Emperor “In the Nightside Eclipse”: o álbum que transformou o género mais maligno do metal
Artigos 21 de Fevereiro, 2021 Metal Hammer

As controvérsias do black metal ameaçaram ofuscar o álbum de estreia dos Emperor, mas ergueu-se para se tornar o disco que abriu a cena amplamente.

A Internet parece pensar que “In the Nightside Eclipse” foi lançado a 21 de Fevereiro de 1994, mas quem quer que lá tenha estado na altura recordar-se-á dos atrasos agonizantes que adiaram o tão esperado LP de estreia dos Emperor durante aquele ano.
O disco só foi lançado em meados de Dezembro de 94 – 17 meses depois de ter sido gravado «sob a sétima lua cheia do ano de 1993» (conforme especificado no álbum) –, no final de um ano fértil de se ficar sem fôlego quanto à nova força ascendente que era o black metal norueguês.
“De Mysteriis Dom Sathanas” de Mayhem, “Hvis Lyset Tar Oss” de Burzum, “Transilvanian Hunger” de Darkthrone, estreias de Gorgoroth e Dimmu Borgir, e os dois primeiros álbuns de Enslaved e Satyricon surgiram durante o tempo que levou “Nightside” a recompor-se.
Depois de incendiarem o underground com a maquete “Wrath of the Tyrant” em 1992 e o EP homónimo em 93, os ainda adolescentes Emperor – com o guitarrista/vocalista/teclista Ihsahn, o guitarrista Samoth, o baixista Tchort e o baterista Faust – tinham muito terreno para lavrar e muito para cumprir.
O produtor do álbum, Eirik “Pytten” Hundvin – o homem do BM norueguês a quem já se devia recorrer após conduzir as gravações de Immortal, Burzum e Mayhem no Grieghallen Studios em Bergen –, verificou as suas notas originais para nos ajudar a identificar as razões do atraso colossal de “Nightside”.
«Examinei os meus arquivos da produção e posso confirmar que a mistura foi complicada», declara Pytten. «Tínhamos um multi-pista analógico de 16 faixas, e ligado a isso por [um dispositivo] SMPTE tínhamos um computador Atari com teclados midi e módulos de som, provavelmente também um gravador digital de oito pistas. Esta configuração consome muito tempo. Para além disso, havia as grandes expectativas de toda a gente em relação ao resultado final e, consequentemente, algumas remisturas das músicas estavam a acrescentar tempo.»
Ihsahn recorda-se de remisturar “The Majesty of the Night Sky «17 vezes antes de ficarmos satisfeitos», e, como Pytten nota, foi uma jornada árdua para a jovem banda – o Grieghallen fica a mais de 300 quilómetros a oeste de Notodden, na região norueguesa de Telemark, a cidade natal dos Emperor.
Pytten confirma que o último dia de masterização foi a 9 de Agosto de 1994, acrescentando: «Aproximadamente duas semanas depois, todas as finanças foram acertadas. Se as minhas notas e memória estiverem correctas, este é o momento altamente aceitável para se liquidar uma factura!»
Para além das meticulosas implicâncias de estúdio, havia outro motivo pouco ortodoxo para o atraso de “Nightside”. Pouco depois de ser gravado, três quartos dos Emperor foram presos devido a uma variedade de crimes de eriçar os cabelos: Faust por homicídio, Samoth por incêndio e Tchort por agressão.
Este quarteto de almas misantrópicas estava posicionado no coração sombrio de um novo fenómeno alarmante: o Inner Circle do black metal norueguês, uma associação informal de músicos que partilhavam da mesma opinião, cuja turbulenta habilidade antissocial rapidamente ficou fora de controlo.
No período entre a gravação e o lançamento de “Nightside”, o guitarrista dos Mayhem, Euronymous, foi assassinado e Count Grishnackh, de Burzum, foi preso pelo crime, e o black metal norueguês cresceu assustadoramente de uma micro-cena regional de culto para um movimento próspero de infâmia internacional.
No entanto, sob toda esta pressão, “Nightside” tornou-se indiscutivelmente a conquista máxima da sua era – uma obra-prima estonteante, assustadora e tempestuosa que ultrapassa os limites de composição, melodia e atmosfera para torná-la possivelmente o artefacto de maior alcance dos primeiros anos do BM nórdico.
A banda nunca teve dúvidas quanto à potência da sua estreia: «Será um monumento na história do black metal», prometeu Samoth em Março de 1994 à excelentemente intitulada zine finlandesa Pure Fucking Hell.
Este fora um momento frenético para o guitarrista – para além de Emperor, as seis cordas de Samoth fortaleceram lançamentos de Arcturus, Satyricon e Gorgoroth, bem como um trabalho de sessão em baixo para Burzum.
«Era o Samoth quem tinha todos os contactos, e eu acompanhei-o!», admite Ihsahn, recordando a natureza incestuosa da cena norueguesa naqueles primeiros tempos. «Na altura, o metal extremo era dominado por bandas suecas e americanas, portanto talvez por sairmos muito, por irmos a concertos, uma identidade norueguesa fora criada. Encaixa-se melhor ao nosso ambiente. “In the Nightside Eclipse” foi muito influenciado por descrições de coisas que se parecem muito com a nossa natureza de Telemark.»
A dramática evocação do lugar no LP foi assinalada pela gatefold do disco – uma abertura panorâmica iluminada pela lua de Kristian “Necrolord” Wåhlin que revela uma gloriosa fotografia de 24 polegadas de um montanhoso fiorde.
A MTV foi à casa de Ihsahn para uma entrevista em 1994. O jovem vestido de preto que estava a ser filmado andava à volta de coníferas, a olhar pensativamente para cascatas e a ruminar sobre «os ventos, as chuvas… as terras devastadas, o vazio, o silêncio…».
Muito mais do que Satanás, a essência unificadora e o ímpeto motivacional de “Nightside” é a paisagem misteriosa e acidentada da terra natal dos Emperor – embora habitada por alguns seres profundamente sobrenaturais.
«Tínhamos uma forte necessidade de expressão, portanto foi fácil canalizar isso para imagens fantasiosas e sons enormíssimos», recorda Ihsahn. «Éramos igualmente inspirados por bandas-sonoras de grandes filmes de fantasia. Começámos com algo épico no primeiro EP “Emperor”, mas era muito óbvio que queríamos fazer algo que fosse simplesmente doutro mundo.»
A auxiliar estava a produção de “Nightside” por Pytten, uma cacofonia opressiva de guitarras farpadas, bateria relâmpago e triunfantes floreados de sintetizador, com efeitos sonoros apocalípticos.
A produção polarizou as opiniões desde o primeiro dia, com alguns a sentirem-se alienados pelo áspero e errático nevão de som e com outros a serem fortemente imersos por uma envolvência enigmática.
«Aahh, é uma pergunta delicada», refere Pytten quando questionado sobre como a sua avaliação do produto final mudou ao longo dos anos. «Com tanto tempo a trabalhar na produção, tantas horas no estúdio, tantas repetições de músicas, tantas tentativas de acertar a música – posso continuar… Tenho de admitir que o meu primeiro sentimento foi de alívio! Mas a maneira como vejo o álbum depois do cansaço me ter deixado é que nunca pensei ‘ah, se ao menos tivesse feito isto em vez de…’. Acho que, quaisquer que sejam as palavras em relação à produção, este é um som captado que tem uma qualidade duradoura. Estou muito orgulhoso do que todos alcançámos.»
A avaliação de Ihsahn após um quarto de século é ainda mais comovente e sincera. «Acho que é a pureza disso», pondera o frontman, considerando por que é que a estreia dos Emperor sobreviveu tão atemporalmente.
«Não tínhamos ambições comerciais, não havia nenhuma para se ter. Parece romântico, mas toda esta música foi feita puramente com motivações artísticas – aquela atitude total, introvertida e norueguesa de guardar as coisas para nós mesmos é que nos permitiu criar algo que ninguém tinha feito. Olho sempre para os álbuns e penso: ‘Ah, podia ter mudado isto.’ Mas depois ultrapassas isso, torna-se tão antigo que simplesmente aprecias por ser uma representação de onde estavas naquele momento. E não foi há apenas 25 anos – é quase como uma outra vida, era basicamente uma criança. Olho para trás e penso: ‘Que privilégio imenso ser capaz de dedicar tanto tempo e atenção a esta coisa chamada música que tanto adoro.’ O “In the Nightside Eclipse” dos Emperor define o subgénero mais maligno do metal e o eu ser capaz de fazer isto durante 25 anos. Que golpe de sorte! É quase paradoxal ser tão grato pelo black metal dada a maldade de tudo…»
Consultar artigo original em inglês.
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