Angelus Apatrida: «Música hostil para tempos hostis»
Entrevistas 31 de Janeiro, 2021 Diogo Ferreira


Vinte anos de existência, um caminho já há muito feito com o apoio da Century Media Records, nome alto do thrash metal espanhol – um belo cartão-de-visita. Neste início de 2021, os Angelus Apatrida regressam aos álbuns, desta vez o sexto e com título homónimo. A Metal Hammer Portugal conversou com o vocalista e guitarrista Guillermo Izquierdo sobre a criação da nova proposta discográfica, a carreira e a posição contra o racismo e fascismo.
«O heavy metal deveria ser uma cena tolerante em relação à união e contra a injustiça. Não entendemos a nossa música sem isso.»
Guillermo Izquierdo
A primeira coisa que temos de
abordar é a criação do álbum. Sabemos que um EP tinha sido
planeado, mas o processo desenvolveu-se até ao LP. Foi a pandemia e
o confinamento que transformou o novo lançamento de Angelus
Apatrida?
Sim, absolutamente. No final de 2019 já tínhamos
algumas músicas inacabadas e muitos riffs prontos, estávamos em
digressão e tínhamos mais planos quanto a isso, sem descanso,
durante todo o ano de 2020. A ideia era gravar um EP em Abril,
lançá-lo antes do Verão e continuar em digressão. Mas veio a
pandemia, portanto todos os planos foram para o caraças…
Continuámos a compor até descobrirmos que tínhamos material
suficiente para um novo álbum.
O álbum é bastante enérgico, do
thrash ao heavy metal, não há tempo para respirar – o que
apreciamos! Quão altos estabeleceram os padrões para este novo
disco?
O principal é que este álbum foi composto, produzido
e gravado durante uma pandemia global em Espanha, lugar atingido mais
fortemente do que outros. Para além de toda a experiência obtida em
digressões, podemos afirmar que temos o álbum mais enérgico,
poderoso, agressivo e violento até agora. Todas as situações
durante o ano passado ajudaram a afiar cada música e cada letra. É
música hostil para tempos hostis.
Disseram o seguinte: «Falamos contra o racismo, o fascismo, a homofobia e essas cenas todas, porque isto não é sobre política, é sobre direitos humanos.» Quanto dessa luta define o teu estilo de vida como banda e como pessoa?
Não entendemos uma sociedade civilizada e democrática se não for contra o racismo, fascismo, homofobia e outro tipo de fanatismo e intolerância. Sempre fomos assim, a nossa música sempre falou sobre isso, e principalmente com tudo o que aconteceu no ano passado e que está a acontecer no mundo de hoje, a cada dia, mais e mais, achamos que é obrigatório continuar a defender os direitos humanos e a falar contra estas coisas. A maioria das bandas e artistas não dizem uma palavra e não se posicionam publicamente quando há uma injustiça porque têm medo de perder fãs e seguidores. Esse comportamento faz com que a cena heavy metal esteja cada vez mais cheia de fanáticos e extremistas. O heavy metal deveria ser uma cena tolerante em relação à união e contra a injustiça. Não entendemos a nossa música sem isso.
«Se és fascista ou racista, ou homofóbico ou outra merda como esta, o teu lugar não é aqui.»
Guillermo Izquierdo
Algumas pessoas costumam dizer:
“Fica-te pela música e pelo teu instrumento, deixa a política de
lado.” Qual é o teu comentário sobre isto?
[risos] Diria:
vai-te f*der. Em primeiro lugar, não falamos de política, não
queremos saber em quem votas e, claro, nunca vamos defender partidos
políticos ou qualquer ideologia em particular. Mas se és fascista
ou racista, ou homofóbico ou outra merda como esta, o teu lugar não
é aqui. Mas ao mesmo tempo faz-me rir – por que é que me devo
ficar pelo meu instrumento? Sou um artista, mas também sou um
trabalhador e um cidadão livre. Pago impostos e sofro com as
decisões dos políticos. O padeiro deve ficar-se pela padaria? Ou o
mecânico limita-se a arranjar carros e deixa de fora a política?
Não faz sentido, c*ralho. De qualquer maneira, não estamos
interessados em política – é tudo sobre questões sociais e
direitos humanos. E sim, gostamos desta música graças à cena
thrash, punk e hardcore – a parte mais crossover do heavy metal. Se
as pessoas estivessem um pouco mais interessadas nisso, a nossa cena
seria muito mais saudável e tolerante.
Vinte anos! Já começa a ser muito
tempo, não? Do que te lembras dos primeiros dias e do impacto ao
assinar com a Century Media Records? Para além disso, a formação
da banda é praticamente a mesma desde sempre – tão raro,
não?
Bem, não acho que seja raro. Somos amigos desde a
infância e crescemos juntos, musical e pessoalmente. Para nós, o
normal é continuarmos os mesmos quatro gajos. Olhando para o
passado, foi um longo caminho, mas realmente passou muito rápido!
Lembro-me de quase todos os concertos, todos os momentos importantes,
todas as gravações, todas as digressões e festivais… Claro que
assinar com a Century Media foi talvez o ponto mais importante da
nossa carreira, e aconteceu há quase 12 anos! Estou muito grato e
orgulhoso por ter mais da metade da minha vida compartilhada com
estes gajos – compartilhámos tantos momentos porreiros e, claro,
vamos fazer pelo menos mais 20!
Vamos imaginar que os Angelus Apatrida foram fundados no início dos anos 80 na Califórnia. Como é que imaginas o cenário?
[risos] Não sei, pá. Às vezes penso em sermos uma banda do final dos anos 80, mas hoje em dia não gostaria, porque já estaríamos muito velhos! Prefiro o tempo que estamos a viver agora. Claro, se acontecesse na Califórnia, nos anos 80, gostaria de ser como Sacred Reich ou Violence!
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