que a visão geral das coisas é prejudicada. Nesse estado de confusão, parece que há vozes a tentarem guiar (e outras a desorientar) uma mente que parece estar adormecida de alguma forma.
Para além da interpretação individual, também tentei ver como esses temas actuam na sociedade. Por exemplo, hoje em dia, com a Internet, temos mais informação ao alcance das nossas mãos do que talvez nunca, que é um dom fabuloso que temos! Mas, por outro lado, essa inundação de informações irrelevantes pode ser opressora e diversificada para o entendimento do que está realmente a acontecer.
Quando estava a escrever as letras, o principal tema lírico era esse sono na ignorância – que, na minha opinião, não é tão feliz como dizem – e o processo de despertar para nos tornarmos mais conscientes das coisas que acontecem dentro e fora do mundo. De certa forma, tratava-se de reconhecer esses factores psicológicos e espirituais que levam a certos pensamentos e certos comportamentos.
Usei a expressão musical e lírica como forma de enfrentar alguns problemas pessoais e transformar a energia potencialmente destrutiva em algo criativo, para purificar essa energia de todas as formas distorcidas que se podem assumir na vida de uma pessoa. Havia algum resíduo de raiva e frustração que tinha de ser processado e refinado em formas mais puras. No processo de composição, a música veio em primeiro cronologicamente e depois vieram as palavras, embora eu já tivesse o sentido dos temas na parte de composição.»
Próximo álbum e influências: «Diria que a nossa música é metal/rock progressivo, já que a temos de rotular. Diria que metal e rock são a base de onde emergimos.
O nosso próximo lançamento será um álbum conceptual, que começámos a gravar no final de Setembro de 2020. Será composto por sete músicas. As três principais e mais longas têm vozes limpas e guturais e as outras quatro mais curtas são instrumentais. Escrevi as letras e compus o disco, e o Lassi Enqvist (Keido) participou nos arranjos e na guitarra acústica e eléctrica em três das faixas mais curtas. O Roope Kytölä (Keido) visita o disco com saxofone numa música. Temos a honra de ter o Toni Paananen (Malpractice, Reversion, Eilera) como baterista de sessão para este álbum.
A nossa nova música é mais técnica do que a que está em “Sleeper”. Toco guitarra, baixo, teclados e canto, portanto tem havido algum trabalho a praticar os novos instrumentos.
A nossa música tem influências vindas de vários géneros e visa uni-los para se alcançar algo único. O novo álbum entrará por estilos nunca antes examinados pelo nosso projecto. Vamos, por exemplo, incorporar cada vez mais black metal, jazz, clássico e ambient. Vamos tentar lançar o novo registo durante este ano de 2021.
Ouvi rock clássico dos anos 60 a 80 durante toda a minha juventude. O meu pai mostrou-me o álbum “Holy Diver”, de Ronnie James Dio, quando eu tinha cinco anos e teve em mim um impacto maravilhoso. Desde a escola secundária que gosto muito de black e death metal, e foi quando recebi o chamamento para começar a praticar guturais sozinho. Fiquei muito surpreendido com a sensação que o gutural evocou em mim.
Para citar algumas das minhas bandas modernas favoritas, sou muito influenciado e inspirado pelos trabalhos de Tool, Ihsahn, Meshuggah e Leprous. Hoje em dia, ouço muito jazz e música clássica. Acho que essas cenas harmónicas complexas são muito intrigantes e agradáveis. Do lado do jazz, tenho ouvido muito Miles Davis. Do lado clássico, “The Planets”, de Gustav Holst, tem rodado muito.»
Review: Ao longo de cerca de 20 minutos, esta banda finlandesa prova que não apareceu para brincar. Em três faixas, o grupo elabora uma paisagem sonora dinâmica que vai beber a vários espectros do metal e do rock e, no fim, nós é que ficamos embriagados com a envolvência criada. Dividindo esta experiência em vários quadrantes, o EP “Sleeper” demonstra o peso e condenação do death/doom metal de cariz progressivo à Opeth e, em vários outros momentos, maioritariamente ao fundo, expele ambiências mais etéreas que podemos encontrar no panorama do space-prog. Para se ouvir com calma e atenção, Aitheer é uma banda para se ter em conta porque pode explodir brevemente.

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