Majestosos para alguns, ridículos para outros, ninguém incarnava o metal dos anos 1980 como os Manowar. E o terceiro álbum, “Hail To England”, foi... Manowar: «Nós inventámos isto e chamaram-lhe power metal»

Majestosos para alguns, ridículos para outros, ninguém incarnava o metal dos anos 1980 como os Manowar. E o terceiro álbum, “Hail To England”, foi a jóia da coroa.

Foto: Fin Costello/Redferns

O guitarrista Ross ‘The Boss’ Friedman e o baixista Joey DeMaio conheceram-se em 1980, num concerto de Black Sabbath no Newcastle City Hall. Ambos nova-iorquinos, ambos fascinados por contos de fantasia épica e ambos revigorados pela New Wave of British Heavy Metal no auge dos seus poderes, resolveram criar a derradeira banda de heavy metal: Manowar.

«Queríamos ser algo nunca antes visto no heavy metal», afirma Ross, ao telefone dos Estados Unidos. «Queríamos ser mais selvagens do que apenas ganga e cabedal. O que seria mais selvagem? Pele de animal!»

Estreando-se com “Battle Hymns” de 1982, seguido de “Into Glory Ride” de 1983, os primeiros anos do quarteto vestido de tanga foram marcados por dificuldades com editoras e indiferença nos EUA. Mais tarde, outros países europeus puseram a banda no coração, mas foi a Inglaterra que primeiro ouviu o chamamento de Manowar, inspirando o título “Hail To England”, de 1984.

«Os nossos primeiros concertos foram na Inglaterra!», entusiasma-se Ross, explicando os laços de afecto que os Manowar sentem por esta terra chuvosa. «Existiam todas aquelas bandas de Inglaterra, a NWOBHM – Saxon, Diamond Head, Samson –, muitas bandas estavam no underground e, de repente, já não estavam nesse underground. Os Judas Priest sempre fizeram esvoaçar a bandeira do heavy metal, e ainda o fazem. O metal acabou por tornar-se a linguagem dessa geração. Explodiu, e foi uma grande cena.»

Até a imprensa rock do Reino Unido estava do lado dos Manowar nesta fase inicial, embora nem todos estivessem convencidos por aqueles ianques musculados com cuecas à tigresa. «Muitos críticos ingleses deram cabo de nós», enfatiza Ross. «Acharam que éramos…», deixando o seu tom de Nova Iorque para canalizar perfeitamente o escárnio britânico: «’Fookin’ bollocks and fookin’ shite!’ Mas os grandes, como Malcolm Dome e outros, defenderam a banda. Por isso, baptizámos o álbum “Hail To England”.»

Atingindo o nº 83 na tabela de álbuns do Reino Unido, os Manowar resolveram atingir fortemente esse território com a digressão Spectacle Of Might, de 1984, ao darem concertos pelo continente antes de 11 datas na Inglaterra, rebentando com improváveis baluartes do metal, como Bournemouth, Middlesbrough e St. Albans.

Um boato bizarro afirma que os Manowar começaram a digressão como banda de suporte aos Mercyful Fate, mas o alinhamento mudou quando os Manowar obtiveram a melhor reacção do público. Ross fica contente por poder desmascarar isto com a intensidade tagarela de Nova Iorque.

«Seríamos sempre os cabeças-de-cartaz», diz. «Acontece que os Mercyful Fate eram os nossos convidados especiais. Chegámos a Inglaterra e tínhamos os nossos novos equipamentos – chamámos-lhe “Wall of Voodoo”. Era tão grande e tão novo que brilhava como um navio de guerra novinho em folha! Eles entram na sala e dizem: ‘Podemos tocar com isto?’ E perguntámos: ‘Er, podemos foder a tua esposa?’»

Ross fica em silêncio e espera que paremos de rir. «Quero dizer… não! Estão a ver? Demos tudo nos últimos anos para chegar a este ponto, gastámos o dinheiro avançado dos álbuns, despesas e stress, e íamos dar a nossa “Wall of Voodoo” de mão beijada? O Joey disse: ‘Vão buscar todo o equipamento que tiverem e toquem com isso.’»

Depois de darem um concerto com uma produção reduzida, Ross diz que os Mercyful Fate nunca mais apareceram. «Nunca nos telefonaram a dizer que estavam a desistir, nunca disseram aos agentes ou promotores, apenas saíram da digressão depois daquela primeira noite. Esta é a verdade. E eles disseram – disseram», enfatiza Ross, ainda parecendo genuinamente surpreso, 36 anos depois, «que nós lhes negámos luzes e sons. Isso foi uma coisa má de se dizer, porque todos os redactores de Inglaterra estavam naquele primeiro concerto, e eles disseram: ‘Isso é treta! Nós estávamos lá! Eles tinham luzes e som completos, eles simplesmente não vos concederam os elogios da audiência.’ O que não tem nada a ver com eles. É preciso ganhar isso».

Respirando fundo, o tom de Ross suaviza. «Não tenho nada contra eles, adoro a banda», diz. «Sou amigo dos dois guitarristas, o Mike Denner e o Hank Shermann, eles são óptimos. Perguntei-lhes: ‘O que vos aconteceu naquela noite?’ Eles disseram: ‘Ah, não sei…’ Pois, estou a ver. Tudo bem, nós sabemos…!»

Aquela “Wall of Voodoo” era nitidamente muito especial – foi a pilha super-poderosa que fez a banda entrar no Guinness Book of World Records de 1984 como performance mais barulhenta do mundo, substituindo o recorde de 1976, dos The Who. «Pois!», exclama Ross. «O nosso volume em palco era algo como 135 decibéis. “Divine Wind” é o que chamamos ao som que produzimos. Mas é muito limpo e claro, ao contrário do som dos Motörhead – o deles era muito distorcido, está tudo nos monitores. Vozes e bateria eram as únicas coisas no nosso sistema de monitores. Sem guitarras ou baixo, que eram muito barulhentos!»

Uma das músicas mais importantes de “Hail To England” é “Army Of The Immortals”, a ode de Ross à crescente legião de fãs de Manowar, já desenvolvendo o tipo de compromisso apaixonado que mais tarde se manifestaria como o culto ao Manowarrior. Havia o fervor motivador e unificador da música, exemplificando a filosofia dos Manowar, de se fazer com que uma base de fãs díspar e dispersa se sentisse parte de uma irmandade mundial.

«Dissemos que não importava de que país se era, de que cor ou raça – se gostas de Manowar, estamos unidos pelo sangue, unidos pelo metal», explica. «Agora, todo o género é assim. Existem bandas em África, há metal na Mongólia, somos todos irmãos e irmãs, e pregamos isso nos nossos concertos. Metal é o que nos une – os Manowar foram, definitivamente, os primeiros a dizê-lo.»

Embora os dois primeiros álbuns da banda não tenham sido nada desleixados, “Hail To England” foi a viragem, encontrando-se a banda na sua maior masculinidade e peso. Ross está profundamente ciente de quão influente este álbum se provou ao longo dos anos. «Nós inventámos isto e chamaram-lhe power metal», observa. «Todos os músicos que seguiram Manowar desde o início, todos se tornaram bem-sucedidos. Amon Amarth, Hammerfall, Blind Guardian, Sabaton – Sabaton, meu deus, eles adoram-nos, quero dizer, devoção!»

Joakim Brodén, dos Sabaton, comprou “Hail To England” com base na capa, e não ficou decepcionado. «Eu nunca tinha ouvido a banda antes, mas porra, quão pesado e poderoso me soou», diz.

Há um orgulho e uma gratidão na voz de Ross quando recorda com carinho a potência desta unidade (complementada pelo vocalista Eric Adams e pelo baterista Scott Columbus). Actualmente em tours com a sua homónima banda a solo, Ross já regressou da digressão pela Australásia, onde tocou “Hail To England” integralmente.

«É um álbum de topo no metal, um dos melhores álbuns de todos os tempos», entusiasma-se. «Aqueles seis primeiros discos são intocáveis. Acho que nunca mais nenhuma banda de metal o fará novamente.»

Consultar artigo original em inglês.

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