Kabbalah “The Omen”
Reviews 15 de Janeiro, 2021 Beatriz Fontes


Editora: Rebel Waves Records
Data de lançamento: 15.01.2021
Género: stoner/doom metal
Nota: 3.5/5
Uma vibração atávica, enorme e delicada, com uma energia contagiante que crava o nome de Kabbalah na nossa memória.
Avista-se um foco de luz no meio do bosque. Kabbalah é um trio feminino espanhol cuja sonoridade encantadora de um stoner/doom psicadélico enegrecido com contornos Sabáticos nos chega aos ouvidos para nos enfeitiçar. Lançam agora o seu terceiro disco, contando já com três EPs na alçada, uma discografia que, com um começo já vantajoso, nos mostra uma escada ascendente no desenvolvimento e sedimentação do ADN de Kabbalah. “The Omen” evapora-se em algo muito próprio enquanto seguem os passos de um imaginário do oculto bem conhecido, que desempenha um papel importante, perseverante e autodefinido que se sente no resultado do som. Disto traz-nos um disco carregado e com agressividade, mas também suave e melódico, dentro da sua fórmula e da sua mística. O coro de vozes harmonizadas – que estão entre o angelical fúnebre e o enfeitiçador – bate costas com riffs ásperos que aqui criam uma densidade translúcida mas impenetrável. É distópico nas suas letras e nas suas porções de doom – porque se há alguma sonoridade que coincida mais com a perda total de fé na humanidade, terá que ser o doom –, entretanto equilibrado por um psicadelismo nocturno que partilha das mesmas propriedades do fungo no pão de centeio que causou os incidentes de Salem.
“Stigmatized” entra com o passo de um monstro cuja massa faz andar devagar. As vozes mantêm-se numa proximidade íntima, em que os três tons clean se intensificam no reverb que lhes dá a sua dimensão. O som cresce para atingir um clímax dramático, feito do salpicar dos pratos, um coro fúnebre fenomenal e uma tensão inquietante criada pelas guitarras. Quer se fale em produção ou se fale em composição, tudo segue caminho para envolver completamente o ouvinte em tudo o que acontece neste álbum. “Lamentations” e “Labyrinth”, bons exemplos disso e a pender para o bom do cool and creepy, são músicas que criam esta encubadora com uma indulgência constante no charme de harmonias frias e na flutuação das vozes, com uma turbulência suja no balanço das cordas e do cambalear controlado da percussão. Em especial, “Labyrinth” conta com alguns detalhes especialmente quentes e ondulados, sempre a contar com riffs febris e um groove no baixo que faz cara feia. Com mais leveza aparece-nos “Night Comes Near”, feita de dedilhados nebulosos e uma expressão mais lamentosa, em que as vozes ganham o andamento de um cântico.
O peso no som de Kabbalah tem uma violência hipnótica, em que a vontade de causar impacto ganha uma atenção especial, como se vê acontecer na intro e no refrão de “Ceibas”. Faixas como “Liturgy” ou “The Ritual” carregam muita dessa obscuridade e volume no instrumental, e, em especial, “The Ritual” encaminha-nos para um momento de foco total num riff pungente e dominante, que nos é introduzido mais uma vez com o incrível impacto de um punho que não vimos vir na nossa direcção. Kabbalah tem esta tendência parar criar breves momentos transitórios em que o próximo verso atinge a música com o efeito de uma colisão repentina, sem aviso.
Com apenas uma música com uma duração superior a quatro minutos, parece de certa maneira que todo este corpo fascinante de melodias tumulares que levita em toda a sua opacidade nasty vivesse durante mais tempo. E talvez seja só uma expectativa criada pela escolha de género musical, mas há em “The Omen” potência suficiente para que queiramos tirar-lhe mais sumo. De qualquer das maneiras, o encanto está nesta vibração atávica, enorme e delicada, com uma energia contagiante que crava o nome de Kabbalah na nossa memória.
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