A história da música: “Forever Failure” dos Paradise Lost
Artigos 5 de Fevereiro, 2021 Metal Hammer
Como Charles Manson e o metal dos anos 80 inspiraram o hino que impulsionaria a banda de doom Paradise Lost em direcção à fama.
No início dos anos 90, os Paradise Lost tornaram-se numa das bandas do metal underground mais significativas do Reino Unido. A sua implacável ética de trabalho fez com que assinassem quatro discos entre 1990 a 1993, incluindo clássicos como “Gothic” de 1991 e “Icon” de 1993, e o doom ríspido destes miseráveis de Halifax estava a alcançar territórios mais melodiosos. Mas quando chegaram a 1995 e estavam prontos para se começar a trabalhar no quinto álbum, “Draconian Times”, os Paradise Lost estavam a sentir-se esgotados.
«É um bocado confuso», diz o guitarrista Gregor Mackintosh, quando questionado a reflectir sobre o álbum. «Gravámos o “Icon” e depois fomos em digressão com Kreator e Morbid Angel na América. Depois fizemos a digressão do “Chaos A.D.” com Sepultura na Europa, e disseram-nos para gravarmos um novo álbum imediatamente. Quase não parámos em casa durante alguns anos porque era digressão, gravar, digressão, gravar, e quando tocas este específico estilo de música durante tanto tempo sem pausa, confio que qualquer pessoa queira fazer outra coisa. É como trabalhar numa fábrica, embora seja uma boa fábrica com bebidas grátis. Precisávamos de variação, precisávamos de uma mudança. Foi um período de esgotamento.»
Por mais exaustos que estariam, os Paradise Lost entraram em estúdio no início de 1995 e criaram o que a maioria dos fãs acredita ser o seu magnum opus. “Draconian Times” era um álbum que continuava a progressão da banda até ao ponto final, levando o seu som melancólico ao pico da excelência.
«Como não tínhamos folgas e estávamos a compor na estrada, penso no “Draconian Times” como a versão chique do “Icon”», ri Gregor. «Adoptámos este novo estilo durante o “Icon” e aperfeiçoámo-lo durante o “Draconian Times”. Referíamos coisas como Rush e Queensrÿche enquanto influências de produção, porque queríamos que soasse… quase a estádio, se assim preferires. Estávamos a pensar em coisas como The Cult, tornando-as o mais polidas e precisas que conseguíamos.»
Com um forte desejo de se continuar a impulsionar o som para diante, uma música emergida do álbum viria a definir tudo o que fez dos Paradise Lost uma banda tão empolgante. “Forever Failure” manteve os aspectos doomy e metálicos do passado, mas tinha uma qualidade cintilante, cristalina e um toque de esplendor místico e xamânico que dificilmente consegues imaginar a encarnação inicial dos Paradise Lost a ser capaz disso.
«A primeira coisa que foi escrita para a música foi o solo, o que é estranho, porque geralmente é a última coisa que surge», recorda Gregor. «Costumávamos escrever e captar num gravador, geralmente começando-se com o riff, mas eu toquei esse solo para o Nick [Holmes, voz] e ele disse que lhe lembrava uma musiquinha esquisita, como “I Left A Cake Out In the Rain” de Richard Harris [o título é “MacArthur Park”]. Se não conheces, é uma estranha musiquinha folk dos anos 60, e esse solo, que se tornou “Forever Failure”, tinha um crescendo semelhante. Portanto, enquanto escrevíamos a música, ele levou-me por esse caminho. Eu estava a tentar escrever uma música doom metal e ele estava a levar-me nessa direcção mais extravagante, o que ele também fazia vocalmente. Então, tornou-se esta… coisa.»
A coisa que realmente elevou “Forever Failure” e a fez destacar-se foi o uso de um sample do famoso líder de culto Charles Manson no início e durante a secção do meio, aumentando a qualidade assombrosa da música.
«Achámos que a secção do breakdown, a pequena parte acústica, precisava de algo», diz Gregor. «Tínhamos acabado de ver um documentário sobre Charles Manson, “The Man Who Killed the Sixties”, e havia uma parte realmente comovente em que ele resume todo o documentário e achámos que a devíamos usar. Não fazia ideia de que ia ser uma dor de cabeça, mas pegámos naquilo e pusemos na música. O que não percebemos é que, para conseguir isso, tínhamos de, efectivamente, pagar os royalties da música às famílias das vítimas. E temo-lo feito desde então.»
Hoje em dia, tal jogada causaria indignação, mas, como Gregor explica, mesmo nos dias mais folgados dos meados dos anos 90, causou uma espécie de tempestade nos bastidores.
«O nosso agente da altura não ficou muito feliz com isso», conta. «Houve um pouco de divergência aqui e ali, mas, mesmo com toda a burocracia, o Nick queria mesmo usar aquilo. Para ser justo, não podíamos ter usado mais nada daquele documentário porque era tudo uma loucura de merda!»
«Há algumas músicas sobre as quais olho para trás na nossa carreira e penso: ‘Por que é que fiz isto?’ A “Forever Failure” não é uma dessas músicas.»
Gregor Mackintosh
Quando “Draconian Times” foi lançado a 12 de Junho de 1995, foi imediatamente aclamado como uma obra-prima e o perfil da banda disparou. O disco alcançou a posição 16 na tabela de álbuns do Reino Unido, uma conquista impressionante para um grupo que, apenas cinco anos antes, era uma banda doom sombria e gutural.
«Em especial no Reino Unido, foi um choque para nós», recorda Gregor. «Naquela altura, era quase impossível obter-se esse tipo de sucesso para uma banda de metal. Na verdade, a meio da semana, creio que chegou ao Top 10, e isso fez com que muitos membros da indústria dissessem: ‘Uau! Uma banda de metal no Top 10!’… Embora não tenha chegado ao Top 10. Hoje em dia não se recebe o mesmo elogio, mas naquela época as posições nas tabelas faziam com que os grandes chefes se sentassem e prestassem atenção, e isso pode abrir portas, pode levar-te a digressões e alinhamentos de festivais, o que definitivamente aconteceu connosco. Não era apenas o nosso pico, era o pico do metal e da nossa indústria. Era a última vez que ias conseguir que um álbum vendesse seis dígitos em vários países.»
O sucesso do álbum transformou Paradise Lost numa grande cena. Foram adicionados a uma série de festivais por toda a Europa, com o mais prestigioso a ser o último Monsters of Rock, em Castle de Donington, ao lado de nomes como Kiss e Ozzy Osbourne, em 1996.
«Foi estranho, estávamos a modos que a misturar-nos nos bastidores com Kiss, e foi do tipo: ‘O que é isto? Como é que isto aconteceu?’», ri Gregor. «A nossa editora, a Music For Nations, montou-nos uma tenda nos bastidores e era tudo preto – ias lá e tinhas cerveja preta e comida preta. Era um artifício, mas foi bom que tenham feito isso por nós. Os Verões de 1995-96 pareceram uma época mágica, não apenas para nós, mas também para os nossos pares, pessoal como Type O Negative. Tratava-se de alguns dos maiores festivais do mundo e eram principalmente para bandas de metal. Foi um grande momento de destaque, tens mesmo de te beliscar porque és apenas da classe trabalhadora do Norte e tens todos aqueles americanos a bajularem-te.»
Gregor também aponta as datas de suporte aos reunidos Sex Pistols em 1996 como um destaque pessoal. «Fizemos algumas arenas em Espanha com Sex Pistols, Slayer e nós», sorri Gregor. «Alinhamento estranho, mas totalmente agradável. Eu vinha da cena punk, mais da segunda vaga, com coisas como Discharge em vez de Pistols, mas ainda olhava intensamente para Sex Pistols e Sham 69, portanto foi muito emotivo. Eles estavam apenas sentados a ler livros na zona da cantina, gajos realmente normais, mas depois via o John Lydon a dar conferências de imprensa, entrava no personagem e era brilhante a dar corda a todas aquelas pessoas. No entanto, nada daquilo era verdade. Eles, e os Slayer, eram o grupo mais calmo e porreiro que podias encontrar. Tínhamos menos de 30 anos – e se alguém era o bando selvagem ali, éramos nós!»
Mesmo que as coisas corressem bem aos Paradise Lost, nem tudo era fácil. Ironicamente para uma música tão adorada hoje, “Forever Failure” foi… bem, um certo fracasso quando foi lançada. Foi o segundo single do álbum, alcançando apenas a posição 66 na tabela de singles do Reino Unido.
«A música que menos gostamos no álbum é a “The Last Time”, porque é demasiado alegre, e foi lançada como single e vendeu muito!», suspira Gregor. «Portanto, quando nos perguntaram que música queríamos lançar de seguida, escolhemos a “Forever Failure” e ninguém comprou. Tinha aquele vídeo miserável inspirado na “Lista de Schindler” e nós adorámos, mas algures na Europa há um grande monte de singles por vender. Simplesmente não era o que as pessoas queriam naquela altura. Não funcionou como single, mas é importante para nós, na banda, para os nossos fãs e dentro da cena. Não vais conseguir uma música como a “Forever Failure” no Top 20.»
Independentemente disso, a música e o álbum continuam a inspirar como prova a recente reedição em vinil do 25º aniversário. «O “Draconian Times” nunca teve promoção em vinil – são 25 anos e parece que os fãs o querem», concorda Gregor. «Naquela altura, o vinil estava a ser eliminado pelo CD e talvez nunca tivesse sido lançado em vinil. Portanto, parece que é o momento certo, não vai acontecer novamente. Não sou de arrependimentos, mas há algumas músicas sobre as quais olho para trás na nossa carreira e penso: ‘Por que é que fiz isto?’ A “Forever Failure” não é uma dessas músicas – ainda tento fazer música assim. Não mudaria nada nessa música.»
Consultar artigo original em inglês.

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